Por A. Hhembd, Macs
Reformation International Theological Seminary
Consultor à Sociedade Bíblica Trinitariana
O Dr. Kurt Aland é talvez o mais reconhecido crítico textual bíblico do séc. XX. Nascido em Berlim, em 1915, morreu em Münster / Westphalia, em 1994. As mais conhecidas versões inglesas do Novo Testamento – a Revised Standard Version (RSV), a The New American Standard Version (NASV), a New International Version (NIV) e a English Standard Version (ESV) [em inglês; em português, podemos citar a Almeida Revista e Atualizada (ARA); a Almeida Século 21 (A21); Almeida de Acordo com os Melhores Textos (AMT); Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH); Nova Bíblia Viva (NBV); Nova Versão International (NVI); Nova Versão Transformadora (NVT), etc.] – são todas baseadas em e, na maior parte, traduzidas a partir da obra do Dr. Aland. Estas traduções utilizam como seus textos principais (com seu aparato crítico, e leituras alternativas) a versão do Novo Testamento Grego das Sociedades Bíblias Unidas, de cuja versão o Dr. Aland constitui-se principal editor. De fato a 3ª edição da SBU (1983) virtualmente é a mesma que a própria 26ª edição do texto de Nestle-Aland: tal era sua influência sobre o texto da SBU.[1]
A 26ª edição do grego Nestle-Aland, e a edição de 1966 e 1983 dos textos gregos da SBU, diferem amplamente do Texto Recebido comum, o qual foi usado por todas as grandes traduções da Reforma [como a Bíblia de Almeida], incluindo a Versão Autorizada em inglês (também conhecida em algumas partes do mundo como a ‘King James Version’). Portanto, as versões traduzidas a partir deste novo texto ‘crítico’, difere significativamente da nossa Almeida Corrigida Fiel, igualmente.
No presente, a NVI e a ESV estão varrendo as igrejas evangélicas dos Estados Unidos e Bretanha. Assim, os modernos congregados estão sendo profundamente influenciados pelo texto grego de Aland. Isso ocorre porque os próprios versículos que os congregados modernos estão lendo em suas Bíblias refletem as visões teológicas e textuais do Dr. Aland, que fundamentam suas escolhas de leituras, e leituras variantes para cada versículo no grego original, a partir do qual essas novas versões foram traduzidas.
No entanto, mui poucos congregados conhecem o nome do Dr. Kurt Aland. Muitos ministros conhecem – o texto da Nestle-Aland é aquele que eles compram quando estão no seminário teológico (como é exigido para os alunos do Seminário Teológico de Westminster). Eles ouviram em suas aulas de crítica textual sobre as proezas do Dr. Aland enquanto acadêmico. No entanto, mui poucos ministros sabem quais são as visões teológicas do Dr. Aland sobre a inerrância e infalibilidade das Escrituras.
Chegamos então ao ponto deste artigo, a saber, mostrar aos leitores preocupados quais são as visões teológicas de Kurt Aland a respeito da inspiração bíblica, inerrância e infalibilidade.
Mas, primeiro, devemos estabelecer algumas premissas fundamentais. Este artigo é a revisão de um crente bíblico, e sem nenhuma vergonha. Consequentemente, não hesitamos em afirmar que, se quisermos entender o texto do Antigo e do Novo Testamento, devemos saber o que a Bíblia diz de si mesma. E assim, afirmamos que:
Devemos crer que a Bíblia é a inspirada e inerrante Palavra de Deus, porque a própria Bíblia diz isso.
Devemos crer que Deus preserva Sua Palavra, por Seu Espírito Santo, na linhagem de Sua verdadeira Igreja – novamente, porque a Bíblia diz isso.
Devemos crer que a Bíblia é a inspirada e inerrante Palavra de Deus, porque a Bíblia diz isso.
2Timóteo 3:16,17 – Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Provérbios 30:5 – Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele.
Quanto da Escritura é inspirado, realmente inspirado por Deus? “Toda a Escritura”. “Toda a Escritura é divinamente inspirada”. A palavra grega original para “inspirada” significa “soprado por Deus”. Toda a Escritura é soprada por Deus – cada palavra dela. Consequentemente, toda a Escritura é tão pura quanto o próprio Deus. Nenhuma corrupção permanente pode entrar nela. Embora erros tenham entrado em algumas cópias dos textos na língua original, embora os hereges tenham até mesmo mutilado algumas cópias, ainda assim, na boa Providência de Deus, pelo Espírito Santo, a verdadeira Igreja sempre foi capacitada para recuperar a verdadeira leitura das cópias.
Porque a Escritura é soprada por Deus, o homem de Deus é “perfeito” ou “completo”. Ele é completo no sentido de que não precisa de nenhuma outra referência. Obviamente, ele não é perfeito sem pecado: “… não há homem que não peque” (1Reis 8:46). Mas ele é “perfeito” neste sentido: ele está perfeitamente equipado com tudo o que ele precisa saber, deste lado da eternidade, para equipá-lo para seu ministério neste mundo – de modo que, como dissemos, ele não tem necessidade de nenhuma outra referência. Na verdade, as únicas outras referências que ele pode querer considerar seriam bons comentários sobre a própria Escritura, para ajudá-lo a entender melhor a Escritura. Mas mesmo esses comentários o homem de Deus leria em subordinação à própria Escritura inspirada. Oh, o homem de Deus é completo em seu ser completamente provido pelas totalmente inspiradas palavras de Deus!
O que torna o homem de Deus completo e perfeitamente equipado para toda a boa obra é a inspiração verbal e plenária das Escrituras. Se a Escritura deixa de ser inspirada e totalmente inspirada em cada uma de suas palavras, então ela não é mais confiável ou proveitosa para a doutrina, para a repreensão, para a correção, para a instrução na justiça. O próprio atributo da Escritura que a torna confiável e proveitosa para essas coisas é sua inspiração plenária, sua pureza, ser “soprada por Deus”.
Consequentemente, a Escritura, na verdade toda a Escritura, é soprada e inspirada por Deus permanentemente. A Escritura, cada palavra dela, permanece proveitosa para a doutrina, para a repreensão, para a correção, para a instrução em justiça: portanto, também é inspirada permanentemente. Apesar de ter sido copiada por homens, apesar de falhas e erros terem sido introduzidas em algumas das cópias, ainda assim, na boa Providência de Deus pelo Espírito Santo, a verdadeira Igreja sempre foi capaz de recuperar as leituras originais, de modo que ainda tivesse a inspirada Palavra de Deus, infalível e inerrante.
Pode haver diferenças de grafia ou de estilo em algumas das palavras ou em suas formas nos manuscritos presentes, mas as palavras essenciais, em todos os seus significados, ainda estão lá – as palavras inspiradas e inerrantes de Deus. O Espírito Santo, na Igreja, tem ajudado a verdadeira Igreja a sempre recuperar e manter a verdadeira leitura (Isaías 59:21).
E quão puras são as Palavras de Deus? Totalmente puras. “Toda palavra de Deus é pura”, diz Provérbios 30:5. “Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele”. Cada palavra de Deus é pura. Permanece pura. É pura, pela boa Providência de Deus, preservando a inspirada Palavra de Deus, para o homem de Deus, de modo que ele não precise recorrer a nenhuma outra obra – de modo que por ela, ele possa ser proveitoso para toda boa obra. A boa Providência de Deus manteve toda palavra de Deus pura.
“escudo é para os que confiam nele”, diz Provérbios 30:5. Por quê? Porque “Toda a palavra de Deus é pura”. Tire a pureza de cada palavra, e Deus não é mais um escudo para os santos.
Não devemos duvidar da pureza da Palavra de Deus, nem duvidar de Sua fidelidade à aliança para preservá-la. Aquele que não pode mentir promete preservar Sua Palavra; Ele promete fazê-lo exatamente nessa mesma Palavra. “Toda a Escritura é soprada por Deus”. “Toda palavra de Deus é pura”. Como nos diz Isaías 59.21, as palavras inspiradas de Deus, todas elas, serão preservadas na linhagem da verdadeira Igreja, para sempre.
Devemos crer que Deus preserva Sua Palavra, pelo Seu Espírito, na linhagem da verdadeira Igreja
Isaías 59:20-21 – E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o Senhor. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre.
O Senhor diz: “esta é a minha aliança com eles”. Com quem? Com aqueles que “em Jacó se converterem da transgressão”. Esses seriam aqueles que conhecem o “arrependimento para a vida” – aquela obra salvadora do bendito Espírito Santo – pelo Espírito Santo, convencendo-os do pecado, da justiça e do juízo, e iluminando suas mentes de modo salvador com o conhecimento do bendito Redentor que tem veio por eles. Com estes, e somente estes, Deus faz Sua aliança. Ele envia o Redentor a Sião, por eles, e somente por eles.
E o que é essa aliança com eles? A aliança é que o espírito que está sobre eles e as palavras que estão nas bocas deles não sairão da boca deles, nem da boca de sua descendência, nem da descendência de sua descendência. Por quanto tempo? “para sempre”.
O Senhor faz um pacto com Sua Sião, com aqueles que em Jacó abandonaram sua transgressão. Seu Espírito não se afastará deles; nem as Suas Palavras. Deus preservará todas as Suas palavras para eles; “Toda palavra de Deus é pura”. Por quê? Para que Ele seja um escudo para os Seus santos, permanentemente por Sua Palavra. Deus manterá toda a Sua Palavra, as Escrituras de nossa salvação, inspiradas. Por quê? Para que o homem de Deus seja perfeito, para que seja completo, para que esteja perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Na verdade, tal mesmíssima promessa é por causa do Redentor, mencionada em Isaías 59:20, que é Cristo Jesus nosso Senhor, o Desejado de todas as nações, Aquele que vem a Sião. Por causa Dele, Deus faz esta aliança maravilhosa. De fato, vemos em Hebreus 9:19 que Moisés aspergiu não apenas todos os artigos do tabernáculo e do povo, mas sim, até o próprio livro da Lei, a Palavra de Deus, com o sangue. Hebreus 9:19 diz: “Porque, havendo Moisés anunciado a todo o povo todos os mandamentos segundo a lei, tomou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã purpúrea e hissopo, e aspergiu tanto o mesmo livro como todo o povo”.
Moisés aspergiu sobre o livro e o povo. Por quê? Porque isso prefigurou como o sangue de Cristo seria aspergido tanto sobre o povo de Deus quanto sobre as próprias palavras de Deus que Deus usaria para guardá-los. Em outras palavras, Cristo comprou Seu povo e as palavras de Deus por Seu precioso sangue. Quando o sangue de Cristo deixa de ser eficaz, o povo de Deus pode ser perdido. Quando o sangue de Cristo não estiver mais vivo e quente, a pureza das palavras de Deus será perdida.
Não, seja jamais assim! O que quer que o sangue de Cristo toque, ele obtém. O sangue de Cristo comprou a pureza de todas as palavras de Deus em todos os tempos, para ti, para mim, se apenas crermos.
Agora, com quem essa promessa é feita? Com aqueles que em Jacó abandonaram a transgressão, e com sua descendência, e a descendência de sua descendência, para sempre. O Espírito continuará com eles. A eficácia do sangue de Cristo continuará com eles. Pela aliança deste sangue e pela operação do Espírito Santo, esta verdadeira Igreja será capaz de discernir as palavras de Deus em todos os tempos; e pela boa Providência de Deus todas as Suas palavras permanecerão com eles.
E, portanto, devemos olhar para os textos na língua original que foram usados pela histórica Igreja verdadeira.
O que devemos buscar em uma crítica textual
Quando avaliamos o trabalho de um crítico de texto – alguém que compila um texto das línguas originais para a Bíblia – devemos buscar um homem que creia nas coisas que acabamos de discutir. Ele deve crer que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque “toda palavra de Deus é pura”. Ele deve crer que Deus prometeu preservar aquela Palavra pura, em todas as eras. Ele também deve crer que Deus fará isso na linhagem da verdadeira Igreja.
Um exame das opiniões do Dr. Kurt Aland sobre a inspiração da Bíblia
Pode ser bastante difícil encontrar qualquer coisa que mostre abertamente os pontos de vista do Dr. Aland sobre a inspiração, a inerrância e a infalibilidade das Escrituras. No entanto, existem três obras dele pouco conhecidas que são mais reveladoras, duas obras relativamente antigas, escritas em 1961 e 1962, e uma obra posterior, em 1985.
Abordamos primeiro os dois trabalhos anteriores. Um deles é intitulado The Problem of Anonymity and Pseudonimity in Christian Literature of the Frist Two Centyries [O Problema do Anonimato e do Pseudonimato na Literatura Cristã dos séculos I e II], escrito em 1961.[2] Nesse livreto, o Dr. Aland nega a autoria apostólica dos Quatro Evangelhos, das Epístolas Católicas, das Epístolas Pastorais e dos Hebreus. A outra obra é intitulada The Problem of the New Testament Canon [O Problema do Cânon do Novo Testamento], escrita em 1962.[3] Nesta obra, o Dr. Aland expressa suas dúvidas quanto à canonicidade de vários livros do Novo Testamento.
Agora, devemos interpor o seguinte. Com respeito à autoria apostólica dos Quatro Evangelhos, esses livros em seus títulos começam “O Evangelho de Mateus” ou “O Evangelho de Marcos” e assim por diante. Embora alguns possam questionar se os títulos são inspirados per si, ainda não podemos negar que os títulos de todos os manuscritos gregos completos dos livros do Novo Testamento, remontando aos primeiros tempos, atribuem a autoria dos Evangelhos a Mateus, Marcos, Lucas e João, assim como todos os Pais da Igreja, desde os primeiros tempos da Igreja. (Para obter mais detalhes sobre as variações que existem nos cabeçalhos, e ainda como todos eles atribuem autoria aos homens, o autor remete o leitor para o excelente trabalho de F. H. A. Scrivener, A Plain Introduction to the Criticism of the New Testament [Uma Simples Introdução à Crítica do Novo Testamento], 1,65-71).[4] Assim, não há realmente nenhum manuscrito ou evidência patrística, exceto mera conjectura, que poderia merecer o questionamento de Aland sobre quem os escreveu. Mas, inquestionavelmente, um homem que duvida da canonicidade de vários livros da Bíblia – especificamente, 2 Pedro, Tiago, 1 e 2 João e Judas – não pode crer na inerrância da Bíblia. Como pode a Bíblia ser infalível, se ela contém vários livros que não lhe pertencem?
Pode-se perguntar: “mas ‘O Problema do Cânon do Novo Testamento’ foi escrito em 1962. O Dr. Aland alguma vez renunciou a esses pontos de vista? E da mesma forma com ‘O Problema do Anonimato e do Pseudonimato’. Isso foi escrito em 1961. Aland renunciou aos seus pontos de vista?”
Não, ele não o fez. Na verdade, ele teve ampla oportunidade de renunciar a esses pontos de vista em seu livro muito posterior intitulado A History of Christianity [Uma História do Cristianismo], publicado em alemão em 1980 e em inglês em 1985.[5] Neste livro, Aland discute suas teorias sobre as origens e a evolução do texto do Novo Testamento, incluindo o estabelecimento do Cânon e a autoria apostólica dos Evangelhos, as Epístolas Católicas e Hebreus. No entanto, ele não diz nada nessa obra para renunciar a seus pontos de vista anteriores.
Pelo contrário, ele os confirma com cautela, até mesmo acrescentando pontos de vista da alta crítica e de modo chocante desdenhoso, às epístolas católicas – Tiago, Judas, 1 e 2 Pedro e 1, 2 e 3 João. Discutiremos o que ele diz em A History of Christianity no final deste artigo.
Negar a canonicidade de certos livros da Bíblia é certamente o mais flagrante de seus erros. Pois isso de fato é uma negação da inspiração plenária verbal da própria Escritura. Por esse motivo, começaremos abordando o trabalho do Dr. Aland sobre o Cânon. Depois disso, abordaremos o que ele diz em The Problem of Anonymity and Pseudonymity in Christian Literature of the First Two Centuries. A seguir, trataremos do que ele diz em A History of Christianity. Finalmente, no final deste artigo, avaliaremos a validade do trabalho do Dr. Aland, à luz das Escrituras, especificamente, Isaías 59:20-21.
Prosseguimos agora para examinar The Problem of the New Testament Canon [O Problema do Cânon do Novo Testamento].
O Problema do Canon do Novo Testamento
No início desta obra, Kurt Aland escreve o seguinte: “Este folheto incorpora o texto de uma palestra escrita para o Segundo Congresso Internacional de Estudos do Novo Testamento que se reuniu na Christ Church, Oxford, em setembro de 1961”.[6] O panfleto, então, é uma palestra que o Dr. Aland proferiu em uma convenção mundial de estudiosos do Novo Testamento.
Apenas o título da obra já é o suficiente nos deixar de cabelo em pé. O problema do Cânon do Novo Testamento? Que “problema”?
Para o leitor não familiarizado com o termo, “cânon” significa a lista de livros que devem ser incluídos no Novo Testamento. Neste folheto, o Dr. Aland está levantando a questão de se novos livros não incluídos na Bíblia deveriam ser incluídos, e também se os livros agora incluídos deveriam ser excluídos. Na conclusão de seu folheto, ele não defende a inclusão de nenhum livro novo, mas defende seriamente que consideremos abandonar 2Pedro, Hebreus, Apocalipse, Judas e 2 e 3 João.
Afirma do Dr. Aland nas páginas 24-25:
Apesar de todas as imperfeições e incertezas que cercam a formação do cânon, devemos expressar nossa crença de que a decisão da Igreja primitiva não pode ser melhorada por qualquer extensão. Não se pode dizer de um único escrito preservado para nós desde o período inicial da Igreja, fora do Novo Testamento, que pudesse ser apropriadamente adicionado hoje ao cânon: uma revisão do cânon do Novo Testamento só seria possível pela supressão do que foi então declarado canônico, não estendendo o cânon em qualquer direção de nossa escolha. (ênfase nossa)
Em outras palavras, ele se apresenta como um conservador ao dizer com certa “cautela” que não devemos adotar nenhum livro novo. No entanto, diz ele, podemos considerar rejeitar alguns livros. Posteriormente, ele expressou sua opinião de que as epístolas de Inácio superam 2 e 3 João, Judas e até 2 Pedro, sugerindo assim, nas páginas 26–27, que 2 e 3 João, Judas e 2 Pedro são candidatos à exclusão. Ele diz:
O único grupo entre os Pais Apostólicos que, por seu conteúdo e autoridade espiritual, se elevam muito acima da média, são as Epístolas de Inácio. Certamente elas não podem ser comparados às epístolas paulinas, nem mesmo com 1 Pedro e 1 João. Mas [as epístolas de] Judas, 2 e 3 João, por exemplo, até mesmo 2 Pedro, são claramente superadas por elas. [ênfase nossa]
Em outro lugar, ele expressa suas dúvidas quanto a real canonicidade de Hebreus e Apocalipse (páginas 10-13) por causa de sua aceitação relativamente tardia – a Igreja Oriental aceitando Hebreus e a Igreja Ocidental aceitando Apocalipse – embora Atanásio tenha aceitado ambos. Diz o Dr. Aland:
O quinto estágio de desenvolvimento dura até o séc. III e início do século IV […] com respeito a Hebreus e o Apocalipse, o Oriente e o Ocidente seguem caminhos separados: a Igreja Oriental reconhece os hebreus e rejeita o Apocalipse, enquanto a Ocidental faz exatamente o contrário e, de fato, cada área com surpreendente unanimidade. [p. 10]
O Dr. Aland, então, na pág. 30, refere-se ao triste questionamento de Lutero sobre os livros de Hebreus, Tiago e Apocalipse, implicando assim que uma revisão deve ser feita por concílios ecumênicos modernos para saber se esses livros não devem ser descartados também.
Antes de continuarmos, devemos considerar por um momento, “Qual é a visão ortodoxa do Cânon?”
A visão ortodoxa da formulação do Cânon
A visão ortodoxa da formulação do Cânon é maravilhosamente resumida no famoso livro do Dr. Edward Freer Hills, The King James Version Defended [A Versão King James Defendida]. Diz o Dr. Hills:
Depois que os livros do Novo Testamento foram escritos, o próximo passo no programa divino para as Escrituras do Novo Testamento foi a reunião desses livros individuais em um Cânon do Novo Testamento para que eles pudessem tomar seu lugar ao lado dos livros do Cânon do Antigo Testamento como a porção conclusiva da santa Palavra de Deus. Vamos agora considerar como isso foi realizado sob a orientação do Espírito Santo.[7] [ênfase nossa]
O Dr. Hills então prossegue explicando como todos os livros do Novo Testamento foram reunidos e aceitos por volta de 200 d.C., exceto 2 e 3 João, 2 Pedro, Hebreus e Apocalipse. Mas então ele mostra como, no século IV, também esses livros eram universalmente aceitos e questionados por mui poucos; e assim o cânon foi estabelecido, decidido e reconhecido, de uma vez por todas.
Observe, também, que Hills menciona especificamente o papel do Espírito Santo em guiar a Igreja infalivelmente, ao longo do tempo, a essas conclusões.
E assim, a visão ortodoxa é que o cânon do Novo Testamento foi totalmente estabelecido no século IV, para nunca mais ser questionado. Sim, houve um período de certo fluxo, embora a maioria dos livros fosse unanimemente aceita no final do século II d.C.
Até certo ponto, as perseguições romanas e os martírios de muitos milhares de santos sem dúvida limitaram a capacidade da Igreja de minuciosamente revisar os livros, bem como limitaram a capacidade deles de reunir-se em sínodos ecumênicos (ou seja, ‘ortodoxos do mundo inteiro’) para chegar a uma aceitação plena e universal dos livros canônicos. No entanto, o Espírito Santo gradualmente trabalhou na verdadeira Igreja de modo que, por volta do século IV d.C., a aceitação de nosso presente cânon era universal, para não ser contestado novamente.
Na verdade, o Cânon deve ter sido estabelecido. Por quê? Porque, a menos que os livros da Bíblia sejam conhecidos, como podemos saber qual é a Palavra de Deus em que devemos crer, e quais palavras são de fato as palavras infalíveis e inerrantes de Deus, que Deus pretende manter pura em todos os tempos? E se não podemos discernir finalmente o que constitui os verdadeiros livros da Bíblia, como então a aliança de Deus com Sua verdadeira Igreja pode ser cumprida (Isaías 59:20-21)?
Conclusões a serem extraídas dos comentários de Aland até aqui
O Dr. Aland não concorda com a doutrina ortodoxa quanto ao cânon do Novo Testamento que é tão claramente estabelecida em todas as confissões da Igreja da Reforma, especialmente a Confissão de Westminster, cap. I, art. VIII. Não, o Dr. Aland opina que houve numerosos problemas na maneira como a Igreja reunia os livros; que, de fato, a Igreja até reuniu livros corretos, mas pelas razões erradas – razões que não são científicas e, portanto, patentemente falsas. Discutiremos essas opiniões em mais detalhes num momento.
No entanto, podemos chegar imediatamente a uma conclusão. O Dr. Aland não acredita na inspiração ou infalibilidade das Escrituras. Como assim? Bem, se alguém acredita que existem livros inteiros na Bíblia que não pertencem a ela, então a Bíblia deve estar cheia de palavras não inspiradas, visto que pode haver livros inteiros nela que não são inspirados, e que, de fato, deveriam ser excluídos.
Além disso, se de fato a Bíblia contém livros não inspirados, então o Espírito Santo não deve ter sido o autor deles, nem da Bíblia como um todo; e, portanto, também pode haver erros históricos e doutrinários na Bíblia. Se, em particular, as epístolas católicas não foram escritas pelos homens que afirmam tê-las escrito, então a Bíblia está de fato cheia de erros históricos. No entanto, isso é precisamente o que o Dr. Aland irá afirmar, como veremos, em The Problem of Anonymity and Pseudonymity e em A History of Christianity.
Mas a própria Bíblia refuta o Dr. Aland. Kurt Aland não é mais sábio do que a Bíblia. A Bíblia diz de si mesma que “Toda a palavra de Deus é pura”, que “toda a Escritura é soprada por Deus”, que Deus, de fato, a preservaria em cada geração, para sempre – que guardaria Seu bendito Espírito Santo e Suas palavras na verdadeira Igreja, com aqueles que em Jacó abandonaram a transgressão. “Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre” (Isaías 59:21).
Portanto, o Espírito Santo com a verdadeira Igreja capacitaria os verdadeiros crentes, e não os hereges, a discernir as verdadeiras palavras de Deus em cada época, entre a multidão de cópias que possuíam.
Resumindo, o Dr. Aland não acredita que a Bíblia seja a Palavra de Deus. Portanto, a promessa de guardar as palavras de Deus não está com ele. Por quê? Porque ele não é da verdadeira Igreja; ele não é daquele que “em Jacó se desvia da transgressão”. Ao contrário, ele é um cético incrédulo. Nem é o Dr. Aland um mordomo divinamente nomeado ou guardião da sagrada Palavra da verdade. Devemos, sim, temer que ele seja provavelmente um agente do diabo para corrompê-la. “Quem não é comigo é contra mim” (Mateus 12:30).
Outros erros graves na obra de Aland O Problema do Cânon do Novo Testamento
Já mencionamos, de passagem, como o Dr. Aland afirma em seu folheto que, em alguns casos, os primeiros Pais da Igreja chegaram a escolher os livros certos, mas com base em “premissas errôneas”.
Diz o Dr. Aland:
Não se pode negar que os padrões externos que a Igreja primitiva aplicou ao canonizar as Escrituras do Novo Testamento são, quando vistos do ponto de vista do conhecimento científico moderno, insuficientes e frequentemente até errados. Os pontos de vista aceitos pelos atuais críticos do Novo Testamento sobre questões de autoria ou data das Escrituras do Novo Testamento são, em muitos casos, diferentes daqueles defendidos na Igreja primitiva […] [pág. 14, ênfase nossa].
[Está] claro como o meio-dia que mesmo na era anterior da Igreja [séc. III] a Igreja trabalhava com padrões inadequados de discriminação. Em vista disso, o resultado real do cânon apenas pode deixar o observador repetidamente perplexo. Permanece inexplicável se, por trás da atividade humana e dos padrões questionáveis dos homens, não se pressupõe o controle da providentia Dei, a operação do Espírito Santo […] [p. 14, ênfase nossa]
No entanto, esta não é uma obra infalível, de acordo com o Dr. Aland, na medida em que ele crê que mui possivelmente, vários livros devam ser excluídos do Cânon!
Agora, quais são os “graves erros científicos em padrões externos” que os primeiros Pais da Igreja cometeram?
Por um lado, diz o Dr. Aland, os Pais da Igreja se enganaram sobre a autoria apostólica de alguns dos livros. Diz ele, as Epístolas de Inácio não foram incluídas no Cânon porque não foram escritas por um apóstolo. Mas Judas e certos livros foram admitidos no cânon, porque “supostamente” foram escritos por um apóstolo, quando, na verdade, realmente não o foram. E assim, ele argumenta por considerar excluí-los.
Afirma o Dr. Aland:
[…] [Simples]mente por causa dessa óbvia falta de apostolicidade, ninguém sequer pensou em aceitar as Epístolas de Inácio no cânon, enquanto a Epístola de Judas (e outras), por causa da declaração de autoria que ocultava a situação real, pressupunha um autor apostólico, portanto, como seu conteúdo não causava escrúpulos, foi autorizado a entrar no meio dos livros canônicos. [p. 27, ênfase nossa]
Obviamente, com as palavras “que ocultava a situação real”, Aland nega categoricamente que o apóstolo Judas seja o verdadeiro autor do livro de Judas. Com as palavras “outras”, ele se refere pelo menos também a 2 e 3 João e 2 Pedro, que ele havia acabado de dizer (no mesmo parágrafo) “foram superados” pelas Epístolas de Inácio.
Assim, o Dr. Aland nega que 2 e 3 João, Judas e 2 Pedro tenham sido realmente escritos por aqueles homens.
Da mesma forma, o Dr. Aland sugere sua crença de que os Quatro Evangelhos, por mais nobres que ele os considere, não foram escritos pelos apóstolos a quem foram atribuídos. Ele afirma que, na realidade, esses Evangelhos foram compilados de um Evangelho anterior e, então, essas quatro novas versões foram ‘distinguidas umas das outras pelos nomes dos autores’, sugerindo que os livros não foram realmente escritos por aqueles homens.
Agora citamos o Dr. Aland, outra vez.
É certo que em muitas comunidades havia um ou mais evangelhos, além dos quatro, também evangelhos apócrifos [estavam] em uso, às vezes até oficialmente. O ponto de partida deve, entretanto, geralmente ter ficado com um Evangelho, que era o Evangelho; o uso de vários Evangelhos juntos (somente agora eles são distinguidos uns dos outros pelos nomes dos autores, etc.) representa um estágio posterior […] [p. 19, ênfase nossa]
Dessa forma, o Dr. Aland postula, [que] no início existiam dentro da Igreja as cartas de Paulo e a ipsissima verba de Jesus (as “exatas palavras” do próprio Jesus). Depois disso, evoluiu um único Evangelho do qual os Quatro Evangelhos e até mesmo os Evangelhos apócrifos surgiram. (E na seguinte obra dele, que revisaremos, ‘O problema do anonimato e do pseudonimato’, veremos que ele nega categoricamente que os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas foram escritos por aqueles homens, e ele expressa sua dúvida que o Evangelho de João foi escrito por João.)
Os títulos à parte, as Epístolas Paulinas e Católicas, e o Evangelho de João, são bastante específicos quanto a quem os escreveu pelas declarações iniciais feitas nas próprias epístolas. Embora haja alguma variação nas palavras exatas dos títulos dos Evangelhos Sinópticos, todos eles concordam com todos os Pais da Igreja quanto a quem os escreveu. (Como mencionamos, a Plain Introduction de Scrivener explica algumas dessas variações.) Não há realmente nenhuma razão para duvidar da autoria dos Evangelhos Sinópticos; não há nenhum manuscrito ou evidência patrística em contrário. Ainda maior é o caso com as Epístolas Católicas, as Epístolas de Paulo e o Evangelho de João. A evidência interna dos próprios livros lança fora dúvidas [de] quem são os autores. Se pudermos duvidar de quem escreveu o Evangelho de João e as Epístolas Católicas, quando os próprios livros nos dizem quem os escreveu, podemos também duvidar de muitos dos fatos e doutrinas dentro desses livros!
E assim, encontramos no Dr. Aland um ceticismo que se aproxima do de Pôncio Pilatos, que disse: “Que é a verdade?” Ele claramente duvida que a Bíblia seja a Palavra de Deus.
A crença de que a Bíblia é a Palavra de Deus é um ingrediente essencial da fé salvadora. Alguns podem dizer: “Mas só devemos crer que Jesus morreu pelos nossos pecados e que Deus o ressuscitou dos mortos”. Mas de onde vem essa crença? “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Romanos 10:17). Sim, se confessarmos com a nossa boca o Senhor Jesus, e crermos em nossos corações que Deus o ressuscitou dentre os mortos, de fato seremos salvos: mas de onde vem esta fé? Pelo ouvir. Ouvir o quê? Pela palavra de Deus. Não apenas isso: quando ouvimos a Palavra de Deus de maneira salvadora, devemos saber que é a Palavra de Deus – portanto, inspirada e inerrante. “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes”, diz Paulo sobre os tessalonicenses em 1 Tessalonicenses 2:13. Não devemos apenas ouvir a Palavra de Deus; devemos recebê-la como sendo a Palavra de Deus, e não dos homens.
Consequentemente, a Confissão de Fé de Westminster é mais correta quando diz, no Capítulo XIV, Artigo II, as seguintes palavras:
Por essa fé o cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em sua palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado, e age de conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular, prestando obediência aos mandamentos, tremendo às ameaças e abraçando as promessas de Deus para esta vida e para a futura; porém os principais atos de fé salvadora são – aceitar e receber a Cristo e firmar-se só nele para a justificação, santificação e vida eterna, isto em virtude do pacto da graça.
“O cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em sua palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado”. Sim, “os principais atos de fé salvadora são – aceitar e receber a Cristo e firmar-se só nele para a justificação, santificação e vida eterna”, mas também, o verdadeiro cristão deve crer “ser verdade tudo quanto nela é revelado”. Ele deve receber a Palavra de Deus como ela é: não a palavra dos homens, mas a Palavra de Deus. Segue-se necessariamente, então, que o verdadeiro crente acredita que a Bíblia é a infalível e inerrante Palavra de Deus.
O Dr. Aland, com suas negações de que certos livros pertençam à Bíblia, claramente não crê nisso.
O Dr. Aland, com sua incredulidade e acusações blasfemas de erros na Palavra de Deus, claramente se manifesta como não sendo da linhagem da verdadeira Igreja, daqueles que “em Jacó abandonaram a transgressão”, daqueles que “têm o Espírito de Deus em suas bocas”, bebendo-o com uma fé correta no Cristo Redentor. E assim, tal homem não pode, de acordo com a Bíblia, ter o pacto da graça nem a graça em sua alma para discernir as Palavras de Deus.
A influência do Dr. Aland na Nova Versão Internacional
As visões perniciosas do Dr. Aland sobre a falta de confiabilidade de nossas Bíblias nos manuscritos originais são profundamente vistas na Bíblia NVI. A mesma mão que cortaria livros inteiros da Bíblia de nosso cânon também cortaria muitos, muitos textos.
Por esta razão, nas edições anteriores da NVI, encontramos declarações como esta que está impressa no início de João 8:
Os manuscritos mais antigos e confiáveis e outras testemunhas antigas não possuem João 7:53-8:11.[8]
Essas palavras ecoam as palavras do Dr. Aland em sua magnus opus intitulada The Text of the New Testament [O Texto do Novo Testamento], escrita em colaboração com sua esposa Barbara e traduzida para o inglês por Erroll F. Rhodes.[9] Nessa obra, página 232, encontramos a seguinte explicação para o uso de colchetes nas notas de rodapé dos textos gregos da UBS e da Nestlé-Aland:
Palavras entre colchetes simples [ ] têm apenas uma reivindicação duvidosa de autenticidade como parte dos escritos originais do Novo Testamento. Um texto entre colchetes duplos [[ ]] claramente não faz parte do texto original; por exemplo, por mais antiga que seja a tradição da perícope da mulher apanhada em adultério [em João 7:53-8:11], é certo que esses versículos não faziam parte do texto original do evangelho de João quando foi divulgado pela primeira vez na Igreja. [ênfase nossa]
Como o Dr. Aland chegou a tal conclusão? Podemos ver em suas notas sobre João 7:53-8:11, encontradas na primeira edição do texto grego das Sociedades Bíblicas Unidas (1966).[10] Neste texto, encontramos a seguinte nota de rodapé na página 355:
12 7:53-8:11 {A} omite 7:53-8:11 (ver p. 413) p66, 75 ℵ Avid B Cvid …
Para explicar a nota de rodapé acima brevemente, o que o Dr. Aland está dizendo é: “Os seguintes textos primitivos omitem João 7:53-8:11, e damos a essas leituras uma leitura {A}”. (Ele se recusa até mesmo a considerar a avaliação da outra leitura, que considera espúria.) O {A} significa: “Cremos que esta seja a leitura verdadeira, com certeza praticamente absoluta”. Aland então lista p66 e p75, dois manuscritos primitivos de papiro encontrados no alto Egito por Martin Bodmer – na mesma área onde a infame biblioteca gnóstica da caverna de Nag Hammadi foi descoberta. (O Alto Egito era infestado de gnósticos.) Aland também lista ℵ ou Sinaiticus, um manuscrito assim chamado porque foi descoberto por Constantin von Tischendorf (um crítico textual que também era herege) “em uma prateleira”, não utilizado, em um mosteiro no Monte Sinai. Aland prossegue com a lista ‘A’, que é o Codex Alexandrinus, um manuscrito que Theodoro Beza da Reforma em Genebra possuía, mas que ele rejeitou junto com o resto dos Reformadores, por causa dos muitos erros históricos e gramaticais desse manuscrito. Aland também lista ‘B’, que é o Codex Vaticanus, que esteve por séculos no Vaticano e que era conhecido por Erasmo, o compilador das primeiras versões do Textus Receptus. Erasmo rejeitou o Vaticano como corrupto.[11] Depois de ‘B’, o Dr. Aland lista ‘C’, que é Codex Ephraemi Syri Rescriptus, assim chamado porque também contém uma tradução grega de trinta e oito sermões de um pai da Igreja primitiva, chamado Efrém da Síria. Este manuscrito é semelhante ao Vaticanus e Sinaiticus. Depois destes, Aland lista uma série de manuscritos que seguem a tradição textual desses supramencionados.
Para resumir então: os textos nos quais o Dr. Aland se baseia foram rejeitados pela Igreja histórica por causa de sua conhecida má qualidade (alto número de erros ortográficos e históricos), ou sua linhagem conhecida de textos que foram corrompidos por hereges (como eram os chamados Textos Alexandrinos, que vieram do alto Egito, onde proliferaram os erros gnósticos). Esses textos, rejeitados pela Igreja histórica, são aqueles em que o Dr. Aland confia.
Além disso, o próprio Dr. Aland admite que rejeitou sistematicamente todos os textos da tradição bizantina – a tradição da qual surgiu o Textus Receptus. Na página xvii de ‘Introductrion’ ao texto SBU de 1966, encontramos a seguinte nota:
Os minúsculos a seguir, selecionados após um exame crítico de mais de mil manuscritos, foram citados sistematicamente porque exibem um grau significativo de independência da chamada tradição manuscrita bizantina. [enfase nossa]
Em outras palavras, todos os manuscritos gregos minúsculos (em minúsculas) que tinham quaisquer marcas de pertencimento à tradição bizantina foram intencionalmente omitidos de consideração. E ainda assim, todos esses manuscritos, que compreendem a grande maioria dos manuscritos gregos existentes, contêm João 7.53-8.11.
Um exame completo de por que os “manuscritos variantes” principalmente retirados do Egito devem ser vistos com desconfiança – por causa da contaminação conhecida que tiveram de hereges d época – excede o escopo deste artigo. No entanto, é suficiente dizer que não devemos achar surpreendente que um homem que não crê na inerrância e infalibilidade das Escrituras, seja o mesmo que escolheu manuscritos de áreas onde os hereges eram conhecidos por terem proeminência, como sua base para retirar passagens do Bíblia que há muito foi reconhecida pela verdadeira Igreja histórica. João 7:53-8:11 foi de fato reconhecido pela Igreja histórica por séculos, sendo incluído na vasta maioria dos manuscritos gregos existentes e sendo incluído também no Texto Recebido comum que foi usado pelos Reformadores. A mesma mão que excluiria livros inspirados de nosso cânon do Novo Testamento, também excluiria os textos preservados providencialmente!
Passamos agora a examinar a obra de 1961 do Dr. Aland intitulado “The Problem of Anonymity and Pseudonymity in Christian Literature of the First Two Centuries” [O Problema do Anonimato e do Pseudonimato na Literatura Cristã dos Séc. I e II]. Este pequeno artigo pode ser encontrado em The Authorship and Integrity of the New Testament: some recent studies by Kurt Aland, et al [A Autoria e Integridade do Novo Testamento: alguns estudos recentes de Kurt Aland, et al], publicado por S.P.C.K. em 1965. (O artigo foi publicado originalmente em Journal of Theological Studies, N.S., vol. xii, pt. i, abril de 1961).
‘O problema do anonimato e do pseudonimato na literatura cristã dos séc. I e II’
Nesta obra, o Dr. Aland tira conclusões quanto à autoria original de vários livros do Novo Testamento, com base em seus estudos de certos papiros egípcios primitivos e sobre inferências que ele extrai dos problemas genuínos da autoria de certas obras patrísticas e apócrifas. (Na verdade, havia muitas obras espúrias desse período que afirmavam ter sido escritas pelos apóstolos. No entanto, Aland infere disso que também certos livros do Novo Testamento não foram escritos por homens cujos nomes aparecem nos títulos, mas [que] na verdade, foram escritos por homens usando pseudônimos.) Mas antes de prosseguirmos com os pontos de vista do Dr. Aland, vamos olhar para a visão ortodoxa da autoria dos Quatro Evangelhos, do famoso livro de Edward Hills, Believing Bible Study [Estudo do Crente na Bíblia], publicado pela Christian Research Press em 1967. Na página 34 desse livro, o Dr. Hills afirma corretamente:
Quando se aproximou o tempo, no plano de Deus, de o Evangelho oral ser registrado por escrito, Mateus, um apóstolo, e Marcos e Lucas, seguidores e companheiros dos apóstolos, foram inspirados pelo Espírito Santo para cumprir a tarefa. O Evangelho que esses três evangelistas escreveram era o mesmo Evangelho oral que tinha sido pregado em todos os lugares e foi expresso nas mesmas palavras familiares. Podemos muito bem crer que é por isso que os Evangelhos escritos por Mateus, Marcos e Lucas concordam tão intimamente em termos de palavras e assuntos. Ao mesmo tempo, porém, havia diferenças. Mateus escreveu o Evangelho como ele se lembrava. Aqueles outros apóstolos de quem Marcos e Lucas receberam suas informações se lembraram do Evangelho de uma maneira um pouco diferente. Esta é uma das razões pelas quais os três Evangelhos Sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) diferem uns dos outros em vários detalhes. Outra razão para essas diferenças é que cada um desses evangelistas inspirados escreveu de seu próprio ponto de vista e de acordo com seu próprio plano literário. Mas essas diferenças não são contradições. Pela fé sabemos que o Espírito Santo não se contradiz e que se em algum momento não conseguimos harmonizar as várias narrativas do Evangelho é porque algum fato nos escapou ou não foi revelado.[12]
Além daqueles atos e palavras de Jesus que todos os apóstolos foram capazes de lembrar e que formaram a substância do Evangelho oral e de Mateus, Marcos e Lucas, os três primeiros Evangelhos escritos, havia elementos mais profundos no ensino de nosso Senhor, que estavam retidos principalmente na mente sensível de João, “o discípulo a quem Jesus amava.” Por muitos anos o apóstolo João meditou em particular sobre esses discursos sublimes do Salvador. Finalmente, em sua velhice, ele foi inspirado pelo Espírito Santo para adicionar seu Evangelho aos outros três […].[13]
O Dr. Hills, na página 35, prossegue em especificar como da mesma forma as Epístolas Católicas, e todas as epístolas de Paulo, foram então escritas pelos próprios apóstolos cujos nomes aparecem nesses livros inspirados.
Vimos como o Dr. Hills afirma (e com razão) que os autores dos Quatro Evangelhos foram de fato aqueles cujos nomes aparecem nos títulos desses livros inspirados. E o que o Dr. Hills diz daqueles que dizem o contrário? Vejamos como ele aborda a noção de que o apóstolo João não foi o autor do Evangelho de João, em The King James Version Defended [A Versão King James Defendida], páginas 69-70 (novamente, publicado pela Christian Research Press).
A hipótese mais comum, no entanto, entre os críticos naturalistas é que o Evangelho de João foi escrito não pelo Apóstolo João, mas por outro João chamado o Velho João, que viveu em Éfeso no fim do séc. I d.C. e que também escreveu as Epístolas de João. Isso tornaria o Evangelho de João uma fraude, pois afirma ter sido escrito pelo discípulo a quem Jesus amava (João 21:24), aquele seguidor íntimo que viu a glória de Cristo (João 1:14), que se encostou em seu seio (João 13:23), e que viu com admiração o sangue e a água fluindo de seu lado partido (João 19:35). [14] [ênfase nossa]
Em outras palavras, qualquer um que dissesse que o Evangelho de João não foi escrito pelo apóstolo João faria daquele livro inspirado uma fraude, dadas as reivindicações internas em contrário.
E de fato seria. Se tal autor escrevesse esta obra e, em seguida, assinasse-a com o nome de Edward Hills, não seria isso uma fraude? Seria: uma fraude muito desonrosa e antiética!
Não cremos que o Espírito Santo seja o autor de mentiras. Não, o Espírito de Deus é enfaticamente o Espírito da verdade: João 14:17; João 15:26; João 16:13 e 1 João 4:6. Na verdade, João 16:13 nos diz especificamente: “Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade”. O Espírito de Deus é um Espírito de verdade, que apenas conduz seus discípulos à verdade. Isso foi especialmente verdade com os apóstolos e evangelistas inspirados que escreveram os livros do Novo Testamento. O Espírito de Deus nunca inspiraria um homem a assinar ou inscrever um livro com um pseudônimo. Nem o Espírito de Deus, que prometeu permanecer com a Igreja verdadeira para sempre, permitiria que a Igreja corrompesse as palavras de Deus, para que atribuísse um livro a um falso autor. Em vez disso, Isaías 59:21 nos diz que o Espírito de Deus e as palavras de Deus permaneceriam com Sua verdadeira Igreja para sempre. Consequentemente, a verdadeira Igreja não contaminaria voluntariamente o texto; e quaisquer corrupções não intencionais, pelo Espírito Santo agindo na Igreja de Cristo, também seriam descobertas e eliminadas.
Mas o que Kurt Aland diz sobre esse assunto? Prosseguimos examinando “‘The Problem of Anonymity and Pseudonymity in Christian Literature of the First Two Centuries” [O Problema do Anonimato e do Pseudonimato na Literatura Cristã dos séc. I e II].
Kurt Aland sobre a autoria dos quatro evangelhos
Na página 5 desta obra, o Dr. Aland diz o seguinte:
Comecemos com a literatura anônima. Na minha opinião, não há dúvida de que todos os evangelhos foram publicados anonimamente. Nossa opinião atual sobre seus autores data de informações que derivam da época de Papias ou mais tarde. Não apenas os quatro canônicos, mas também os outros evangelhos do período anterior não eram considerados como ‘evangelho de Marcos’, ‘evangelho de Mateus’ e assim por diante, mas, em sua família original, como ‘o evangelho’. Quanto mais os evangelhos individuais ganhavam reconhecimento comum e quanto mais numerosos eram em qualquer lugar, mais era necessário diferenciá-los (ou combiná-los em, por exemplo, um Diatessarão, como fez Taciano). Todos os títulos e assinaturas nos manuscritos do evangelho são de um período posterior. E não é evidência contra isso que o Papiro Bodmer II (cerca de 200 d.C.) tenha a inscrição: ευαγγελιονκαταιωαννην. Pertence à época após Papias, quando não apenas os evangelhos foram totalmente distinguidos, mas também certas tradições haviam alcançado sua forma desenvolvida. [ênfase nossa]
Para resumir o que o Dr. Aland disse, podemos dizer:
- Ele afirma que todos os quatro ‘evangelhos’ [sic] eram anônimos e, como tais, seus verdadeiros autores jamais poderão ser conhecidos.
- Ele diz que certos manuscritos primitivos do Novo Testamento não tinham os títulos que temos hoje neles e que, portanto, nenhum dos manuscritos daqueles primeiros tempos tinha.
- Ele afirma que “certas tradições” surgiram na Igreja mais tarde e foram usadas, por conveniência, para diferenciar cada um dos “evangelhos” uns dos outros, pois, com o tempo, foram espalhados para fora de suas localidades originais.
- Segue-se apenas desta linha de pensamento que o Dr. Aland acredita que a Igreja histórica corrompeu os Quatro Evangelhos, ao adicionar seus títulos a eles. Embora os títulos variem em suas palavras, de manuscrito a manuscrito, todos eles atribuem sua autoria aos mesmos homens. No entanto, Aland diz que esses não foram os homens que escreveram essas obras.
Vamos agora examinar as afirmações do Dr. Aland. Em primeiro lugar, devemos nos opor à sua irreverência em se referir aos Evangelhos como “evangelhos”, com um e minúsculo. Mas, em segundo lugar, devemos examinar sua afirmação de que nenhum dos primeiros manuscritos tinha seus títulos.
Em que fundamento Aland baseia sua afirmação? Bem, antes de Papias, que viveu no séc. II d.C. e provavelmente morreu antes de 150 d.C., “não havia títulos nos manuscritos desse período”. Lembre-se de que Papias, de acordo com a história da igreja, foi um verdadeiro ouvinte do próprio apóstolo João. A maioria dos relatos considera que ele nasceu antes de Policarpo, o que teria sido antes de 67 d.C., de acordo com a maioria dos relatos. Isso significa que o Dr. Aland está considerando manuscritos das Escrituras que foram escritos bem antes de 200 d.C. Ah?! Quantos manuscritos temos existentes antes de 150 d.C.?
Usando a própria lista de textos do Dr. Aland no SBU 1966, pode haver três manuscritos existentes da época de Papias: p46, p66 e p67. E mesmo esses manuscritos do SBU 1966 datam de cerca de 200 d.C., após Papias. Três manuscritos: representam uma amostra estatisticamente significativa dos manuscritos do período? (Devemos notar que mesmo p66 tem como título “O Evangelho segundo João”, como Aland já admitiu. p66 é o mesmo manuscrito que Bodmer Papyrus II).
Suponha que você seja um paciente cardíaco. Você gostaria de tomar um medicamento recentemente patenteado para o coração que foi testado em apenas três pessoas? Ou suponha que você fosse um homem de negócios. Você gostaria de prever as tendências de marketing de seu novo produto, com base em uma pesquisa com três pessoas?
Eu acho que não. Então, por que os padrões para estudos de pesquisa deveriam ser mais baixos para o exame de textos das Sagradas Escrituras?
Também deve ser considerado este fato: todos os três manuscritos mencionados acima são do mesmo local – alto Egito, não muito longe da caverna de Nag Hammadi – onde uma biblioteca gnóstica foi descoberta. Certamente, não quereríamos tomar um novo medicamento para o coração, se fôssemos um paciente cardíaco, que só tivesse sido testado em três membros da mesma família! Porque, não! Eles podem ter uma genética dramaticamente diferente da nossa. Podemos sofrer efeitos colaterais prejudiciais que eles não sofreriam por causa de sua composição genética.
O mesmo ocorre com os três manuscritos em consideração. Todos eles vieram de uma certa ‘família’. Todos eles vieram do Alto Egito, uma área conhecida por ser fortemente infestada de gnósticos e literatura gnóstica. E sabemos pelos primeiros Pais da Igreja que os hereges daquele período, especialmente os gnósticos, amputaram e mutilaram as Escrituras. Basta ler Irineu e Tertuliano para a confirmação disso.
Além disso, haveria, sem dúvida, dezenas de milhares de manuscritos no mundo cristão na época, porque, de fato, havia bem mais de um milhão, ou talvez, milhões, de cristãos. Não é de forma alguma responsável tirar conclusões de uma amostra estatisticamente insignificante como três manuscritos em dezenas de milhares.
Nem é aconselhável basear nossas conclusões em como alguns dos primeiros Pais da Igreja podem ter se referido aos Evangelhos. Novamente, temos mui poucos escritos de quaisquer Pais da Igreja daquele período inicial: apenas três ou quatro, na verdade.
Portanto, a afirmação do Dr. Aland de que “nenhum dos primeiros manuscritos do período continha os títulos e assinaturas” é insustentável. Ele não pode provar isso. Três manuscritos e três ou quatro Pais da Igreja primitiva nada provam, especialmente quando um dos três primeiros manuscritos, uma cópia do Evangelho de João, de fato tem o título “O Evangelho segundo João” nele.
Além disso, com respeito aos primeiros Pais da Igreja – os chamados “Pais Apostólicos” – nenhum deles nega que os Quatro Evangelhos foram escritos por Mateus, Marcos, Lucas ou João. Pelo contrário; os escritos que temos deles simplesmente não fazem referência aos Quatro Evangelhos. Três dos primeiros Pais aos quais Aland se refere são Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo de Esmirna. Na única obra escrita que temos de Policarpo, Policarpo cita generosamente a Epístola de Paulo aos Filipenses, mas não cita os Quatro Evangelhos. Inácio apela principalmente para a autoridade dos bispos locais. Clemente apela principalmente para o Antigo Testamento e para o raciocínio natural. No entanto, temos apenas um total de cerca de onze obras desses homens, mais duas ou três obras anônimas como O Pastor de Hermas e a Epístola a Diogneto.
Além disso, começando com Papias, um pouco depois de 100 d.C., e especialmente com Irineu, por volta de 180 d.C. (Adversus Haereses III, 1:1), encontramos todos os primeiros Pais dizendo, ao homem, que os Quatro Evangelhos foram de fato escritos pelos homens cujos nomes aparecem nos títulos desses livros.
Embora os próprios títulos variem em suas palavras, particularmente em Mateus, Marcos e Lucas, todos eles concordam unanimemente sobre quem são os autores. Não há realmente nenhum manuscrito ou evidência patrística que justifique a reviravolta do Dr. Aland à visão de longa data geralmente defendida.
Como provamos com o Dr. Hills, afirmar que o Evangelho de João foi escrito por outro tornaria essa obra, uma fraude. Isso é especialmente verdade com o Evangelho de João, que fornece evidências internas consideráveis quanto ao seu autor. Seu autor, como Hills nota, foi alguém que estava presente com o Senhor na última ceia, que foi uma testemunha ocular dos sofrimentos do Senhor na cruz e que estava presente quando o Senhor se manifestou aos apóstolos quando eles estavam pescando, em João 21. No entanto, como veremos, Aland mais tarde alegará especificamente em History of Christianity [História do Cristianismo] que o Evangelho de João não foi escrito pelo Apóstolo João.
Mas agora passamos a examinar as afirmações do Dr. Aland de que as Epístolas Pastorais e as Epístolas Católicas foram escritas sob “pseudônimos”.
Examinando a alegação do Dr. Aland de que as Epístolas Católicas e Pastorais foram escritas por autores pseudônimos
Na página 4 de ‘Anonymity and Pseudonymity’ [Anonimato e Pseudonimato], o Dr. Aland diz:
Gostaria de atribuir à categoria de escritos pseudônimos: as Pastorais, 1 e 2 Pedro, Tiago, Judas, possivelmente Hebreus, 2 e 3 João, possivelmente o evangelho de João, a Didaquê e os apócrifos não anônimos do Novo Testamento. Se devemos ou não atribuir as epístolas aos Colossenses e aos Efésios a esta categoria é controverso.
(Um escrito ‘pseudônimo’ seria aquela escrita por um autor que estava usando um nome falso, um nome que não era seu. Aland está aqui alegando que os autores das Pastorais, 1 e 2 Pedro, Tiago, Judas, 2 e 3 João e possivelmente Hebreus não foram escritos pelos apóstolos cujos nomes aparecem nos títulos dos livros, nem pelos homens que professam tê-los escrito nos versículos iniciais, mas que essas epístolas foram escritas antes por outros indivíduos que fingiram ser aqueles outros homens).
Na página 6, ele continua seu discurso sobre escritos pseudônimos. Nesta seção, ele explica sua hipótese de por que esses escritos surgiram. Ele diz que o autor, um escritor anônimo, estava “sob o poder do Espírito” e, por isso, pode-se dizer que não era ele, mas Cristo e os apóstolos pregando por meio dele. Assim, Aland opina, era realmente legítimo para o homem, um não-apóstolo, subscrever o nome de um apóstolo em sua obra. Ele começa explicando sua teoria sobre a origem da Didaquê, uma obra espúria. Ele então aplica essa teoria também às Pastorais e 2 Pedro, e até opina que esta teoria também pode se aplicar ao autor do “evangelho” de João.
Estas são as palavras do Dr. Aland:
Vamos agora ao grupo de escritos pseudônimos. Será adequado começar com o exemplo mais extremo, o Didaquê, pois não reivindica a autoria de um apóstolo, mas de toda a assembleia dos apóstolos e do próprio Senhor […] Nem a localidade nem a data exata (tomamos o data de cerca de 110 d.C.) da gênese do Didaquê é importante a este respeito; nem mesmo a forma de seu texto em detalhes ou suas formas possivelmente diferentes. O cerne da questão é a reivindicação da escrita e sua aceitação na Igreja como um documento oficial […] A única hipótese concebível é que o autor da escrita a introduziu [a Didaquê] primeiro em sua própria congregação, provavelmente lendo-a em um serviço de adoração. De fato, a congregação sabia que seu discurso foi escrito por seu ancião. Mas quando ele afirmou que sua obra era a mensagem do Senhor por meio dos apóstolos, e quando sua própria congregação e a congregação vizinha reconheceram que isso era válido, eles reconheceram apenas porque era a versão escrita do que até então tinha sido oralmente entregue em qualquer reunião congregacional; um profeta se levantou e pregou a palavra do Senhor. Todos conheciam o profeta e suas matérias humanas. Mas quando ele falou com expressão inspirada, não foi ele que foi ouvido, mas o Senhor ou os apóstolos ou o Espírito Santo […] [ênfase adicionada]
Antes de prosseguirmos, vamos resumir o que Aland está dizendo aqui. Ele está dizendo que o escritor do Didaquê, e outros como ele, eram homens conhecidos de todos – mas quando falavam como profetas, sob inspiração divina, não eram mais eles que falavam, mas o Senhor ou os apóstolos por meio deles. Isso então, na estranha visão de Aland, justificou e vindicou a assinatura do documento com o nome de um dos apóstolos, ou de todos os apóstolos, ou mesmo do próprio Senhor.
Claro, esta não é de todo a doutrina da Escritura, porque todos reconhecem que as epístolas de Paulo a Corinto, Galácia e Roma foram realmente escritas por ele. Em cada uma dessas epístolas, Paulo diz especificamente que é ele, e não algum outro apóstolo, quem está escrevendo. Paulo nunca assinaria uma de suas epístolas com o nome de Pedro ou com o nome de qualquer outro apóstolo. Não, ele advertiu especificamente os discípulos para não serem enganados por epístolas como se fossem dele.
Em 2 Tessalonicenses 2:1-2, Paulo especificamente adverte os discípulos: “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto”.
Mais uma vez, Paulo sempre certificou sua própria autoria de suas epístolas, com observações como estas: 1 Coríntios 16:21 “Saudação da minha própria mão, de Paulo”; ou, novamente, Colossenses 4:18 “Saudação de minha mão, de Paulo. Lembrai-vos das minhas prisões. A graça seja convosco. Amém”. É comumente entendido que Paulo escreveu pessoalmente essa saudação na epístola, para que seus leitores pudessem verificar a caligrafia pessoal de Paulo. Naturalmente, quando o amanuense da epístola também levou pessoalmente a epístola à congregação para a qual foi escrita, ele também confirmou que Paulo realmente havia escrito essas palavras, e que Paulo realmente ditou a epístola inteira.
Em resumo, então, Paulo sempre certificou que as cartas que estava enviando eram de fato dele, e não de um falsificador. Ele fez isso escrevendo uma saudação pessoal manuscrita nas cartas, na presença daquelas testemunhas oculares que trariam a carta para a igreja para a qual foi escrita. Em todos os casos, as testemunhas oculares da escrita da carta de Paulo foram as que a entregaram.
Na verdade, os ouvintes de Paulo estariam procurando por tais confirmações, visto que Paulo havia especificamente alertado seus ouvintes para não serem enganados por “epístolas, como de nós” (2 Tessalonicenses 2:2) – a saudação de Paulo com sua própria mão era “o sinal em todas as epístolas” (3:17).
Não podemos aceitar a visão de Aland de que um homem estando inspirado pelo Espírito justificaria sua assinatura com o nome de outro homem em seu documento inspirado; de modo nenhum. Paulo não fez isso e certamente estava sob a inspiração do Espírito. O Espírito é um Espírito da verdade, que guia os crentes cristãos ao conhecimento da verdade, incluindo quem escreveu a epístola que estavam lendo. O Espírito Santo de Deus nunca inspiraria um homem a falsificar a assinatura de outro em seu próprio documento; nem iria “inspirar” um homem a fingir ser outro homem famoso ao escrever um texto.
Claro, foi o discernimento da Igreja de que o Didaquê não fora escrito por um apóstolo que os levou a rejeitá-lo do cânon.
Mas Aland não reconhece isso, por ele não saber “as escrituras, nem o poder de Deus” (Marcos 12:24). Ele continua na página 8:
Quando os escritos pseudônimos do Novo Testamento reivindicaram a autoria dos apóstolos mais proeminentes somente, este não foi um truque habilidoso dos chamados falsificadores, a fim de garantir a maior reputação possível e a mais ampla circulação possível para a obra deles, mas a conclusão lógica do pressuposto de que o próprio Espírito foi o autor da obra. [ênfase nossa]
Observe cuidadosamente as palavras “quando os escritos pseudônimos do Novo Testamento reivindicaram apenas a autoria dos apóstolos mais proeminentes”. O que ele está dizendo aqui é que há livros em nosso Novo Testamento que foram escritos por autores pseudônimos, escritores que forjaram o nome de um apóstolo como sendo o autor da obra. Aland passa a declarar abertamente que as Pastorais e 2 Pedro eram obras pseudônimas.
Então ele diz na página 9:
É muito mais difícil responder a algumas outras perguntas que podem ser ilustradas pelas Pastorais e 2 Pedro. Vamos nos lembrar da hipótese que propusemos acima: obs. um escritor, sendo nada mais que o instrumento do Espírito Santo, neste relato reivindica a autoria de um apóstolo para seus escritos. É concebível que tal escritor estenda a identificação a ponto de fornecer dados sobre a situação concreta como é feito nas Pastorais, ou que, como o escritor de 2 Pedro, ele possa casualmente usar referências de 1 Pedro? […] Mas as informações sobre a permanência dos vários cooperadores no quarto capítulo de 2 Timóteo, o primeiro julgamento de Paulo, as instruções para os discursos, bem como o final da epístola a Tito para evidenciar um conhecimento tão completo, uma perspectiva tão estimulada, e uma reconstrução dos interesses de Paulo, que não podemos evitar assumir uma fraude pretendida [sic] […] [ênfase nossa]
Então aqui está. O Dr. Aland declara que as Pastorais e 2 Pedro são pseudônimos. Não apenas isso; os escritores se esforçaram de maneira extravagante em fornecer detalhes para que parecessem realmente ser Pedro ou Paulo! E não só isso: “Não podemos evitar assumir uma fraude pretendida”, diz ele.
No restante do documento, o Dr. Aland em nenhum lugar nega essas declarações quanto a essas epístolas serem falsificações, como não sendo realmente o que ele pretendia dizer! Muito pelo contrário, ele conclui o documento dizendo:
Não devemos esquecer que todos esses escritos pseudônimos – exceto talvez a segunda e a terceira epístolas de João – obviamente não levam o nome de um apóstolo sem motivo. Os homens desconhecidos pelos quais eles foram compostos, não apenas criam estar subscrevendo do Espírito Santo; eles realmente [assim] estavam. [enfase adicionada]
Em outras palavras, foi o Espírito de Deus que inspirou os escritores desconhecidos das Pastorais e de 2 Pedro a adicionar detalhes factuais para aumentar a ilusão de que foram realmente Paulo e Pedro que escreveram essas obras! E, por quê? Porque eles acreditaram estar subscrevendo do Espírito, e eles estavam! Isso torna o Espírito Santo de Deus um Espírito mentiroso. Que blasfêmia perversa!
Vimos que o Dr. Aland não apenas negou a inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras em suas primeiras obras, ele também se apegou a erros muito perigosos a respeito do Espírito Santo e Sua obra.
Mas agora passamos a examinar a obra posterior de Aland, publicada em 1980 em alemão e em 1985 em inglês: A History of Christianity [Uma História do Cristianismo]. Certamente, se o Dr. Aland houvesse um melhor entendimento, já deveria tê-lo alcançado.
Uma História do Cristianismo por Kurt Aland
Este livro foi publicado em alemão nos últimos catorze anos de vida do Dr. Aland. Foi publicado em inglês em 1985, apenas nove anos antes de seu falecimento. Embora ele modifique seus fundamentos para seus pontos de vista talvez em um ou dois pontos menores, ainda assim o encontramos, em geral, abraçando fortemente os pontos de vista anteriormente expressos.
Discutiremos o que ele diz em A History of Christianity com respeito a dois pontos em particular: 1) a canonicidade das Epístolas Católicas, e 2) a autoria apostólica dos Quatro Evangelhos, as Epístolas Pastorais e Católicas, e até mesmo algumas das cartas de Paulo.
Em primeiro lugar, com respeito à canonicidade das Epístolas Católicas, embora, nesta obra, Aland não defenda totalmente a consideração de sua exclusão do cânon, como anteriormente fez abertamente em The Problem of the New Testament Canon, apesar dele expressar mais abertamente seu relativo desdém por elas.
O desprezo de Aland pelas Epístolas Católicas
Antes de prosseguirmos diretamente para as observações de Aland sobre as Epístolas Católicas, nos dirigimos a elas com os comentários dele sobre a autoria apostólica dos livros do Novo Testamento em geral, e se ele mesmo considera isso relevante ou não. Ele diz:
Precisamos apenas observar o curso da história da igreja durante os últimos séculos, onde encontraremos com clareza as consequências devastadoras que resultam do uso de tais critérios inadequados. [p. 105]
Agora, antes de prosseguirmos, devemos perguntar quais são os “critérios inadequados” aos quais Aland se refere? Ora, é a autoria apostólica dos livros do Novo Testamento! Vemos isso no que se segue nas próximas frases, onde ele diz:
[O uso de critérios inadequados] começou na época da Ortodoxia, repetiu-se de uma nova maneira no século XIX e continua até nossos dias: a ‘autenticidade’ das declarações – a autoridade do Novo Testamento – tinha como pressuposto o fato de que seus apóstolos e testemunhas oculares estavam falando. [p. 105, ênfase nossa]
Aland prossegue nas frases a seguir em zombar abertamente de tal sugestão:
Tão logo os estudos críticos provaram que este ou aquele escrito do Novo Testamento não poderia ter sido escrito por um apóstolo, a autoridade de seu autor entrou em colapso junto com ele; e com a autoridade do autor, a autoridade dos escritos do Novo Testamento ruiu junto com ele; e com a autoridade da escrita do Novo Testamento colapsou a autoridade da Igreja […] Claro, o fundamento genuíno de fé não foi perturbado, mas apenas um falso fundamento – no entanto, um falso fundamento que a Igreja havia proposto como genuíno […] [ênfase nossa]
Aland prossegue afirmando o que vê como tolice, assumir a autoria apostólica dos escritos do Novo Testamento ao tentar provar seu absurdo a partir das epístolas católicas. Diz ele:
Se as epístolas católicas foram realmente escritas pelos apóstolos cujos nomes elas levam e por pessoas que eram mais próximas de Jesus (por Tiago, o irmão do Senhor; por Judas, irmão de Tiago; pelo príncipe dos apóstolos, Pedro; por João, filho de Zebedeu; se o Evangelho de João foi realmente escrito pelo discípulo amado de Jesus), então surge a verdadeira questão: havia realmente um Jesus? Jesus pôde realmente ter vivido, se os escritos de seus companheiros mais próximos estão repletos de tão pouco de sua realidade? As epístolas católicas, por exemplo, têm tão pouco em si, da realidade do Jesus histórico e seu poder, que basta para Tiago, por exemplo, mencionar apenas o nome de Cristo de passagem […]
Quando observamos isso – assumindo que os escritos sobre os quais estamos falando realmente vêm de seus supostos autores – então quase parece que Jesus era um mero fantasma e que o verdadeiro poder teológico não estava com ele, mas com os apóstolos e com a igreja terrestre […]” [p. 106, ênfase adicionada]
Para o escritor deste tratado, a tolice dessas declarações quase se iguala à maldade de suas blasfêmias. As epístolas de Pedro pintam Cristo como um mero fantasma? A vida de Cristo expressa nos preceitos de Tiago deve ter sido escrita por um homem que realmente não conhecia a Cristo? Essas declarações não são apenas perversas; elas são totalmente estranhas.
Como pode um homem que considera as inspiradas epístolas católicas com tanto desprezo, fazendo declarações tão depreciativas como essas, realmente crer que elas são de fato a inspirada e inerrante Palavra de Deus, que merecem um lugar no cânon inspirado? Ele simplesmente não pode. O Kurt Aland de 1985 é o mesmo Kurt Aland de 1961 e 1962, só que pior.
Certamente, a condenação inteiramente subjetiva de Aland às Epístolas Católicas o revela pelo que ele é: alguém da alta crítica alemã. É um alto crítico que usa o raciocínio subjetivo para alegar, em sua opinião, como o texto foi criado e transmitido. Especificamente, ele faz avaliações subjetivas dessas epístolas, para aduzir que elas não poderiam ter sido escritas por testemunhas oculares do Senhor, porque demonstram tão pouco do Cristo histórico e Seu poder. Consequentemente, ele infere que elas não foram escritos por aquelas testemunhas oculares, mas por outros homens que falsificaram os nomes dos apóstolos em seus textos. Claramente, em A History of Christianity Aland ainda mantém suas noções blasfemas que ele expressou em sua obra anterior, The Problem of Anonymity and Pseudonymity: que os homens, sob o poder de algum ‘espírito’, falsificaram os nomes dos apóstolos para suas obras porque eles estavam falando como os apóstolos falavam (embora não em seu poder original e conhecimento experimental).
Já vimos que Aland duvida da autoria apostólica do Evangelho de João na passagem citada acima. Ele teve a ousadia de dizer: “([…] se o Evangelho de João foi realmente escrito pelo discípulo amado de Jesus), então surge a verdadeira questão: havia realmente um Jesus?” É espantoso para este autor que o Dr. Aland possa até ousar afirmar que o Evangelho de João pinta o Cristo histórico como um mero fantasma, mas ele é ousado e desavergonhado para fazer isso, não é? Mas agora, consideremos brevemente as observações que provam seu ceticismo com relação à autoria apostólica de todos os Evangelhos.
Na passagem abaixo, Aland condena duas noções. Ele condena a noção de alta crítica de que os Quatro Evangelhos foram escritos no séc. II. Mas, por outro lado, ele condena a noção de que os Quatro Evangelhos foram de fato escritos pelos quatro evangelistas cujos nomes aparecem nos títulos desses livros. Diz ele:
Assim, o Evangelho de Marcos foi escrito pouco antes do ano 70 d.C., e o Evangelho de Mateus não muito depois. O Evangelho de Lucas originou-se pouco antes de 80 d.C. (estudos prudentes não nos permitem datá-lo muito depois), e o Evangelho de João pertence à época em torno de 90-95 d.C. A datação tardia desses Evangelhos até o séc. II (que costumava ser considerada atualizada e pela qual as pessoas julgavam a ‘erudição’ de um teólogo, assim como as pessoas do outro lado mediam a piedade de um teólogo pelo fato de ele possuir os nomes atribuídos aos escritos dos indivíduos como realmente “genuínos”) tornaram-se obsoletos e esperamos que não retornem. [p. 99, ênfase adicionada]
Assim, vemos que o Dr. Aland rejeita de imediato a autoria dos Quatro Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, com ainda maior veemência do que em 1962.
Apenas em um aspecto Aland parece ter mitigado seu desprezo pelas epístolas católicas. Anteriormente, em The Problem of the New Testament Canon, ele havia dito que as Epístolas de Inácio as superavam. No entanto, em A History of Christianity, ele revisa seus pontos de vista para o seguinte:
Apesar de toda a falta de princípios, apesar de toda a arbitrariedade, apesar de todos os erros – o que a igreja recebeu no Novo Testamento está em um nível incomparavelmente mais alto do que todas as outras literaturas cristãs primitivas. Nenhum dos escritos dos Pais Apostólicos pode, mesmo remotamente, se comparar com aqueles do Novo Testamento […] [pp. 113-114, ênfase nossa]
Portanto, embora na opinião do Dr. Aland as epístolas católicas sejam bastante pobres – elas retratam um Cristo fantasma e são obviamente a obra de homens que não conheciam a realidade e o poder do Cristo histórico – ainda assim, sua obra ainda excede de alguma forma os Pais Apostólicos, incluindo Inácio. Talvez ele tenha pensado que poderia nos apaziguar com esses comentários reconfortantes.
Em outra parte da obra, Aland questiona a autoria paulina de Efésios – mas adiamos considerações adicionais sobre esta obra. Está perfeitamente claro que o Dr. Aland não pertencia à verdadeira Igreja, nem estava na linhagem da verdadeira Igreja. Portanto, de acordo com Isaías 59:20–21, ele não é um daqueles por quem as verdadeiras palavras de Deus devem ser preservadas.
Conclusões
O Dr. Aland exerceu uma influência muito poderosa e perigosa sobre as visões textuais de nossos modernos tradutores da Bíblia. Ele claramente não crê que a Bíblia seja a Palavra de Deus. Acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus é claramente o fundamento da fé salvadora. A fé é pelo ouvir, Romanos 10:17 nos diz; mas esse ouvir é pela Palavra de Deus. A primeira epístola de Paulo aos Tessalonicenses 2:13 nos diz especificamente que aqueles que creem não receberam a Palavra de Deus como se fosse a palavra dos homens, mas como a Palavra de Deus. “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes.” Pela frase “vós, os que crestes”, Paulo mostra claramente que ele quer dizer que todos os crentes, junto com os tessalonicenses, pensam assim. Consequentemente, qualquer um que não acredita que a Bíblia seja a Palavra de Deus não é um verdadeiro crente.
Ser tal qual o Dr. Aland, não era um verdadeiro crente em nenhum sentido; não podemos considerá-lo como pertencente à linhagem da verdadeira Igreja pela qual as verdadeiras leituras das Escrituras seriam preservadas.
Precisamos estar fundamentados em uma teologia das Escrituras que está fundamentada nas próprias Escrituras. E o que diz a Escritura?
2Timóteo 3:16-17 – Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Provérbios 30:5 – Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele.
Isaías 59:20-21 – E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o Senhor. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre.
Admitimos que existem bons homens e mulheres que por engano adotaram a “nova erudição” e as traduções mais recentes baseadas em textos gregos compilados por homens como o Dr. Aland. (Os críticos textuais do texto grego moderno que precederam o Dr. Aland eram de tendência semelhante, mas revisar todas as visões doutrinárias deles está além do escopo deste artigo.) Mas para esses bons homens e mulheres, homens e mulheres que realmente acreditam na inerrância e infalibilidade das palavras de Deus, mas que abraçaram o texto de Nestle-Aland, imploraríamos que considerassem os caminhos deles. É sábio sustentar num assunto tão importante quanto ao que realmente compreende a Palavra de Deus nas mãos de um sério errista como o Dr. Aland? A Palavra de Deus e sua doutrina a respeito de sua própria inspiração e transmissão em cada jota e til, e que, por meio da verdadeira Igreja, aquela Igreja que “se afasta da transgressão”, não torna totalmente impróprio a um incrédulo editar seus textos sagrados? O que diz a Escritura?
“E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o Senhor. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles (ênfase nossa). Com quem é esta aliança graciosa e gloriosa? E quais são suas disposições?
A aliança é com aqueles que “abandonam a transgressão”. É com aqueles que conhecem o arrependimento salvador para a vida. É verdade que bons homens do passado parecem às vezes ter citado uma versão pobre de um texto – se é que suas próprias obras foram copiadas corretamente! Mas a verdadeira Igreja em geral recuperou a melhor leitura. Para aquela Igreja, e para seu texto Providencialmente Preservado, devemos, e de fato temos que olhar.
Precisamos permanecer com as versões da Bíblia traduzidas dos textos históricos da verdadeira Igreja – o Textus Receptus em grego para o Novo Testamento e o Texto hebraico massorético para o Velho. Os tradutores de nossa Versão Autorizada eram homens que criam na Bíblia, sob a aliança de Deus. Fiquemos com os antigos limites, com o trabalho experimentado e fiel dos tradutores da Versão Autorizada [em inglês, e com a Bíblia de Almeida, Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, em português].
Jeremias 6:16 – Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.
Traduzido em português por Ícaro Alencar de Oliveira. Rio Branco, Acre, Brasil: 24/08/2020.
Notas
[1] Michael Marlowe, ‘Bibliography of Textual Criticism’, [Bibliografia da Crítica Textual] Disponível em <www.bible-researcher.com/bib-a.html>, acessado em 27/02/2007.
[2] Kurt Aland, ‘The Problem of Anonymity and Pseudonymity in Christian Literature of the First Two Centuries’, The Authorship and Integrity of the New Testament: some recent studies by Kurt Aland, et al. [O Problema do Anonimato e Pseudonimato na Literatura Cristã dos séc. I e II, a autoria e a integridade do Novo Testamento: alguns estudos recentes por Kurt Aland, et al.] London, England: SPCK, 1965.
[3] Kurt Aland, The Problem of the New Testament Canon [O Problema do Cânon do Novo Testamento]. London, England: A. R. Mowbray & Co., 1962.
[4] F. H. A. Scrivener, Plain Introduction to the Criticism of the New Testament [Uma Simples Introdução à Crítica do Novo Testamento], 2 vols. Eugene, OR, USA: Wipf and Stock Publishers, 1997.
[5] Kurt Aland, A History of Christianity [Uma História do Cristianismo], 2 vols. Philadelphia, PA, USA: Fortress Press, 1985.
[6] Aland, Problem of the New Testament Canon [Problema do Cânon do Novo Testamento], p. v.
[7] Edward Freer Hills, The King James Version Defended (Des Moines, IA, USA: The Christian Research Press, 1984), pp. 104–5.
[8] Holy Bible: New International Version [Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional] (East Brunswick, NJ, USA: International Bible Society, 1986), p. 83. [Nota do tradutor: Na Nova Versão Internacional em Português, lemos a seguinte nota de rodapé: “7.53 Muitos manuscritos não trazem João 7.53-8.11; outros manuscritos deslocam o texto.” (Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional. São Paulo, SP: editora Vida, 2000. p. 834).
[9] Kurt e Barbara Aland, The Text of the New Testament [O Texto do Novo Testamento], Erroll F. Rhodes, trad., 2ª ed. Grand Rapids, MI, USA: William B. Eerdmans Publishing Co., 1995.
[10] Greek New Testament [Novo Testamento Grego], 1ª ed. Stuttgart, Alemanha: Wurtemburg Bible Societies,1966. Essa nota de rodapé foi mantida na 2ª edição (1968), alterada na 3ª (1975) para indicar que a passagem deveria ser incluída e alterada na 4ª (1993) para indicar novamente a omissão.
[11] Erasmo, sem dúvida, estava ciente do manuscrito do Vaticano talvez já em 1521. Sua familiaridade é mais plenamente vista em sua correspondência de 1533 com Sepúlveda a respeito das diferenças entre os textos gregos do Vaticano e de Erasmo e a semelhança do último com o texto da Vulgata Latina. No entanto, Erasmo optou por não corrigir seu texto grego para refletir essas diferenças. Muitos pensam que Erasmo considerou o Vaticano inferior aos manuscritos gregos sobre os quais ele construiu seus textos – e talvez uma corrupção do texto grego – e, portanto, optou por não usá-lo.
[12] Edward Hills, Believing Bible Study [Estudos do Crente na Bíblia] (Des Moines, IA, USA: The Christian Research Press, 1967), p. 34.
[13] Ibid.
[14] Hills, The King James Version Defended [A Versão King James Defendida], pp. 69–70.






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