(Thomas Ice)

Uma das mais citadas objeções ao pré-tribulacionismo é que este se trata de um novo ensinamento na história da igreja, que só entrou em cena na década de 1830. Muitas vezes, argumenta-se que, se o arrebatamento pré-tribulacional fosse bíblico, teria sido ensinado mais cedo e ao longo da história da igreja. Na última década, foi encontrada uma série de referências anteriores a 1830 de um arrebatamento pré-tribulacional. Aqui está um resumo dessa evidência.

A IGREJA PRIMITIVA

Uma vez que a iminência é considerada uma característica crucial do pré-tribulacionismo por estudiosos como John Walvoord,1 é significativo que os Padres Apostólicos, embora pós-tribulacionistas, ao mesmo tempo, ensinem claramente a característica pré-tribulacional da iminência. Uma vez que era comum na igreja primitiva manter posições contraditórias sem sequer uma consciência de inconsistência, não seria surpreendente saber que sua era apoia ambas as visões. Larry Crutchfield observa: “Essa crença no retorno iminente de Cristo no contexto da perseguição em curso nos levou a rotular amplamente os pontos de vista dos primeiros pais, ‘intratribulacionismo iminente’”.2

Expressões de iminência abundam nos Padres Apostólicos. Clemente de Roma, Inácio de Antioquia, Didaquê, Epístola de Barnabé e O Pastor de Hermas todos falam da iminência.3 Além disso, o Pastor de Hermas fala do conceito pré-tribulacional de escapar da tribulação.

Você tem escapado da grande tribulação em função da sua fé, e porque não duvidou da presença de tal besta. Vá, portanto, e diga aos eleitos do Senhor seus atos poderosos, e diga-lhes que esta besta é um tipo de grande tribulação que está por vir. Se, então, vos preparardes a vós mesmos, e arrependerem-se de todo o seu coração, e voltarem-se para o Senhor, será possível para ti escapar dele, se o seu coração for puro e imaculado, e você gastar o resto dos dias da sua vida em servir O Senhor sem culpa.4

A evidencia do pré-tribulacionismo emerge durante o primitivo período medieval num sermão atribuido a um Efrém, o sírio, mas provavelmente o produto de um estudioso chamado Pseudo-Efrem, intitulado Sermon on the Last Times, the Anti-Christ and the End of the World [Sermão sobre os Últimos Tempos, o Anticristo e o Fim do Mundo].5 O sermão foi escrito algum tempo entre o século IV e VI. O relato do rapto lê-se da seguinte maneira:

Porque será que não rejeitamos todos os cuidados das ações terrenas e nos preparemos para a reunião do Senhor Cristo, para que ele possa nos tirar da confusão, que sobrepõe todo o mundo? […] Porque todos os santos e eleitos de Deus são reunidos, antes da tribulação que está por vir, e levados ao Senhor, para que não vejam a confusão que abalará o mundo por causa dos nossos pecados.

Esta afirmação evidencia uma crença clara de que todos os cristãos vão escapar da tribulação através de uma reunião com o Senhor e é declarado no início do sermão. De que outra forma isso pode ser entendido além de pré-tribulacional? A última vinda de Cristo à terra com os santos é mencionada no final do sermão.

A IGREJA MEDIEVAL

No século V, o amilenismo de Orígenes e Agostinho ganhou o dia na Igreja estabelecida – Oriental e Ocidental. É provável que alguma forma de pré-milenismo persistiu durante toda a Idade Média, mas existiu majoritariamente paralelamente.

Acredita-se que grupos como os Albigenses, os Lombardos e os Valdenses foram atraídos pelo pré-milenismo, mas pouco se sabe dos detalhes de suas crenças, uma vez que os Católicos destruíram suas obras quando foram encontradas. Mas havia pelo menos um que sustentava alguma forma de pré-tribulacionismo, chamado Irmão Dolcino em 1304.

Francis Gumerlock defendeu o arrebatamento do Irmão Dolcino e disse em seu livro: “Os Dolcinianos realizaram defendiam uma teoria de arrebatamento pré-tribulacional semelhante à do dispensacionalismo moderno”.6 A razão pela qual Gumerlock acredita que o Irmão Dolcino e os Irmãos Apostólicos ensinaram o Pré-tribulacionismo é encontrada na seguinte declaração:

“Mais uma vez [Dolcino acreditava e pregava e ensinava] que, dentro desses três anos, o próprio Dolcino e seus seguidores pregarão a vinda do anticristo. E que o Anticristo estava entrando neste mundo dentro dos limites dos ditos três anos e meio; e depois de ter vindo, então ele [Dolcino] e seus seguidores seriam deslocados para o Paraíso, no qual jaz Enoque e Elias. E, desta forma, serão preservados ilesos da perseguição do anticristo. E que então, os próprios Enoque e Elias, iriam descer sobre a terra com o propósito de pregar [contra] o Anticristo. Então eles seriam mortos por ele ou por seus servos, e assim o Anticristo reinaria por um longo tempo. Mas, quando o Anticristo estiver morto, o próprio Dolcino, que então seria o Papa Sagrado e seus seguidores preservados, desceriam sobre a terra e pregariam a fé correta de Cristo a todos e converteriam os que estiverem vivendo então para a verdadeira fé de Jesus Cristo”.7

A IGREJA REFORMADA

Depois de mais de mil anos de supressão, o pré-mlenismo começou a ser revivido como resultado de pelo menos quatro fatores. No final dos anos de 1500 e no início dos anos de 1600, o pré-milenismo começou a retornar como um elemento dentro do protestantismo convencional. Com o afloramento da interpretação bíblica durante o Período tardio da Reforma, os intérpretes pré-milenistas começaram a abundar ao longo do Protestantismo e também fez desenvolver sub-questões como o arrebatamento.

Alguns começaram a falar sobre o arrebatamento. Paul Benware observa:

Pedro Jurieu em seu livro Approaching Deliverance of the Church [Aproximada Libertação da Igreja] (1687) ensinou que Cristo viria no ar para arrebatar os santos e retornar ao céu antes da batalha de Armagedon. Ele falou de um arrebatamento secreto antes de Sua chegada em glória e julgamento no Armagedon. O comentário de Philip Doddridge sobre o Novo Testamento (1738) e o comentário de John Gill sobre o Novo Testamento (1748) usam o termo arrebatamento e falam como iminentes. É claro que estes homens acreditavam que esta vinda precederá a descida de Cristo para a Terra e o tempo do julgamento. O objetivo era preservar os crentes do tempo do julgamento. James Macknight (1763) e Thomas Scott (1792) ensinaram que os justos serão levados para o céu, onde serão protegidos até que o tempo do julgamento termine.8

Frank Marotta, um pesquisador dos irmãos, acredita que Thomas Collier, em 1674, faz referência a um arrebatamento pré-tribulacional, mas rejeita a visão,9 mostrando sua compreensão de que tal visão estava sendo ensinada no final do século XVII. Há o caso interessante de John Asgill, que escreveu um livro em 1700 sobre a possibilidade de trasladação (i.e., arrebatamento) sem ver a morte.10

Talvez a referência mais clara a um arrebatamento pré-tribulacional, se não o sistema mais desenvolvido, antes que Darby viesse de Baptist Morgan Edwards (fundador da escola Ivey League, Brown University) que via um arrebatamento distinto três anos e meio antes do início do milênio.11 A descoberta de Edwards, que escreveu sobre suas crenças pré-tribulacionais em 1744 e depois as publicou em 1788, é difícil de descartar.12 Ele ensinou o seguinte:

II. A distância entre a primeira e segunda ressurreição será um pouco mais de mil anos.

Eu digo, um pouco mais –, porque os santos mortos serão levantados, e os vivos transformados até Cristo “aparecendo no ar” (ITes. iv. 17); e isso será cerca de três anos e meio antes do milênio, como veremos a seguir: mas ele e eles permanecerão no ar todo esse tempo? Não: eles ascenderão ao paraíso, ou para algumas dessas “moradas na casa do Pai” (João xiv.2), e desaparecerão durante o período falado. A intenção desse retiro e desaparecimento será julgar os santos ressuscitados e transformados; “porque já é tempo que começe o julgamento”, e será “pela casa de Deus” (IPed. iv. 17) […] (p.7; a ortografia de todas as citações de Edwards foi modernizado).

CONCLUSÃO

Ouvi falar de outro estudioso que está lendo muitos manuscritos latinos de documentos anteriormente inéditos que ele encontrou uma série de declarações de arrebatamento pré-tribulacional anteriormente desconhecidas da cristandade do século XIX. Ele está planejando publicar seu material em alguns anos. O que essas declarações de rapto anteriores a Darby provam, se nada mais, é que, de fato, outros viram o arrebatamento ensinado nas Escrituras da mesma forma que os pré-tribulacionistas em nossos dias ensinam. Assim, o argumento de que ninguém jamais ensinou o pré-tribulacionismo até J. N. Darby em 1830 não é historicamente verdadeiro e está cada vez mais claro a cada ano que passa. Maranatha!

Fonte: <http://www.pre-trib.org/articles/view/brief-history-of-rapture

Traduzido em português por Ícaro Alencar de Oliveira. Rio Branco, Acre. 15/03/2018

NOTAS:

  1. John F. Walvoord, The Blessed Hope and the Tribulation [A Bendita Esperança e a Tribulação] (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1976), pp. 24-25. ↩︎
  2. Larry V. Crutchfield, “The Blessed Hope and the Tribulation in the Apostolic Fathers” [A Bendita Esperança e a Tribulação nos Pais Apostólicos] em Thomas Ice & Timothy Demy, editores, When The Trumpet Sounds [Quando a Trombeta Soar] (Eugene, OR: Harvest House Publishers, 1995), p. 103. ↩︎
  3. Crutchfield, “The Blessed Hope and the Tribulation in the Apostolic Fathers” [A Bendita Esperança e os Pais Apostólicos], pp. 88-101. ↩︎
  4. The Shepherd of Hermas [O Pastor de Hermas] 1.4.2. ↩︎
  5. Para mais informação sobre esta material, ver Timothy J. Demy e Thomas D. Ice, “The Rapture and an Early Medieval Citation” [O Arrebatamento e uma Citação Medieval], Bibliotheca Sacra (Vol. 152, No. 607; Julho-Set. de 1995), pp. 306-17. ↩︎
  6. Francis X. Gumerlock, The Day and the Hour: A Chronicle of Christianity’s Perennial Fascination with Predicting the End of the World [O Dia e a Hora: Uma Crônica da Cristã Fascinação Perene com a Predição do Fim do Mundo] (Powder Springs, GA: American Vision, 2000), p. 80. ↩︎
  7. A tradução que Gumerlock fez do texto latino em Gumerlock, “A Rapture Citation” [Uma Citação do Rapto], pp. 354-55.  ↩︎
  8. Paul N. Benware, Understanding End Times Prophecy: A Comprehensive Approach [Entendendo a Profecia do Fim dos Tempos: Uma Abordagem Compreensiva] (Chicago: Moody Press, 1995), pp. 197-98. ↩︎
  9. Frank Marotta, Morgan Edwards: An Eighteenth Century Pretribulationist [Um Pré-Tribulacionista do Século XVIII] (Morganville, N.J.: Present Truth Publishers, 1995), pp. 10-12. ↩︎
  10. O título inteiro da obra de Asgill é o seguinte: An argument proving, that according to the covenant of Eternal Life revealed in the Scriptures, Man may be translated from hence into that Eternal Life, without passing through Death, although the Human Nature of Christ himself could not be thus translated till he had passed through Death [Um Argumento Provando que, de Acordo com a Aliança da Vida Eterna Revelada nas Escrituras, o Homem pode ser Trasladado Daqui para a Vida Eterna, sem passar pela Morte, Embora a própria Natureza humana do próprio Cristo Não poderia ser assim Trasladada Até que Ele Tivesse Passado pela Morte]. ↩︎
  11. Marotta, Morgan Edwards. ↩︎
  12. Morgan Edwards, Two Academical Exercised on Subjects Bearing the following Titles; Millennium, Last-Novelties [Dois Exercícios Acadêmicos sobre Assuntos que Possuem os Seguintes Títulos; Millennium, Últimas Novidades] (Philadelphia: self-published, 1788). ↩︎

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