Por Dinelcir de Souza Lima


Eleição é escolha, é fazer seleção (a palavra grega traduzida por eleição é eklegomai que significa selecionar). Literalmente um dos motivos pelo qual o apóstolo está louvando a Deus é porque ele selecionou seus servos. Essa afirmativa do apóstolo Paulo tem dado margem a erros de interpretação que têm levado, inclusive, à doutrina de que uma pessoa já nasceria selecionada para ser salva ou para ser lançada no sofrimento eterno. Uma doutrina que contradiz vários textos bíblicos, tal como “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham ao arrependimento” (2 Pedro 3:9); ou ainda a afirmativa de Jesus de que o inferno foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41). Ora se foi preparado para o diabo e seus anjos, não foi para seres humanos. Logo não haveria possibilidade de Deus selecionar pessoas, antes da fundação do mundo, para serem lançadas no inferno. Mas, por outro lado, é inquestionável, diante deste texto e até mesmo de afirmações de Jesus, que pessoas foram escolhidas, selecionadas por Deus para a vida eterna. Como compreendermos essa aparente contradição? Através de um estudo minucioso do próprio texto, no que diz respeito à eleição, podemos compreender com certa facilidade.


1.1. É uma eleição que foi estabelecida antes da fundação do mundo.

Mesmo antes de existirmos, Deus em sua onisciência já sabia que o ser humano pecaria e se separaria dele, adquirindo a morte para si e ficando impossibilitado de conviver com ele por toda a eternidade, tendo, então, que ser lançado em uma realidade que havia sido preparada para o ser maligno que se rebelou contra ele, o diabo, e para os seus seguidores. Deus então, em sua soberania absoluta de Senhor de todas as coisas em todo o universo, estabeleceu anteriormente à criação do homem um meio de ele próprio selecionar pessoas que poderiam ser salvas recebendo dele próprio, novamente, a dádiva da vida eterna. E isso foi estabelecido por Deus como uma realidade mesmo antes de nós sermos criados (a isso se chama predestinação, ou seja, destinação anterior).


1.2. É uma eleição que tem só um elemento, e somente um, como fator de seleção.

Observe-se com atenção que o apóstolo Paulo afirma que fomos abençoados em Cristo e logo a seguir afirma que Deus nos escolheu nele (no próprio Cristo). Ou seja, Deus estabeleceu que o Messias, seu Filho Jesus Cristo, seria o fator de seleção de quem seria salvo ou não. E isso é compreensível porque quem escolhe ou seleciona, sempre tem estabelecido um fator de escolha que serve como o elemento que define o que, ou quem será selecionado.Pois bem, Jesus se declarou esse fator de escolha, principalmente quando afirmou que “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16) Deixou bem claro que ele é o elemento de seleção estabelecido por Deus, e somente ele, conforme encontramos em 1João 5.12: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.”


1.3. É uma eleição que depende de uma atitude da parte de quem deseja ser escolhido.

Ao estabelecer o seu plano de salvação, em que seu Filho seria o único fator de escolha, Deus preservou sua soberania que lhe dá o poder e o direito de selecionar quem será salvo, mas preservou também o livre arbítrio do homem. Ou seja, um meio em que o homem é quem daria a Deus a condição de selecioná-lo ou não para ser salvo. Isto podemos ver, também, nas claras palavras de Jesus encontradas em João 3.16 “… para que todo aquele que nele (o Filho unigênito de Deus) crê não pereça mas tenha a vida eterna.” Está claro que a escolha para a salvação pode alcançar a todos, mas que só é selecionado quem crê no Filho de Deus. Ora, crer é uma atitude pessoal, unicamente do ser pessoal que age conforme a sua própria vontade permitindo ou não a si próprio entregar-se com fé ao Filho de Deus para ter a vida eterna. Isto também está declarado pelo apóstolo Paulo no texto em questão, no versículo 13: “em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido”. Para que exista a seleção é necessário que uma pessoa ouça a palavra do evangelho da salvação e creia em seu coração. Um ato individual, de quem está de posse da sua liberdade de escolha.


1.4. É uma eleição que permanece para a eternidade.

As palavras do apóstolo Paulo “tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória.” (v. 13,14) constituem um dos textos bíblicos que comprovam que a salvação é dada por Deus a quem crê em seu Filho como Salvador e Senhor, de uma vez por todas. Somos selecionados por Deus para sermos salvos no momento em que cremos entregando nossa vida a Jesus Cristo para que ele nos conceda a vida eterna e, nesse momento, recebemos o selo do Espírito Santo que passa a ser a garantia da nossa salvação, do nosso resgate. O penhor é uma garantia concedida em contrapartida de uma dívida. Por causa do pecado tínhamos uma dívida para com Deus, a qual não podíamos pagar de forma alguma. Jesus Cristo pagou o preço, resgatou-nos da nossa dívida e ficamos com uma dívida para com ele que, também, nunca poderíamos pagar. Em seu profundo amor, ao invés de nos cobrar a dívida, nos fez herdeiros do reino de Deus e nos deu a garantia da nossa salvação, selando-nos com o Espírito Santo. Um selo definitivo, que perdurará até o dia da nossa entrada na eternidade (Efésios 4:30).


Disponível em: <https://entendaabiblia.blogspot.com/2008/10/o-que-eleio-efsios-14-6-1314.html>. Acesso: 25/05/2024.

Deixe um comentário

Tendência