(Por Sitri Silas)

Hoje em dia há um movimento de interesse pelos eventos da Reforma Protestante e pelos reformadores em geral, tanto no tocante a sua teologia (o que eles criam) quanto a sua história (o que eles fizeram). Deste interesse emerge uma busca pelo conhecimento da época, testemunhos sobre os fatos ocorridos e personagens envolvidos nestes fatos. Ocorre que há um grupo que, devido a testemunhos de seus inimigos da época, possui má fama ou má compreensão tanto pela sua teologia (o que criam) quanto pela sua história (o que faziam). Este era o grupo denominado anabatista.

Os anabatistas eram um grupo distinto dos católicos e protestantes, tanto em sua origem (Idade Média) quanto no seu entendimento de várias doutrinas. No entanto, isso não significa que eram heréticos ou que possuíam doutrinas estranhas ao cristianismo bíblico e ortodoxia histórica, talvez por não se enquadrarem em nenhum dos dois, muitas acusações foram feitas de forma injusta e errônea de ambos os lados Há dois grupos de erros que, infelizmente foram se espalhando e até hoje são transmitidos como verdade, são os erros no tocante ao que fizeram, nesse caso tendo acusações de rebeldia contra a autoridade, negação da autoridade do Estado ou admissão da magistratura, rebeliões subversivas e diversos erros de conduta (como poligamia, negação da propriedade privada, etc.), e erros no tocante ao que criam, de aspecto doutrinário, nesse caso eram acusados de negar a divindade de Cristo e a Trindade, negar a salvação pela graça, a justificação pela fé, até humanidade de Cristo e a salvação dos infantes. Tais erros são comuns e perigosamente propagados como se fossem verdadeiros, veremos ao longo deste artigo que há muitos equívocos, má interpretações e algum nível de desonestidade nestas asserções.

Em primeiro lugar o nome “anabatista” não era um nome somente para distinguir, mas para ofender, os próprios anabatistas desprezavam este nome dado por seus adversários, tanto pelos reformados quanto pelos católicos. Além disso, seus oponentes usavam a nomenclatura para identificar qualquer grupo que não aceitassem as igrejas magisteriais (ligadas ao Estado, tanto protestantes quanto católicas), o que incluía grupos de fato heréticos (como grupos gnósticos, socinianos, arianos e etc.), mas que não eram ligados aos “verdadeiros” anabatistas, que eram ortodoxos no tocante aos credos dos principais Concílios da Igreja.

Idêntico problema ocorre nas acusações sobre a defesa de doutrinas errôneas destes grupos anabatistas baseando-se em afirmações de seus oponentes. Isto é, acusar os anabatistas de defenderem certas doutrinas, ou de terem envolvimento em certos eventos, baseando-se em textos, panfletos e demais publicações feitas por seus adversários, ao invés de procurar em fontes fidedignas e primárias (como os próprios escritos de anabatistas ou seus credos) a fim de verificar a veracidade das acusações proferidas. Neste artigo demonstraremos, através de fontes primárias e de pesquisa na literatura anabatista, que muitas dessas acusações não são procedentes ou embasadas nos fatos históricos e nas assertivas doutrinárias.

Os anabatistas, o governo civil e as rebeliões

Um dos tipos de acusações dos anabatistas é justamente sua relação com o governo civil, a sociedade, o “uso da espada” e as rebeliões populares e camponesas que ocorreram no século XVI na Europa e foram colocadas como sendo de origem e influência anabatista. Nós iremos destacar as duas principais: A Revolução (ou Guerra) Camponesa e a Rebelião de Münster.

Revolução Camponesa

A Revolução ou Guerra Camponesa foi iniciada em 1524 na Alemanha, durou até 1525 e deixou cerca de 100 mil mortos. Esta rebelião tinha motivos diversos que iam desde o ambiente sociopolítico da Europa em polvorosa nesta época, onde havia o declínio do poder do clero e da nobreza e o descontentamento em massa da população mais pobre até os motivos e influências religiosas e teológicas, que é o aspecto que abordaremos aqui.

Antes de falarmos desta rebelião temos que falar de um grupo chamado taboritas. Este era um grupo de radicais oriundos do movimento feito pelo pré reformador John Huss, onde reivindicavam a abolição da propriedade privada, a distribuição das riquezas, e o fim da nobreza e dos impostos. Este grupo foi a ala mais radical dos hussitas, e foi rechaçado no século XV, seus seguidores se espalharam e muitos foram mortos durante a rebelião na Boêmia provocada por John Huss e seus adeptos.

Tendo explanado sobre o problema havido na Boêmia, havia agora na Alemanha o mesmo descontentamento com a elite, dentro desse contexto aparece o principal líder desta revolução: Thomas Munzter. Thomas Muntzer foi um teólogo alemão nascido em 1490 na Saxônia, se tornou padre em 1513. Em 1517 viu acontecer a Reforma Protestante e se encontrou com Lutero em 1519 e aderiu aos ensinos reformados de Lutero. Lutero recomendou seu amigo Muntzer como pastor numa igreja luterana em Zwickau. Foi nesta cidade que conheceu os “Profetas de Zwickau”, que eram homens com influência direta dos taboritas (já citados) e com ideias dos mesmos. Muntzer então, influenciado pelos “profetas”, aderiu aos ensinos taboritas,, entre eles: a implantação do Reino de Deus sobre a terra (uma espécie de milenarismo distorcido), as ideias de justiça social, e outras ideias radicais de um dos profetas chamado Nicholas Storch, que defendia métodos violentos e radicais para que as ideias taboritas fossem implantadas.

Logo após isso, Muntzer iniciou uma série de sermões na igreja luterana de Zwickau defendendo as ideias radicais dos “profetas” e se tornando mais e mais violento nos seus ataques e, com a volta do pastor anterior a igreja ele começou a pastorear uma igreja própria com adeptos taboritas e seguidores dos “profetas”, composta de trabalhadores pobres e desempregados. Em 1521, devido a crescente antagonização entre seus seguidores e os políticos e elite da cidade, foi expulso de Zwickau, juntamente com Nicholas Storch. Storch foi para Wittenberg, onde acabou sendo expulso por Lutero e Muntzer foi para a cidade de Praga, onde foi bem recebido pelos pastores luteranos lá, inclusive pregando nas igrejas luteranas. Isso durou até o fim de 1521, quando suas ideias revolucionárias, que ainda encharcavam seus sermões, foram rejeitadas pelos luteranos de Praga. Após longo período vagando por cidades se estabeleceu como pastor numa cidade chamada Alstedt. Foi aqui que ele organizou a “Liga dos Eleitos”, e também foi onde ele se radicalizou de vez, se afastando por completo da teologia luterana. Iniciou-se então os ataques a propriedade dos nobres, conventos e monastérios, seu grupo saqueava o que encontrava. O nível de ataques foi aumentando, até que Frederico I, rei da Saxônia e amigo de Lutero, convocou Muntzer para expor suas ideias, o que ocorreu em Julho de 1524. Nesse mesmo ano teve seu único contato documentado com líderes anabatistas: uma carta escrita por Conrad Grebel e assinada pelos anabatistas suíços, na qual os anabatistas reconhecem algumas posições teológicas de Muntzer como boas, mas exalta a fica sem o uso da espada¹.

Após uma exposição apaixonada e perigosa para as elites sobre suas visões, e após seu sermão ter sido impresso e distribuído, houve um descontentamento geral entre a nobreza alemã, Lutero e o rei Frederico. Isto fez com que a elite da cidade de Alstedt se propusesse a expulsar Muntzer, o que não ocorreu visto que o mesmo fugiu deixando sua família e seus bens para trás. Não demorou muito para ele se estabelecer em outra cidade alemã, agora em Mullhausen, onde encontrou um adepto de suas idéias chamado Henry Pfeiffer. Muntzer então se tornou líder da “Liga dos Eleitos” de lá. Foi aí que instigou a revolta popular, tomou o poder da cidade e preparou um exército. Tal exército foi facilmente derrotado pelas tropas do duque João (que substituiu seu irmão Frederico I), matando mais de 70% dos rebeldes e prendendo, torturando e, por fim, matando Muntzer e Pfeiffer. Esse evento deflagrou a guerra que se espalhou pela Europa, tendo como principal massa insatisfeita os camponeses e a visão sociopolítica e religiosa de Muntzer, o resultado foi cerca de 100 mil mortos.

Rebelião de Munster

Quase dez anos após a Revolução Camponesa eclodiu outra rebelião, novamente colocada na conta dos anabatistas, denominada Rebelião de Munster. Esta iniciou na cidade de Munster e foi de 1534 a 1535. A rebelião eclodiu em 1534, através de Jan Matthys, um melchoriano (veremos a seguir), que deturpou os ensinamentos de Melcior Hoffmann.

Melchior Hoffmann nasceu em Wittenberg no ano de 1495, foi bem educado e adquiriu um conhecimento bom da Escritura, sendo influenciado pelos escritos de Lutero e se tornou um seguidor deste, inclusive encontrou-se com Lutero em 1525, o qual o recebeu alegremente. Juntos enviaram cartas para alguns lugares aonde a Reforma havia se estabelecido. Ele foi então para Tartu (Estônia) onde, por recomendação de Lutero, foi recebido pelo pastores luteranos. Não demorou muito e começou as rixas com esses pastores, Hoffmann tinha uma visão apocalíptica que o reino de Deus era iminente, e que os pastores não estavam se santificando o suficiente. As rusgas aumentaram até que saiu da cidade. Hoffmann começou a enxergar problemas nas visões luteranas e na vida dos pastores luteranos, principalmente na eclesiologia e santificação respectivamente. Mesmo assim foi como pastor luterano em 1526 para a Suécia, sendo, por suas pregações radicais, convidado a se retirar em 1527. Foi nesse tempo na Suécia que ele escreveu sobre sua escatologia, comentando o livro e Daniel e dando o ano do juízo final: 1533.

Hoffmann passou a ser um itinerante, de cidade em cidade, encontrando resistência dos luteranos por sua fama de pregador radical (inclusive de Lutero), mas conseguiu ser bem quisto por Frederico I, rei da Saxônia. Este o pôs como pastor em Kiel ao lado de outro pastor. Não demorou muito para que Lutero ficasse sabendo dos problemas que as pregações radicais de Hoffmann estavam causando, ele saiu então de Kiel e, em 1529, foi para Estrasburgo. Em Estrasburgo Hoffmann, que já tinha a ideia de um reino milenar a ser implantado na terra hodiernamente a ele, conheceu os anabatistas e se juntou ao grupo, deixando o luteranismo. Em 1530 foi batizado pelo anabatista Reublin, mas ficou pouco tempo em Estrasburgo por ofender as autoridades em seus sermões. Ele acabou voltando para a cidade, mas saiu de novo e foi para Amsterdam, houve perseguição ao seu grupo lá (denominado melchioritas) e ele voltou de novo a Estrasburgo em 1533, desta vez ficou agindo discretamente e ficou um tempo sem ser importunado. Em maio de 1533 ele foi preso por “profetizar” a morte de todos os ímpios da cidade, antes que o reino de Deus fosse estabelecido lá (achava que Estrasburgo seria a Nova Jerusalém). Depois de muitos concílios feitos na cidade ele foi mantido preso, sempre reiterando que os anabatistas não deviam portar espadas ou causar qualquer revolução. Reiterou essas crenças em 1539, foi preso e liberto várias vezes até 1543, quando pelos maus tratos na prisão foi morto.

As ideias de Hoffmann, principalmente no tocante a instalação de um reino terrestre milenar naquela época se espalharam. Foi aqui que entraram dois personagens da Rebelião em Munster: Jan Matthys e Benhard Rothmann. Benhard Rothmann era um cônego da igreja luterana em Munster, ele tinha sido um católico, mas virou luterano e implantou a Reforma em Munster com sucesso, em 1533 a cidade foi declarada como luterana.  Foi nessa hora que entrou Jan Matthis na história, ele era um discípulo de Melchior, mas rejeitou os ensinamentos deste e usurpou a liderança entre os melchioritas, se autoproclamando Enoque e aderindo a violência e coerção para “implantar” o reino terrestre divino. Ele largou sua esposa e filho e começou a pregar essas crenças autodeclaradas angariando discípulos em Amsterdam, batizando estes. Dois destes foram a Munster, Gerrit Boeckbinder e Johan Bockelson (também chamado João de Leyden) em janeiro de 1534, estes convenceram Rothmann das crenças de Matthys e batizaram ele. Em fevereiro do mesmo ano, Jan Matthis também foi para Munter e assumiu a liderança do grupo, espalhando pela cidade suas ideias revolucionárias e violentas contra as elites. Matthys provocou uma insurreição que conseguiu expulsar o bispo e líder da cidade Franz von Waldeck, que voltou com suas tropas. Matthys, em suas crenças radicais se juntou a 12 homens e tentou batalhar contra os homens do bispo, se declarando como “Gideão”. Acabou sendo morto, esquartejado e suas partes foram expostas.

Mas isso não acabou com a rebelião, João de Leyden, talvez seu discípulo mais entusiasmado, tomou seu lugar e, apesar do cerco das tropas do bispo Franz von Waldeck, instaurou uma teocracia e se declarou rei da cidade de Munster. Aqui há de se fazer uma ressalva: é necessário cautela para saber o que houve na cidade. Há relatos de que fora liberada a poligamia, o próprio João de Leyden teria tido 16 esposas e executado uma delas por rebelião, o problema é que tais relatos partem de seus inimigos. Sabemos que as crenças de Matthys eram radicais e instigavam, de fato, uma imposição violenta e rebelde de uma teocracia inaugurando um suposto “reino milenar”. O que sabemos, que de fato ocorreu, foi que a cidade resistiu até o final do ano de 1535, quando as tropas conseguiram derrotar os rebeldes e capturaram João de Leyden. No início de 1536 ele, juntamente com outros líderes, foi torturado duramente, sua língua foi arrancada, seu corpo rasgado, depois queimado, cortado e exposto na igreja de São Lambert. Terminava assim a rebelião na cidade de Munster.

Análise dos distúrbios

Após este breve relato dos fatos históricos há algumas coisas que devem ser ponderadas. Em primeiro lugar nas duas principais revoltas e rebeliões há a participação ativa de clérigos e pastores luteranos, mas nunca se relata que tais eram luteranos em sua origem ou que a doutrina luterana teria influenciado eles, embora a origem luterana seja algo muito mais comprovado que qualquer influência anabatista. Da mesma forma, o fato de algum destes ter se voltado para doutrinas anabatistas não implica que as ações ou mesmo que os tais eram anabatistas de fato. No primeiro caso o líder (Muntzer) foi diretamente influenciado, não por doutrinas ou práticas anabatistas, mas sim taboritas, que eram originárias do movimento radical pré-reforma de John Huss, e não tinha qualquer ligação com o anabatismo da Idade Média, nem com o anabatismo da época da Reforma, sendo que o único documento que relaciona Muntzer e os anabatistas possuía uma exortação para não se usar a espada e os meios rebeldes[1], exortação obviamente ignorada por Muntzer. No segundo caso, o anabatista envolvido foi Melchior, mas este pregava abertamente o pacifismo (como muitos anabatistas) e não a violência, rebelião ou coerção pela espada. O problema foi que um de seus seguidores deturpou alguns de seus ensinos (Jan Matthys) e os aplicou de forma totalmente fora do escopo, seja doutrinário, seja prático, de seu mestre anabatista. Neste caso temos um escrito interessante de um teólogo reconhecidamente anabatista: Menno Simons. Ele fez um tratado contra os rebeldes de Munster chamado Testemunho Contra John Van Leyden”, onde ele, já no início, descreve a crença de Leyden como “abominável e terrível blasfêmia[2], na mesma obra ele diz que é blasfêmia que alguém se intitule Rei além de Cristo (como Leyden fez em Munster), chama Leyden de anticristo, repudia a revolução com a espada promovida por ele, entre outras duras críticas. Novamente temos um fato: o único documento anabatista em relação a Munster reprova a doutrina, a revolução e a prática dos revoltosos.

Nos dois casos houve acusações pesadas, algumas de fato verdadeiras, mas outras inventadas a fim de mobilizar uma perseguição generalizada a qualquer grupo que fosse contra as igrejas denominadas magisteriais (com apoio do Estado). Mostraremos depois o motivo destas generalizações, mas importante ressaltar que tais falsas classificações desses atos como inerentes ao anabatismo, teve consequências graves: todos que eram assim classificados, não por similaridade, mas por conveniência de governantes, reformadores e católicos, eram imediatamente julgados como subversivos, rebeldes, desordeiros sociais e insurgentes contra o governo civil. Óbvio que isto não era de fato verdade, e, por isso, muitos foram injustamente perseguidos, presos, torturados e mortos. Um último aspecto interessante é que várias guerras, batalhas e conflitos altamente sangrentos foram travados entre protestantes e católicos nesta época, e nenhum destes grupos ficou com a fama de rebeldes ou desordeiros como os anabatistas, pois eram os católicos e protestantes que controlavam o poder político e social, e, consequentemente, as informações que eram difundidas nesta época. Mas como vimos os documentos dos reconhecidamente anabatistas não apoiam qualquer tipo de revolução ou de rebelião e subversão que fora promovida por Thomas Muntzer ou na cidade de Munster.

A conclusão é óbvia: a doutrina e prática anabatista não dava suporte ou incentivo as rebeliões, pelo contrário, em todos teólogos anabatistas há um apelo para as autoridades como constituídas por Deus e uma desaprovação total aos métodos rebeldes e subversivos.

Os anabatistas e os grupos heréticos

Outro aspecto que originou problemas e gerou mitos sobre os verdadeiros anabatistas foi o doutrinário. Aqui há dois tipos de problemas que eram (e que são) comuns hoje em dia sobre os anabatistas dessa época: a má compreensão de alguns ensinos e a denominação generalizada dada a todo grupo sectário como “anabatista”. Como toda compreensão histórica de um fato, ou de fatos, é necessário sempre se dirigir a fonte primária, ou o mais próximo desta, para verificar se alguma acusação contra qualquer pessoa ou grupo procede. Mas muitos, tanto antes como hoje, cometem o erro de tomar como verdade uma acusação de um opositor ou adversário contra um grupo ou um indivíduo sem se preocupar com a procedência do mesmo, nem mesmo com a contextualização, a fim de pelo menos não cometer o erro do anacronismo. É necessário ser prudente a ponto de verificar, em qualquer acusação doutrinária que seja levantada, os credos, tratados teológicos, escritos de componentes do grupo acusado, elogios de seus adversários, etc, antes de se afirmar qualquer coisa sobre o movimento anabatista ou qualquer outro que seja. A falta de cuidado nisso resultou no problema verificado acima acerca das revoltas e rebeliões, um verdadeiro genocídio de inocentes. Nesse caso doutrinário, pode ocorrer assassinato de reputações e falsas acusações de heresias ou generalizações (como aliás ocorreu na época). Para melhor didática iremos expor sobre as heresias que foram imputadas aos anabatistas, resumir suas crenças e depois comparar com os escritos de teólogos anabatistas representantes desta vertente na época.

As heresias

Existiram muitas heresias ao longo da história da Igreja, mas algumas sempre foram mais prejudiciais e insistentes perdurando por muito tempo e reaparecendo vez ou outra (algumas perdurando até hoje). Dessas heresias vamos nos ater aquelas que eram vistas como altamente prejudiciais e que foram colocadas na conta da teologia ou grupos anabatistas. Dentre essas então destacaremos duas: gnosticismo e arianismo.

Anabatistas e o gnosticismo

Foi a acusação que veio desde a Idade Média contra os grupos anabatistas, seus inimigos nesta era (católicos romanos), acusavam grupos anabatistas (bogomilos, albingenses, etc) de aderir as crença gnósticas.

O gnosticismo foi uma heresia que iniciou no século I (provavelmente oriunda de Simão, o Mago) e trouxe bastante complicações para a igreja no início de sua existência, na verdade muitos escritos neotestamentários são combativos a vários ensinos heréticos gnósticos. Os gnósticos mesclavam cristianismo com filosofia grega (principalmente platônica) e paganismo, afirmando que havia não um, mas dois deuses, um mal e, geralmente criador deste mundo (daí concluíam que a matéria e, por consequência o corpo eram maus) e um deus bom (geralmente uma derivação do “Uno” platônico), que não podia ser conhecido, a não ser que se chegasse num estado de elevação espiritual e conhecimento (chamado gnose) para desvendar os mistérios e ser salvo.

Havia pouca disposição na época em conhecer os credos e pregações anabatistas e muita disposição em perseguir o movimento que batia de frente com o poder religioso e político. Isso culminou em acusações que se baseavam em falta de vontade de entender os ensinos anabatistas, e a vontade exagerada em poder atacá-los de qualquer forma que fosse. Só como exemplo, no caso do gnosticismo, muitos eram acusados de gnosticismo somente por entenderem a relação entre a Lei e a Graça de forma diferente do aspecto católico ou reformado, aí eram acusados de negar o Antigo Testamento (uma prática comum do gnosticismo), outro exemplo era que o fato de conclamarem uma pureza e santidade fazia com que muitos comparassem, de forma arbitrária e absurda, com a afirmação gnóstica que somente os gnósticos tinham o conhecimento para a salvação. Mas ao ver os escritos anabatistas acerca destes assuntos, não há nenhum rastro de gnosticismo. Primeiro as confissões apontavam para uma crença no Deus da Bíblia como único e conforme o credo apostólico ensinava, a confissão de Fé Valdense (grupo anabatista) já afirmava isso antes da Reforma em 1120[3], dizendo crer nos doze artigos do credo apostólico e em toda Escritura, a Confissão de Fé de Schleitheim (1527) afirmava com veemência a morte e ressurreição física de Cristo[4] (outra coisa que os gnósticos negavam), já a declaração de Riedemann (1540) afirmava a salvação pela redenção em Cristo (que os gnósticos também negavam), junto com a regeneração e tendo sua fonte na fé[5]. Por fim a confissão menonita  (outro grupo anabatista) de 1632 afirmava categoricamente que Deus era o Criador deste mundo e que era bom[6].

Além claro das confissões, temos ainda os escritos dos teólogos anabatistas da época, que são ainda mais claros na aderência a ensinos totalmente estranhos ao gnosticismo. Baltasar Hubmaier em seus Dezoito Artigos Sobre Toda a Vida Cristã, E o Que Eles Consistem (Achtzehn Schluß Rede So Betreffende Ein Gantz Cristlich Leben, Waran Es Gelegen Ist) destaca no ensino escriturístico o livro dos Salmos, do Antigo Testamento[7], Hubmaier também defendia veementemente a regeneração, até porque a premissa do batismo era um símbolo da própria regeneração[8], ou seja, outra crença que batia de frente com as heresias gnósticas. Outro anabatista que veio após Hubmaier foi Mennon Simons, dele podemos citar algumas crenças que o colocava em oposição ao gnosticismo. Um exemplo disto é a crença no AT, já no início de sua obra magna, Mennon Simons recorre ao Antigo Testamento para suplicar a piedade dos governantes[9], além disso há inúmeras referências a versículos do Antigo Testamento, até mesmo como norma de conduta e referentes a Cristo. Isto somado as confissões e demais escritos anabatistas, claramente refuta a ideia de gnosticismo dentro da teologia anabatista.

Anabatistas e o arianismo

Os anabatistas, pelo menos alguns, também eram acusados de arianismo. O arianismo foi uma heresia que tem suas origens no século III, tem como precursor um certo Teódoto de Antioquia, que ensinava uma visão adocionista, depois seu sucessor Paulo de Samósata deu corpo a doutrina e influenciou um certo bispo chamado Ário. Ário, a partir de sua visão sobre Deus, o homem e a salvação, inferiu que Cristo poderia ser divino, mas não igual ou Deus como o Pai. A partir daí começou a ensinar o que posteriormente seria chamado de arianismo: a negação que Cristo é Deus e da própria Trindade.

Não demorou muito para acusarem os anabatistas de negarem a divindade de Cristo. Até mesmo Lutero fez esta acusação, como veremos a frente, falsa, dizendo “Se alguém ensinasse que Cristo não é Deus, mas um mero homem e como outros profetas, como defendem os turcos e os anabatistas – esses mestres não devem ser tolerados, mas punidos como blasfemadores[10]. Mas, como outras questões vistas anteriormente, estas acusações não passavam de serem desonestas e parciais para colocar os anabatistas como inimigos a qualquer custo.

Em primeiro lugar é bom que muitos grupos heréticos de fato rebatizavam seus adeptos, mas não por uma convicção bíblica acerca do batismo em si, e sim por negar doutrinas basilares do cristianismo (como a Trindade por exemplo), ou seja, não eram anabatistas de fato, é o caso por exemplo dos socinianos. Em outro aspecto, existia o problema de acusarem alguns que se envolveram com o anabatismo e que tiveram a fama de negar a divindade de Cristo, de representar todo o grupo. Este segundo caso é mais importante aqui, pois mexe com indivíduos que foram bem próximos aos círculos anabatistas “de fato”. Destes indivíduos podem-se destacar dois: Ludwig Haetzer e Hans Denck.

Ludwig Haetzer foi um humanista e padre, que em 1523 deixou o catolicismo romano se juntando a Reforma em Zurique, ele publicou algumas obras atacando principalmente a adoração a imagens (Talvez sua obra mais incluenciadora foi Ein Urteil Gottes Unsers Ehegemahls, Wie Man Sich Mil Allen Götzen Und Bildnissen Soll, Aus Der Hl), ataques a missa e traduções e comentários das Escrituras (era erudito em grego, latim e hebraico). Ele se aproximou do grupo da Irmandade Suiça (anabatistas), mas nunca se rebatizou ou de juntou ao grupo anabatista suíço. Depois Haetzer foi para Augsburgo, de onde voltou para Zurique e depois de novo para Augsburgo, onde nunca participou das congregações anabatistas de lá. Quando voltou a Zurique em 1525, concordou com Zwinglio a respeito do batismo infantil, o que contrariava frontalmente a teologia anabatista comum da época, aconteceu o mesmo em Estrasburgo, quando conheceu Hans Denck e discordou do anabatista Michael Sattler quanto ao batismo somente de crentes. Haetzer trabalhou com Denck na tradução diretamente do hebraico dos livros sobre os profetas do Antigo Testamento, e depois foi passando por algumas cidades na Europa Central. Foi acusado de adultério e condenado a morte por isso (embora alguns achem que tenha sido por motivos religiosos e políticos). O trabalho de Haetzer  que foi controverso nesse ponto de sua Cristologia foi um pequeno livro chamado “o livreto de Cristo”, aonde, conforme algumas acusações, ele atacava a doutrina da Trindade e a divindade de Jesus.

O companheiro de Haetzer, Hans Denck também é colocado como um dos que supostamente negavam que Cristo era Deus (ou pelo menos Deus igual ao Pai). Denck nasceu em Habach, na Baviera em 1495, ele se formou na Universidade de Ingolstadt em 1514, se tornou um erudito nas línguas clássicas (hebraico, grego e latim). Em 1523 se tornou reitor numa escola em Nuremberg, mas foi expulso da cidade em 1525. A partir daí passou a ser itinerante, até encontrar em Estrasburgo a Ludwig Haetzer, com quem se juntou para traduzir os profetas do Antigo Testamento, demonstrando assim todo seu conhecimento em línguas bíblicas e filologia. No mesmo ano de 1525 foi batizado por Baltasar Hubmaier, se juntando de vez aos anabatistas. Denck era espiritualista, cria que a experiência com Deus deveria ir além da simples leitura da Escritura e passar ao campo pessoal e prático. Em 1526 ele foi expulso de Estrasburgo pelo reformador Martin Bucer, embora Bucer tenha sido influenciado pela eclesiologia anabatista em muitos aspectos. Deck morrei em 1527 devido a peste negra. Na doutrina cristológica, Denck partia de sua influência espiritualista alemã, onde a Palavra de Deus era viva e fluente no mundo e na criação, onde se concluía que Cristo era a expressão máxima do Logos divino, cabe destacar que Denck nunca negou que Cristo fosse o próprio Deus, apenas tinha uma visão do Logos mais aberta e expansiva aos homens, o que derivava de sua visão mais experiencialista, esta visão foi denominada “Cristologia do Logos”.

Como vimos acima, o envolvimento de Ludwig com os anabatistas foi algo mais eventual que confessional ou identitário, ele acabou aceitando o batismo de infantes (o que descaracterizava qualquer ligação confessional com o anabatismo) e historicamente pouco se envolveu com congregações anabatistas, a sua ligação com Denck parece ter sido de cunho mais intelectual e autoral do que de fé ou de comunhão. Independentemente disso, sobre Haetzer, sus cristologia é nebuilosa, a sua obra, em que é acusado de atacar a divindade de Cristo de forma direta ou pelo menos evidente, não chegou até nós para podermos verificar a veracidade destes ataque. Tanto Haetzer, quanto Denck, não parecem ter feito alguma apologética com respeito a esta questão, ambos eram conhecidos por serem pacíficos, o que pode justificar a falta de resposta aos ataque a Haetzer, além disso, como vimos e veremos a frente, a invenção de falsas acusações contra os que se dispunham contra a igreja estatal (seja ela católica ou reformada) naquela época, era algo extremamente comum e corriqueiro. Quanto a Denck as inferências sobre a negação da divindade do Filho não partem de seus escritos, mas de uma certa suposição da relação com Haetzer, além de sua visão de “Cristologia do Logos”, onde Palavra de Deus se manifestaria em vários aspectos, sendo o Filho um desses e o principal deles. Ou seja, não há nenhum motivo para afirmar uma cristologia ariana em Denck, somente inferências como estas antes citadas, além disso pesa a favor de uma Cristologia ortodoxa o fato de Hubmaier, que comprovadamente era trinitariano, tê-lo batizado, o que provavelmente não aconteceria se fosse o caso dele negar a divindade de Cristo.

Em ambos os casos as acusações vão além das provas e são, no mínimo, imprudentes. Ainda sim elas são transmitidas como verdadeiras, não só isso, são generalizadas. Ora, mesmo se fosse o caso que, comprovadamente através de fontes primárias e confiáveis, estes dois fossem arianos ou antitrinitários, seria questionável em primeiro lugar o envolvimento de Ludwig como o anabatismo, em segundo lugar, se este envolvimento justificaria colocar a pecha de arianismo em todos anabatistas, isto evidenciaria a falácia da generalização precipitada.

Sobre os grupos heréticos rebatizadores, que acabavam por serem precipitadamente denominados anabatistas ocorria a mesma falácia da generalização: algum grupo rebatizador era ariano, logo todos anabatistas, ou pelo menos a maioria, são arianos. Este pensamento é facilmente refutado pela verificação de fatos sobre estes grupos. Para não estender-se muito, tomemos como um exemplo os socinianos, o grupo ariano mais conhecido dos séculos XVI e XVII.

Os socinianos eram um grupo que teve sua origem no italiano Fausto Socino. Eles advogavam que Deus podia ser entendido pela razão, e que este entendimento podia levar alguém à salvação (gnosticismo), rejeitando o pecado original (pelagianismo), a divindade de Cristo e a Trindade (arianismo). Todas estas crenças podem ser obsevadas no Catecismo Racoviano (1605), produzidos pelo grupo Socianiano da Irmandade Polonesa. É necessário destacar que vários aspectos dos socianianismo são semelhantes ao anabatismo em geral: a crença nos ritos eclesiásticos (ceia e batismo) como memoriais, separação de Igreja e Estado, Bíblia como ultima autoridade (embora esta deveria ser compreendida à luz da razão), etc., mas isso não infere que o grupo tenha origem anabatista.

O problema da identificação com os anabatistas vem da chamada Irmandade Polaca, que teve como líder Fausto Socino e aderiu aos seus ensinos em quase totalidade. Esta chamada Irmandade Polonesa (também denominada Igreja Menor Reformada da Polõnia) advém de um certo Piotr de Goniądz (1525 – 1573), que era um padre na Polônia. Ele foi influenciado pelas obras antitrinitárias de Miguel Servetus (um famoso ariano da época), defendeu a posição ariana num sínodo na Polônia em 1556, de onde foi enviado a Phillip Melanchton, amigo de Lutero, a fim que pudesse rever sua posição antitrinitária, isto foi em vão. Quando voltou para Polônia publicou a obra De filio Dei homine Christo Iesu (Sobre o Filho de Deus, O Homem Jesus Cristo). Suas outras publicações foram favoráveis a posição de que o batismo deveria somente ser dado aos crentes (por influencia dos Hutteritas e dos anabatistas da Morávia), o que lhe rendeu outra condenação em outro sínodo polonês em 1560 e outro em 1565, este último culminou na criação da Igreja Menor Reformada da Polônia, a primeira igreja moderna com viés unitário. Em 1580 chegou à Polônia Fausto Socino com seus escritos antitrinitários, não demorou muito para se tornar um líder espiritual da igreja, embora tenha se recusado a se batizar novamente.

Sobre os socinianos, que se misturaram e se diluíram junto a Igreja Menor Reformada Polonesa, é interessante observar que a ligação com os anabatistas, seja com seus credos, seja com sua conduta, é algo mais de cunho intelectual que orgânico ou ascendente, por exemplo, Piotr de Goniadz nunca foi membro de qualquer igreja anabatista, ou mesmo batizado por algum deles, na verdade ele era um ex padre que participava da Igreja Reformada Polonesa (que era de tradição calvinista e não anabatista). Mesmo depois de sua disputa e eventual divisão da igreja reformada polonesa, ele não voltou para os grupos anabatistas, simplesmente fundou a igreja com os clérigos que lhe apoiavam, ou seja, não houve uma junção com anabatistas. Quanto a depois, com Fausto Socino, a ligação com os anabatistas é menor ainda, além das crenças arianas não fazerem jus aos credos e tratados teológicos anabatistas (como veremos), negou o rebatismo e a necessidade do mesmo.

Contra estas acusações devemos analisar os credos e tratados teológicos dos anabatistas, a fim de comparar as crenças desses dantes citados com as crenças de grupos anabatistas. Para efeito de maior dinamismo nos ateremos a três confissões de Fé anabatista de três grupos diferntes: A Confissão de Fé Waldense de 1544, a Confissão de Schleitheim e a Declaração de Muitos do Povo Chamado Anabatista. A  Confissão de Fé de Schleitheim já no seu início declara a expiação de Cristo, contrariando a crença sociniana da salvação através de conhecimento ou mesmo a negação do pecado original e seus efeitos sobre o homem, além disso aponta Cristo como Deus (parágrafo 3) contrariando outro ensino sociniano e ariano. A Confissão de Fé Waldense é mais sucinta ainda neste aspecto: no artigo 2 já declara “Cremos que há um só Deus – O Pai, O Filho e o Espírito Santo”[11], além de asseverar o pecado da humanidade e necessidade da morte expiatória de Cristo (artigos 6 e 7), outro item contrário as crenças dos socinianos. A mesma asseveração quanto a Trindade se encontra na confissão de fé anabatista (menonita) de 1632, chamada Confissão de Fé de Dordrecht, onde se afirma, já no primeiro artigo, a crença na Trindade, e no segundo a queda do homem e o pecado original[12], ambas doutrinas que vão diametralmente opostas ao que afirmavam os socinianos.

Análise das acusações de heresia

Após observar como essas heresias tanto se originaram como quem as defendeu podemos concluir facilmente algumas coisas.

A primeira é que a ligação dos anabatistas com estas heresias eram mais pelo costume dos adversários católicos e protestantes em colocar qualquer um que divergia de qualquer aspecto de sua doutrina ou prática, seja esta de cunho doutrinário ou religioso, debaixo da alcunha de anabatista, não importando se realmente praticava e defendia o anabatismo (como o caso de Socino). Isto levou a uma falsa generalização e, consequentemente, a uma falsa acusação que se perpetuou pela história, e foi usada inúmeras vezes para justificar (como se fosse justificável) as perseguições sofridas por estes grupos.

Outro aspecto é que mesmo aqueles que tinham ligação com os anabatistas não receberam, pelo menos não em fontes primárias verificáveis, endosso dos teólogos e representantes indubitáveis do anabatismo. Ou seja, mesmo que fosse verdade que alguns destes tivessem se unido a algum grupo anabatista, não se pode demonstrar que houve influência na teologia anabatista em geral, visto que os credos e confissões anabatistas, embora não muito numerosos, não defendem qualquer tipo de heresia que o grupo foi acusado. Em todos os grupos, principalmente da época da Reforma, haviam divergências profundas quanto a vários aspectos doutrinários, principalmente no campo eclesiológico, sacramentológico e soteriológico. Mas isto nunca gerou perseguição entre esses grupos, talvez acusações e documentos, mas com o anabatismo além das acusações (como observado, infundadas ou irrelevantes) e documentos injuriosos, foram feita campanhas de difamação social, de imputação de falsos crimes e de “crimes” que não eram de fato crimes, além da perseguição estritamente religiosa.

Porque os anabatistas foram tão perseguidos?

Esta é uma pergunta que deve ser respondida por aqueles que os perseguiram (católicos e protestantes) de forma sincera, sem desonestidade. Afinal de contas porque perseguir um grupo eminentemente pacifista? Porque difamar e levantar injúrias generalizadas levando a um genocídio, assassinando inocentes e pessoas que não representavam perigo algum para a sociedade? Em que pese as respostas dadas, não há justificativa plausível para tais ações, nem na época da Reforma, nem na Idade Média, nem nunca haverá dentro do cristianismo.

Mesmo que respondam, alguns fatos são necessários dizer agora: as igrejas reformadas eram “filhas” genuínas da Igreja Católica Romana, isso significa que não fizeram nada diferente de sua “mãe” no tocante as perseguições. Tanto que em geral os anabatistas eram condenados e mortos sob as leis de Teodósio e Justiniano, do período em que a Igreja Católica Romana ascendeu e tomou conta do Império Romano (séculos IV e V) na Idade Média, a mesma prática com a mesma justificativa e lógica continuou na Reforma, tanto entre protestante quanto católicos. A intolerância foi uma maldita herança constantiniana, originária da aberração da junção de Igreja e Estado, junto com alguns conceitos teológicos distorcidos. Infelizmente os reformadores magisteriais e católicos não percebiam na época o quanto anticristã e errada era tal prática. Provavelmente os anabatistas os lembravam que dava para ser ortodoxo, estimar a Escritura, a comunhão, ser submisso as autoridades, sem precisar de impor as crenças, e isso era perigoso para todos os que estavam no poder, tanto de um lado quanto de outro.

Bibliografia

Encyclopedia Britannica

A History Of The Christian Church – Williston WELKHART, INDIANA:PUBLISHED BY JOHN F. FUNK AND BROTHER.1871.

Visscher, H. and L. A. van Langeraad. Biographisch Woordenboek von Protestantsche Godgeleerden in Nederland, A-L. I, Utrecht. later by J. P. de Bie and J. Loosjes. The Hague 1903-: IV

Global Anabaptist-Menonite Encyclopedia Online

O Espelho dos Mártires, Thieleman J. van Braght.

O Autor

Sitri Silas Batista Lobato Siqueira é membro da Igreja Batista Regular da Fé em Pindamonhangaba, São Paulo. Gosta de estudar história da Igreja e exegese bíblica. É casado e muito feliz.

Notas

[1] Conrad Grebel and Others to Thomas Müntzer (September 5, 1524), disponível em <http://ghdi.ghi-dc.org/sub_document.cfm?document_id=4313>, Acessado em 06/02/2020.

[2] Menno Simons, Complete writings of Menno Simons, disponível em <http://www.menno simons.net/ft150-proof.html>, Acessado em 07/02/2020.

[3] The Waldensian Confession Of Faith, disponível em <https://www.apuritansmind.com/ creeds-and-confessions/the-waldensian-confessions-of-faith-circa-1120/>, acessado em 08/02/2020.

[4] The Schleitheim Confession of Faith, disponível em <http://www.reformedreader.org/ccc/scf.htm>, acessado em 08/02/2020.

[5] Peter Riedemann, Ridemann’s Rechenschaft, 1540.

[6] Dordrecht Confession Of Faith, 1632, disponível em <https://gameo.org/index.php?title= Dordrecht_Confession_of_Faith_(Mennonite,_1632)>, acessado em 14/03/2020.

[7] Baltasar Hubmaier, Achtzehn schluß rede so betreffende ein gantz Cristlich leben, waran es gelegen ist, artigo 11, 1524.

[8] Baltasar Hubmaier, Von Der Christliche Taufer der Glaubigen, 159.

[9] Mennon Simons, A Foundation and Plain Instruction of the Saving Doctrine of Our Lord Jesus Christ, Elkhart, Indiana: Published By John F. Funk And Brother, Prefácio,1871.

[10] Martinho Lutero, Lutherś Works, vol. 13, p. 61.

[11] idem 4.

[12] idem 6. 

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