(Publicado em The Young, Textless and Reformed)
O que é o texto crítico moderno?
O Texto Crítico Moderno, ou apenas o Texto Crítico, pode ser definido de várias maneiras. Em termos gerais, o Texto Crítico Moderno é, na verdade, uma coleção de edições impressas que compartilham a mesma estrutura básica modelada de acordo com manuscritos como o Codex Vaticanus e o Sinaiticus. Isso é diferente dos textos que representam a maioria dos manuscritos, ou, o Texto Recebido. Mais especificamente, pode-se dizer que “o” Texto Crítico Moderno é representado pelos textos gregos da Nestlé-Aland e da Sociedade Bíblica Unida (NA28/UBS5). Além disso, o Texto Crítico Moderno também pode ser descrito por uma metodologia com a qual alguém se aproxima do texto do Novo Testamento. Por exemplo, pode-se tomar o NA28 como um texto-base e por meio de uma análise ou talvez um estudo dum comentário grego como o de Metzger, e selecionar leituras contrárias à opinião da equipe editorial do aparato. Nesse sentido, o Texto Crítico Moderno pode assumir muitas formas, dependendo de quem o está usando. Vemos isso demonstrado pelas diferenças de opinião entre a equipe do Novo Testamento Grego da Tyndale House e a equipe editorial do NA28. Curiosamente, leigos e apologistas muitas vezes defendem leituras contrárias à opinião dos textos impressos oficiais também.
De forma sucinta, não há um Texto Crítico Moderno, há uma série de Textos Críticos Modernos, talvez uma quantidade infinita. As edições impressas do Texto Crítico Moderno podem ser consideradas mais uma ferramenta do que um texto. Isso parece uma avaliação justa, especialmente se considerarmos como as equipes de tradução e os estudiosos utilizam esses textos impressos. Não há traduções da Bíblia em inglês que representem exatamente qualquer uma das edições impressas do Texto Crítico Moderno, conforme impresso no NA28/UBS5 ou no Tyndale House Greek New Testament [Novo Testamento Grego Tyndale House]. Pode até ser mais preciso dizer que o texto Crítico Moderno é mais uma metodologia do que um texto real.
Se quisermos mergulhar ainda mais profundo, há mais um Texto Crítico a se considerar – a Editio Critica Maior (ECM). A ECM é o texto crítico mais abrangente que já se tentou produzir. Está previsto para ser concluído por volta de 2030. O que talvez torne o ECM o mais singular é que ele é uma transmissão de manuscritos do Novo Testamento através dos primeiros 1.000 anos da igreja, e não uma tentativa de reconstruir o [texto] original. Um de seus propósitos é responder a perguntas sobre como o texto foi alterado e recebido pelos cristãos.
O que é a Crítica Textual Moderna?
Esta pergunta, assim como a primeira, não é fácil de responder. Falando de maneira simples, a crítica textual é uma subcategoria de erudição textual, filologia e crítica literária. A crítica textual é praticada em qualquer obra da antiguidade em que existam vários manuscritos que apresentam leituras diferentes umas das outras. Dependendo de quem você perguntar, o objetivo da crítica textual pode ser definido de duas maneiras: o primeiro objetivo da crítica textual é identificar qual leitura é original. O segundo objetivo é entender como a leitura variante veio a existir ou talvez a história da variação textual. O foco da erudição textual tende a ser a última, pois a crítica de texto só é necessária quando o manuscrito original de uma obra não mais sobrevive (existe). Sem o documento original, é impossível dizer com certeza que as conclusões dos críticos textuais representam exatamente o que foi originalmente escrito.
Isso é necessário devido à natureza fina dos dados do manuscrito do Novo Testamento dos primeiros 400 anos da igreja. Não há um único manuscrito completo de mais de 300 anos a partir do tempo dos Apóstolos, o que é uma quantidade extraordinária de tempo para um texto mudar. Sendo assim, o trabalho de crítica textual tende a se concentrar em como o texto se desenvolveu, porque isso pode ser observado em cópias existentes do documento fonte, enquanto quaisquer conclusões sobre o texto original não podem ser verificadas devido à falta de texto original e à diferença significativa de tempo entre o tempo em que o original foi escrito e o mais antigo manuscrito existente do Novo Testamento. Com base nessa análise, críticos textuais e eruditos apresentam justificativas para por que eles acreditam que uma variante veio antes da outra e evitam fazer qualquer determinação sobre o que estava contido no original.
Existem muitas abordagens para a crítica textual e, no caso da crítica textual do Novo Testamento, uma mistura de metodologias estemáticas/genealógicas e ecléticas, são empregadas. Mais recentemente, a crítica textual do Novo Testamento achou auxílio com o Método Genealógico Baseado em Coerência, embora tenha recebido suas devidas críticas e não tenha resultado num único método de crítica textual. Uma vez que o que poderia ser considerado o esforço “oficial” da crítica textual ainda não tenha sido concluído, a aplicação prática de produzir uma forma final do texto não foi alcançada. Muitos estudiosos, como D. C. Parker, falam consistentemente contra a ideia de uma “forma final” do texto.
Por que alguém se importa com a crítica textual?
Esta é a pergunta mais prática e importante que todo cristão deve fazer a si mesmo. A crítica textual afeta as palavras e notas de rodapé que são impressas em toda Bíblia moderna. Uma vez que todas as Bíblias modernas incluem as opiniões dos eruditos do texto nas notas de rodapé, é importante que os cristãos entendam o que essas notas de rodapé significam para que possam ler sua Bíblia. Neste blog [, The Young Textless and Reformed], meu leitor descobrirá que sou fortemente contra esse esforço, em grande parte devido ao fardo que impõe sobre o cristão comum de ter de saber uma quantidade básica de crítica textual apenas para ler a sua Bíblia. Uma vez que os próprios eruditos são incertos quanto á forma do texto original do Novo Testamento, o cristão comum, que não tem as habilidades ou o treinamento, herda essa incerteza dos estudiosos sem qualquer capacidade de questionar ou dar sentido à essa incerteza.
Por exemplo, há uma nota acima ou abaixo de Marcos 16:9-20 nas Bíblias modernas, onde você lerá que “alguns manuscritos mais antigos não incluem Marcos 16:9-20”. Esta nota não fala se a passagem estava originalmente lá, nem fornece a informação do manuscrito que constitui “alguns manuscritos”. Ao adicionar colchetes ao texto e inserir esta nota, leva o leitor a acreditar que eles não devem ler esta passagem como original, apesar de não possuírem a imagem total dos dados. Na realidade, dois manuscritos antigos que foram escritos excluem essa passagem, ambos datados de 300 anos após o original, enquanto os milhares de manuscritos que temos a contêm. Agora, contar manuscritos não é necessariamente uma prova definitiva para a originalidade, mas essa é a informação que os editores da ESV [English Standard Version, ou Versão Padrão Inglesa] e outras Bíblias modernas decidiram reter do leitor.
Mais importante ainda, os cristãos devem se preocupar com o esforço da Crítica Textual Moderna, porque isso lhes dita como eles devem ler sua Bíblia. Ele lhes diz quais passagens eles devem e não devem ler sem incluir os dados que usaram para fazer tal determinação. Ela faz isso sem realmente expor o que é ou não original e muitas vezes remove passagens do texto principal de tal forma que torna a remoção fácil de ser perdida (cf. Romanos 16:23-25 ESV). Há muitos lugares na ESV, por exemplo, que simplesmente pulam de um verso para o outro sem sequer mudar a versificação da passagem. Veja João 5:3-5, onde a ESV vai do versículo 3 ao versículo 5, excluindo o versículo 4.
Ou seja, se você ler uma Bíblia moderna, a Crítica Textual Moderna impacta você. Como resultado, aqueles que leem uma Bíblia moderna provavelmente devem entender o esforço em si e decidir se a metodologia é algo que eles apoiam e na qual estão confiantes. Em muitos casos, as Bíblias modernas removeram passagens e versículos do texto principal com base em dois manuscritos que são datados de mais de 300 anos do original. O esforço da Crítica Textual Moderna não está diminuindo e, à medida que a ECM é desenvolvida, há dezenas de lugares onde os editores expressaram que o original simplesmente não pode ser conhecido. Uma vez que o rumo da Crítica Textual Moderna está tendendo na direção de mais incerteza em relação ao texto original, o impacto prático desse esforço, sem dúvida, afetará o cristão médio cada vez mais a cada ano.
Publicado em: https://youngtextlessreformed.com/the-modern-critical-text. Traduzido em português por Ícaro Alencar de Oliveira. Rio Branco, Acre, Brasil – 06 de novembro de 2023.






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