Ícaro Alencar de Oliveira


O Determinismo está justamente tornando o tribunal de Cristo e o grande trono branco uma redundância divina, tendo em vista que, naquela oportunidade, o ser humano estará sendo julgado por aquilo que ele fez, e que seria impossível ter sido feito diferente, se de fato um mundo determinista é o mundo criado por Deus. Não temos como afirmar responsabilidade sem liberdade e é impossível afirmarmos liberdade sem capacidade. Esse é um pensamento determinista foi influenciado por Jonathan Edwards, de que a vontade segue necessariamente a natureza, e este pensamento gera a contradição de um ser humano ser incapaz de fazer algo diferente daquilo que Deus o determinou fazer.

O determinismo torna a prática de determinado pecado um evento inevitavelmente determinado; se é determinado, é determinado por alguém, afinal, não existe evento indeterminado e uma causa é sempre anterior ao seu efeito. Visto que a vontade segue necessariamente a natureza, como afirmam os Calvinistas, a ação pecaminosa apenas pode ser determinada por Deus (ou no máximo permitida, no caso do Calvinismo moderado) e o indivíduo será no último dia julgado por aquilo que ele não podia não fazer, inclusive não ter vindo a Cristo; entretanto, as Escrituras lançam esta culpa sobre os homens, dizendo: “E não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo. 5.24).

Ora, a vontade Divina, segundo as Escrituras é a seguinte “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (IIPed. 3.9); “[Deus] que quer que todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade” (ITm. 2.4). Deus não é visto alegrando-se na condenação de homem algum, pois todos igualmente são indignos, e todos igualmente são alvo da operação Divina para serem alcançados pela salvação, pois “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou” (Jo. 6.29).

É por esse motivo que o conhecimento que Deus tem de eventos contingentes será a resposta à discussão: sua presciência; Deus não estava brincando com os seres humanos a fim de responsabilizá-los pelas ações determinadas por Ele mesmo e posteriormente julgadas condenatórias pelo determinador delas; as ações humanas nascem da vontade livre do agente livre, de maneira que, tendo inclinação e propensão ao pecado, não deixa de ser uma vontade livre cada pecado cometido: cada pecado é um pecado livremente escolhido; semelhantemente é o pecador quando vem à graça; a graça o instiga e o prepara mas não o força.

A vontade gera a ação e a possibilidade de praticar tal ação é liberdade pois, liberdade requer poder para fazer uma determinada ação, não uma ação determinada. É simplesmente absurdo conceber que o homem é coagido a pecar livremente, de maneira que “misteriosamente” o homem é o responsável pela ação praticada e ao mesmo tempo, ele é julgado por ela, sendo ela impossível de ter sido outra.

Lemos nas Escrituras o homem sendo considerado capaz de responder, não à parte da graça, mas induzido por ela (lembre-se, indução não é coação e graça salvadora – acerca da qual lemos na Epístola do Apóstolo São Paulo a Tito: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens” (Tt. 2.11), e ‘todos’ não significa todos os tipos de homens, mas tão somente todos os homens, tal qual lemos nas Escrituras – e a graça também não é a síndrome de Estocolmo), lemos nas Escrituras e brevemente comentamos:

“Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome” (Jo. 1.12); Deus estaria brincando conosco se o termo “receberam” fosse algo do tipo que não recebemos, mas tivemos de receber, conforme postulado pelo Calvinismo. Se Deus não nos julga capazes, embora responsáveis, por qual razão iria Deus ao encontro do homem (observe como o ato inicial é sempre da parte de Deus, e isto é justamente o inverso do pelagianismo de que acusam a nós, Arminianos) falar-lhe após a queda, se este é incapaz de respondê-lo?

Ora se o homem foi capaz de respondê-lo quando da sua condenação, ser-lhe-á igualmente capaz de responder quanto à salvação; se Deus não visse no pecador a capacidade de responder, qual a razão de ser lançada a pergunta Divina: “onde estás?” (Gên. 3.9) Ora, sendo Deus onisciente, por que chamar aquele incapaz de respondê-lo ainda estando ele em pecado? Além disso, lemos que os fariseus “rejeitaram o conselho de Deus” (Luc. 7.30); Jesus Cristo mui solenemente afirmou que “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão” (Jo. 5.25); Estevão acusou ao Sinédrio, dizendo: “vós sempre resistis ao Espírito Santo” (At. 7.51). Além disso, “Se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Luc. 13.3).

Se os homens são incapazes embora responsáveis, é estranho que as Escrituras digam “sem fé é impossível agradar-lhe, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que é galardoador dos que o buscam” (Heb. 11.6). Se seremos recompensados nos céus com galardões, estes galardões, na verdade, não fazem sentido, ou no mínimo, é uma redundância, conforme supradito.

Deixe um comentário

Tendência

Blog no WordPress.com.