Por Dr. Thomas Holland, Copyright © 2000 –“Crowned with Glory”

Esta passagem é chamada de “Final longo” de Marcos. Muitos críticos textuais duvidam de sua autenticidade, acreditando que foi uma adição feita no século II d.C. Ela aparece muitas vezes em versões modernas entre parênteses com notas de rodapé questionando sua autenticidade.1 A maioria dos estudiosos do texto acredita que o texto termina abruptamente após o versículo oito. Mesmo o assim chamado “Final curo” que é adicionado após o versículo oito é considerado como tendo se originado no século II d.C. O final mais curto diz:

Mas elas relataram brevemente a Pedro e aos que estavam com ele tudo o que ouviram. Depois disso, o próprio Jesus enviou, através deles, de leste a oeste, a sagrada e imortal proclamação da salvação eterna.2

A maioria dos estudiosos acredita que o final original do Evangelho de Marcos foi perdido.3 Se isso for verdade, então o conceito de preservação das palavras da Escritura está para sempre aniquilado. As palavras não podem ser preservadas e perdidas ao mesmo tempo. No entanto, os estudiosos do texto geralmente exigem sua inclusão, mesmo que questionem sua originalidade. O Dr. Bruce Metzger se afasta da maior parte dos críticos textuais modernos, brevior lectio potior (a leitura mais curta é preferível), e apoia o final mais longo, embora reconhecidamente ele não considere a passagem como genuína. Ele considera que é uma parte legítima do Novo Testamento por causa de seu significado tradicional para o corpo da cristandade.4 A passagem não está contida nos textos alexandrinos, minúsculos 2386, a versão Siríaca Sinaítica e algumas outras traduções.

No entanto, está em muitos dos unciais gregos (A, C, D, K, X, D, Q e P) que datam entre os séculos V e IX. Também está contido em minúsculos gregos de data posterior (137 d.C., 138 d.C., 1110 d.C., 1210 d.C., 1215 d.C., 1216 d.C., 1217 d.C., 1221 d.C. e 1582 d.C.). É a leitura encontrada na maioria dos textos da Antiga [ou Vetus] latina, bem como nas versões coptas e outras traduções antigas. Por fim, é citado (pelo menos em parte) por muitos dos pais da igreja primitiva, como Justino (165 d.C.), Tertuliano (220 d.C.), Hipólito (235 d.C.), Ambrósio (397 d.C.) e Agostinho (430 d.C.).5

Em 177 d.C. Irineu escreveu Contra as Heresias. Nele, ele faz citação de Marcos 16:19, estabelecendo que a leitura mais longa existia neste momento e era considerada canônica, pelo menos por Irineu:

Além disso, para a conclusão de seu Evangelho, Marcos diz: “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus”; confirmando o que tinha sido dito pelo profeta: “Disse o Senhor ao meu Senhor: assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos porescabelo dos teus pés” [(Sl. 110:1)]. Assim, Deus e o Pai são verdadeiramente um e o mesmo; aquele que foi anunciado pelos profetas, e entregue pelo verdadeiro evangelho; a quem nós, cristãos, adoramos e amamos com todo o coração, como Criador do céu e da terra, e de todas as coisas que neles há. (3:10:5).

A diferença aqui é extremamente importante. Se concluirmos que esta passagem não é autêntica, então devemos questionar o que aconteceu com o fim original de Marcos. Não é lógico que o Evangelho terminaria tão abruptamente neste trecho. Nem é provável, como alguns estudiosos sugeriram, que o Evangelho jamais tenha sido terminado, colocando a inspiração bíblica em cheque. A conclusão da maioria dos estudiosos do texto, seja liberal ou conservadora, de que o final original foi perdido ao longo do passar do tempo, certamente nega a doutrina da preservação bíblica. Se permitirmos que uma passagem da Escritura inspirada tenha sido perdida nesta seção da Bíblia, o que nos impede de fazer a mesma aplicação a outras passagens? Certamente isso está dentro da esfera dos estudos eruditos observar todas e quaisquer diferenças textuais. Mas, uma vez que admitimos a possibilidade de que esta ou aquela passagem tenha sido perdida, estamos, portanto, confiando na compreensão dos homens acerca das promessas bíblicas de Deus. Certamente é melhor abraçar a evidência textual e manter a promessa de preservação.

Publicado em <https://av1611.com/kjbp/faq/holland_mr16_9-20.html&gt;. Traduzido em português por Ícaro Alencar de Oliveira, Rio Branco, Acre, Brasil – 09 de novembro de 2023.

NOTAS

  1. Kurt e Barbara Aland. The Text of the New Testament [O Texto do Novo Testamento] (Grand Rapids: Eerdmans, 1989), 232. ↩︎
  2. Nota de rodapé da Revised Standard Version (RSV) [Versão Padrão Revisada]. ↩︎
  3. Bruce Metzger. A Textual Commentary on the Greek New Testament [Comentário Textual do Novo Testamento Grego], 105. ↩︎
  4. Bruce Metzger, Christian History [História Cristã] (entrevista com o Dr. Metzger, baixado da revista Christian History, America Online, 17/09/96). ↩︎
  5. John William Burgon, The Revision Revised [Revisão Revisada] (Paradise, PA: Conservative Classics, 1883), 422-423. Burgon também fornece nomes adicionais de pais da igreja que apoiam a leitura. ↩︎

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