Por Leighton Flowers


Muitos têm perguntado quais pontos específicos me afastaram do Calvinismo. Ser um Professor de Teologia que uma vez afirmou a TULIP me dá uma perspectiva única sobre este assunto. No entanto, não afirmo ser um especialista na área nem invejo aqueles que discordam da minha perspectiva. Eu apenas desejo interpretar corretamente a Palavra de Deus. Espero que este podcast e artigo possam ajudá-lo a entender por que não pude continuar a apoiar a interpretação calvinista do texto.

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Acredito que há muitos que esperam convencer alguém de quem gostam a deixar para trás suas crenças calvinistas. Odeio dizer a eles, mas é duvidoso que uma postagem de blog ou um podcast consiga esse feito. É muito difícil de convencer a SI MESMO a deixar uma perspectiva teológica mantida há muito tempo e quase impossível convencer outra pessoa. Para mim, foi uma jornada penosa de três anos depois que me envolvi em um estudo aprofundado do assunto. Eu não tinha desejo de deixar o calvinismo e lutei com unhas e dentes para defender minhas amadas “Doutrinas da Graça” contra as verdades que meus estudos me levaram a ver. Não houve somente um livro, artigo ou discussão que me levara a retratar minha adesão ao sistema da TULIP.

Na verdade, tenho quase certeza de que eu jamais poderia ter sido “jogado para fora do Calvinismo”. Eu era competitivo demais para avaliar objetivamente meu sistema no calor de uma controversa discussão. Mesmo se eu fosse contrário a um argumento que não fosse capaz de responder, eu jamais o teria admitido ao meu oponente. Poucos indivíduos seriam capazes de contornar a intensa emoção e a indução de adrenalina do orgulho provocada pelo debate teológico. Nosso desejo inato de sermos estimados pelos outros e vistos como “mais inteligentes” do que realmente somos muitas vezes sobrepuja qualquer potencial de aprendizado e diálogo proveitoso.

Se alguém discordasse de mim, minha presunção era que eles realmente não entenderiam minha perspectiva. Então, em vez de tentar ouvir e avaliar objetivamente seus argumentos, concentrei-me em reafirmar meu ponto de maneira mais clara, confiante e dogmática. Se eu não entendesse completamente o que eles estavam dizendo, eu frequentemente os rotulava e os descartava em vez de reservar um tempo para avaliar completamente seus pontos de vista. Não estou tentando sugerir que todo calvinista comete esses erros — estou apenas refletindo sobre o que agora vejo como sendo meus erros.

Eu competi em nível estadual no CX Debate no Ensino Médio e na Faculdade. Nosso treinador de debate nos ensinou a HABILIDADE de assumir tanto o lado positivo quanto o negativo de cada questão. E acredite, essa é uma habilidade aprendida. É muito difícil deixar de lado uma visão em defesa de outra visão oposta, especialmente se você está emocional e intelectualmente ligado a uma determinada perspectiva. É raro encontrar objetividade real em uma discussão entre indivíduos de mentalidade teológica sobre uma doutrina tão emocionalmente carregada e intimamente pessoal quanto a da nossa salvação. Isso é ESPECIALMENTE verdadeiro para aqueles que ganharam a vida e desenvolveram sua identidade em torno de um conjunto específico de crenças. Imagine R.C. Sproul, por exemplo, chegando a crer que estava enganado nesses pontos de doutrina. Pense em quanto custaria a ele e sua reputação como acadêmico retratar essas visões. Essa nunca é uma transição fácil ou indolor.

Digo tudo isso para dizer a qualquer leitor calvinista que possa ter clicado neste link para refutar minhas alegações: NÃO sou tão ingênuo a ponto de pensar que este artigo ou podcast vai convencê-lo a deixar o calvinismo; portanto, esse NÃO é meu objetivo ao escrevê-lo. Meu objetivo, no entanto, é que você simplesmente entenda as razões pelas quais deixei o calvinismo. Isso provavelmente não poderá acontecer se você começar com arma em punho ou um ponto de vista para defender. Podemos largar as armas e primeiro procurar ouvir e entender completamente um ao outro antes de iniciar um debate? Se você terminar este artigo ou ouvir meu podcast e sair ainda tão calvinista quanto você está agora, mas entender por que senti que tinha que deixar o calvinismo, então considerarei isso um grande sucesso.

Adotei todos os cinco pontos da TULIP calvinista quando era calouro na faculdade, depois de digerir livros de John MacArthur, R.C. Sproul, J.I. Packer e, mais tarde, John Piper. Louie Giglio, o homem que trouxe John Piper para o mainstream por meio de eventos como Passion, era um dos amigos próximos do meu pai. Minha primeira posição ministerial foi com a GRACE na Universidade Hardin-Simmons, modelada após o ministério de Louie na Universidade Baylor nos anos 1980. Foi aqui que trabalhei ao lado de Matt Chandler, sendo discipulado pelo mesmo mentor. Fiquei muito convencido do meu calvinismo década seguinte de minha vida, até mesmo ajudando a iniciar uma nova Igreja Batista “Reformada” que se separou da minha igreja local. (Era onde meus pais e todos os seus amigos estavam frequentando. Só agora vejo o quanto isso deve tê-los machucado.) Mais tarde, servi na equipe desta igreja e comecei a trabalhar para a convenção estadual. Contratamos John Piper junto com vários outros comunicadores calvinistas notáveis ​​para falar em muitos dos eventos que coordeno. Eu amei muito fazer parte dessa “irmandade” de ministros que orgulhosamente afirmavam a doutrina de Spurgeon e dos antigos pais ​​da nossa fé Batista do sul. Eu era um membro portador do cartão dos “Fundadores” da SBC e jamais teria sonhado que um dia estaria escrevendo este artigo.

Certa manhã, eu estava lendo um livro de A.W. Tozer, um homem que eu sabia que era respeitado na comunidade calvinista. John Piper frequentemente o citava e as pessoas faziam referência às suas obras regularmente em meus círculos reformados. Algumas das coisas que ele escreveu simplesmente não se encaixavam no meu paradigma. “Tozer não é um calvinista”, lembro-me, será que pensei em voz alta? Lembro-me distintamente de como me senti quando soube que A.W. Tozer e C.S. Lewis, dois homens que eu respeitava muito, não afirmavam a TULIP. Naquele momento, lembrei-me do que meu treinamento em debates me ensinou e percebi que nunca havia realmente examinado objetiva e completamente as visões acadêmicas contrárias ao calvinismo. Assim começou minha jornada.

Decorridos seis meses a um ano neste estudo esporádico das doutrinas, eu não estava nem um pouco convencido de que o Calvinismo estava errado. Mesmo depois de ser apresentado a vários argumentos convincentes contra minhas crenças de longa data, eu subconscientemente senti que tinha muito a perder ao deixar meu Calvinismo. Minha reputação, meus amigos, minhas conexões ministeriais… tudo se foi se eu retratasse minhas opiniões sobre o assunto! Eu tinha convertido muitas pessoas e ferido muitos relacionamentos em defesa dessas opiniões para que eu voltasse atrás no que eu tinha certeza de ser a verdade. No entanto, meus anos de treinamento em debates me ajudaram a reconhecer esse preconceito e prosseguir com meus estudos mesmo assim. Conforme fui treinado, me forcei a abandonar minhas ideias preconcebidas, meus preconceitos e qualquer coisa que pudesse me impedir de entender completamente a outra perspectiva.

Nesse processo, houve cinco verdades que vieram à tona e que eventualmente me arrancaram do meu Calvinismo. Abaixo está um breve resumo dessas visões, mas no podcast intitulado “Os 5 Pontos para Fora do Calvinismo” eu explico cada uma delas mais detalhadamente:


1º PONTO: Percebi que a “visão da fé prevista” (arminianismo wesleyano clássico) não era a única alternativa acadêmica à interpretação calvinista.

Eu tinha me saturado tanto com pregadores e autores calvinistas que a única coisa que eu sabia sobre as visões opostas era o que eles me diziam. Assim, eu tinha sido levado a acreditar que a única alternativa real ao calvinismo era esse estranho conceito de Deus “olhando através dos corredores do tempo para eleger aqueles que Ele prevê que O escolheriam”. Notáveis mestres calvinistas ​​quase sempre definem todos os acadêmicos não-calvinistas como adeptos dessa perspectiva. Uma vez que percebi que tinha sido enganado sobre esse ponto, fiquei mais aberto a considerar outras interpretações objetivamente.

Encontrei um sistema muito mais robusto e teologicamente sólido no que é chamado de “Visão Corporativa da Eleição”, que por acaso era a visão mais popular entre os estudiosos bíblicos da minha própria denominação (Batistas do Sul). Muito mais pode ser dito sobre essa visão que não tomarei a liberdade de expor neste artigo. No entanto, devo alertar os leitores que a frase muito comum, “as nações também são feitas de indivíduos”, nem começa a refutar as alegações dessa perspectiva. Os indivíduos estão tão envolvidos na perspectiva corporativa quanto na perspectiva calvinista (talvez até mais). Qualquer um que creia que a visão corporativa é facilmente descartada com essa simples frase ainda não a entendeu corretamente. Na minha experiência, bem poucos calvinistas dão a essa visão a atenção que ela merece porque ela requer uma mudança de perspectiva que, se reconhecida, minaria toda a sua premissa.

Você entende “A Visão Corporativa da Eleição”… quero dizer, realmente entende? Você conseguiria defendê-la em um debate se precisasse? Você conseguiria explicá-la objetivamente para uma sala de aula de estudantes? Você está disposto a estudá-la e avaliar suas afirmações?

“Só uma mente educada pode compreender um pensamento diferente do seu, sem precisar aceitá-lo.” (Aristóteles)


2º PONTO: Cheguei a entender a distinção entre a doutrina do Pecado Original (Depravação) e o conceito calvinista de “Incapacidade Total”.

Os calvinistas ensinam que “o homem natural é cego e surdo à mensagem do evangelho”,1 mas aprendi que essa é a condição de um homem judicialmente endurecido, não uma condição natural de nascimento — “Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os cure. Seja-vos, pois, notório que esta salvação de Deus é enviada aos gentios, e eles a ouvirão.” (At. 28:27-28 | acf); “Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, a fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, e se convertam, e eu os cure. Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou dele.” (Jo. 12:39-41 | acf); “E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.” (Mc. 4:11-12 | acf; ver também Rm. 11). Pelo contrário, a revelação graciosa de Deus e o poderoso apelo do evangelho são os meios que Ele escolheu para atrair, ou capacitar, todo aquele que ouve, para que venha. Assim, qualquer um que ouve ou vê Sua verdade pode responder a essa verdade, e é por isso que eles são considerados responsáveis ​​(capazes de responder). […]

Na época em que Cristo estava na terra, os israelitas (em João 6, por exemplo) estavam sendo endurecidos ou cegados de ouvir a verdade. Apenas alguns poucos israelitas selecionados (um remanescente) foram dados pelo Pai ao Filho para que o propósito de Deus na eleição de Israel fosse cumprido. Esse propósito não se referia ao plano de Deus para salvar individualmente e efetivamente alguns judeus, mas ao Seu plano de trazer a LUZ ou REVELAÇÃO ao resto do mundo por meio do MESSIAS e SUA MENSAGEM para que todos possam crer e “que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” Jo. 17:21b).

A videira da qual os judeus estão sendo cortados em Romanos 11 não é a videira da salvação efetiva, caso contrário, como os indivíduos poderiam ser cortados ou enxertados de volta nela? A videira é a LUZ da REVELAÇÃO, o meio pelo qual alguém pode ser salvo, que foi enviado primeiro aos judeus e depois aos gentios: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Rm 1:16 | acf). Os gentios estão recebendo arrependimento ou sendo “enxertados na videira” para serem habilitados a se arrepender. Os judeus, se provocados a invejar e deixar sua incredulidade, podem ser enxertados de volta naquela mesma videira: “Para ver se de alguma maneira posso incitar ao ciúmes os da minha carne e salvar alguns deles. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar.” (Rm. 11:14,23 | acf)

PONTO-CHAVE: Deus USA meios determinantes para garantir Seus propósitos soberanos ao eleger Israel, o que inclui:

  • (1) a separação de certos indivíduos israelitas para serem a linhagem do Messias, e
  • (2) a separação de certos indivíduos israelitas para levarem Sua mensagem divinamente inspirada ao mundo (usando meios convincentes como grandes peixes e luzes ofuscantes para persuadir suas vontades) e
  • (3) cegar temporariamente o resto de Israel para realizar a redenção por meio da rebelião deles.

Entretanto, não há nenhuma indicação nas escrituras de que:

  • (1) todos aqueles que CRERAM nos ensinamentos do mensageiro designado foram igualmente colocados numa parte por tais meios persuasivos (especialmente meios efetivos não internos).
  • (2) todos aqueles que NÃO CRERAM nos ensinamentos do mensageiro designado foram igualmente endurecidos desde o momento em que nasceram até o momento em que morreram.

Como calvinista, eu não entendia o contexto histórico das escrituras no que se refere à eleição nacional de Israel seguida por seu endurecimento judicial. Quando as escrituras falavam de Jesus ocultando a verdade em parábolas, ou apenas se revelando a alguns poucos selecionados, ou impedindo que um grande número de pessoas visse, ouvisse e entendesse a verdade; eu imediatamente presumi que essas eram passagens apoiando o “T” da minha T.U.L.I.P. quando na realidade elas estão apoiando a doutrina do endurecimento judicial de Israel.

“De Agostinho de Hipona ao século XX, o cristianismo ocidental tendeu a interpretar a doutrina da eleição da perspectiva de, e com relação a, a seres humanos individuais. Durante esses mesmos séculos, a doutrina foi muito menos enfatizada e raramente controversa na ortodoxia oriental. É possível que Agostinho e, mais tarde, Calvino, com a ajuda de muitos outros, tenham contribuído para uma hiper-individualização dessa doutrina que dificilmente era garantida por Romanos 9-11, Efésios 1 e 1 Pedro 2? Não é verdade que a ênfase principal em ambos os Testamentos recai sobre um povo eleito — Israel (AT) e Discípulos ou Igreja (NT)?” (James Leo Garrett)


3º PONTO: Percebi que a decisão de se humilhar e se arrepender com fé não é meritória. Até mesmo crentes arrependidos merecem punição eterna.

Os calvinistas são notórios por perguntarem ao crente desavisado: “Por que você crê em Cristo e outra pessoa não; você é mais inteligente ou mais louvável de alguma forma?” Eu fiz essa pergunta mais vezes do que consigo lembrar como um jovem calvinista. O que eu (e provavelmente o alvo da minha investigação) não entendia é que a pergunta em si é uma falácia conhecida como “Petição de Princípio” (ou mais especificamente “plurium interrogationum” ou “Pergunta Complexa”).

A petição de princípio é uma tática de debate onde seu oponente presume que o próprio ponto em debate é verdadeiro. Por exemplo, se a questão em disputa fosse se você sonega ou não seus impostos e eu começasse a discussão perguntando a você, “Você já parou de sonegar seus impostos?” Eu estaria cometendo uma petição de princípio.

Da mesma forma, no caso do calvinista perguntando “Por que você fez essa escolha”, ele está presumindo que uma resposta determinística é necessária, iniciando assim a discussão com um jogo circular e muitas vezes confuso de petição de princípio. A investigação sobre o que determina a escolha de um livre-arbítrio presume algo diferente da função livre da vontade do agente que faz a determinação, negando assim o próprio mistério do que torna a vontade livre e não determinada.

A causa de uma escolha é o que escolhe. A causa de uma determinação é o que determina. Não é uma determinação indeterminada, ou uma escolha não-escolhida, como alguns tentam conceber. Se alguém tem um problema com isso, simplesmente aplique o mesmo princípio à pergunta: “Por que Deus escolheu criar a humanidade?” Ele é obviamente autossustentável e autossuficiente. Ele não precisa de nós para existir. Portanto, certamente ninguém sugeriria que Deus não era livre para se abster de criar a humanidade. Então, o que determinou a escolha de Deus de criar se não a função misteriosa de Seu livre-arbítrio?

Em suma, quer alguém apele ao mistério em relação à função da vontade do homem ou à função da vontade Divina, todos nós eventualmente apelamos ao mistério. Por que não apelar ao mistério ANTES de tirar conclusões que poderiam de alguma forma impugnar a santidade de Deus ao sugerir que Ele teve algo a ver com a determinação da natureza, do desejo e, portanto, das escolhas más das Suas criaturas?

O que também deve ser notado é que a decisão de confiar em Cristo para nossa salvação não é uma obra meritória. Pedir perdão não torna merecedor de ser perdoado. Pense desta forma. O filho pródigo ganhou, obteve ou de alguma forma mereceu a recepção de seu pai com base no fato de que ele humildemente voltou para casa? Claro que não. Ele merecia ser punido, não recompensado. A aceitação de seu pai foi uma escolha somente do pai e foi TUDO DE GRAÇA. O pai não teve que perdoar, restaurar e dar uma festa para seu filho tendo como base o fato dele ter escolhido voltar para casa. Isso foi obra do pai.

A humilhação e o quebrantamento não são considerados “melhores” ou “louváveis” e certamente não são inerentemente valiosos. A única coisa que torna essa qualidade “desejável” é que Deus escolheu agraciar aqueles que se humilham, coisa que Ele não é obrigado a fazer de forma alguma. Deus dá graça aos humildes não porque uma resposta humilde merece salvação, mas porque Ele é gracioso.


4º PONTO: Aceitei o fato de que um dom não precisa ser aplicado de forma irresistível para que o doador receba todo o crédito por tê-lo dado.

De acordo com o calvinismo, Deus não apenas capacita as pessoas a crer (como dizem as Escrituras), mas Ele precisa realmente mudar a própria natureza delas para fazê-las crer de certeza. Como calvinista, lembro-me de envergonhar outros cristãos por “roubarem a glória de Deus” ao sugerir que eles desempenharam algum papel em sua salvação. Eu insisti que eles estariam “se gloriando” de crer que escolheram vir a Cristo, a menos que primeiro admitissem que Deus mudou irresistivelmente sua natureza para fazê-los querer vir. Lembro-me de um sábio ancião da minha igreja local me desafiando sobre esse ponto perguntando: “Por que você crê que a escolha de Deus por você sem nenhuma razão aparente é menos digna de louvor do que a escolha Dele por mim por ser um fraco mendigo?” Eu honestamente não sabia o que ele queria dizer na época, mas agora sei.

Na época daquele encontro, eu não tinha chegado ao chiqueiro da minha vida. Eu era jovem e arrogante. Eu nunca tinha realmente sido quebrantado pelo meu pecado e confrontado com minha depravação. Eu pensava que entendia o perdão e a graça, mas, sinceramente, não foi até muito mais tarde na minha vida quando eu seria levado ao fim do meu eu. Eu costumava pensar que a ideia de que Deus escolheu me salvar antes de eu nascer e fazer algo bom ou ruim era humilhante, mas não é tão humilhante quanto a realidade de que Deus escolheria me salvar em meio do meu pior pecado, meu quebrantamento, minha humilhação e minha vergonha. Como o filho pródigo que voltou para casa saindo do chiqueiro de sua vida, quebrantado e humilhado, buscando implorar por esmolas, merecendo nada além de punição, recebe em vez dela, o amor gracioso de um pai, eu também senti a escolha de um Pai me perdoar ali mesmo, naquele momento, no meio da minha imundície. Não foi algum conceito teológico de Deus me escolhendo sem razão aparente da massa da humanidade em algum tempo distante e inexplicável antes do tempo existir. Foi meu Papai escolhendo me amar no meio do meu pecado mais profundo e vergonha esmagadora de orgulho. Ninguém… nenhum arminiano, nenhum calvinista ou qualquer um no meio dos dois… quero dizer, NINGUÉM se gloria de ter sido perdoado assim. Se eles o fazem, ou acham que outros o fariam, não consigo imaginar que eles já tenham passado estado ali.

“Mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o SENHOR, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR.” (Jr. 9:24 | acf)

Por que não podemos dar a Deus toda a glória por capacitar a humanidade a responder à Sua graciosa verdade? Por que Ele deve irresistivelmente causar nossa aceitação dessa verdade a fim de que Ele receba a toda a glória por concedê-la?

De forma alguma rouba a glória de Deus ao sugerir que Ele não determina irresistivelmente a escolha dos homens de aceitar ou rejeitar o apelo do evangelho. Na verdade, isso parece diminuir Sua glória ao fazê-lo parecer falso naquele apelo enviado a todas as pessoas. Deus não deveria receber a glória até mesmo pela provisão daqueles que O rejeitam?

“Um homem não é capaz de diminuir a glória de Deus porque se recusa a adorá-Lo, assim como um louco não pode apagar o sol rabiscando a palavra ‘escuridão’ nas paredes de sua cela.” (C. S. Lewis)


5º PONTO: Passei a entender que a soberania não é um atributo eterno de Deus que seria comprometido pela existência de criaturas morais livres.

Alguns parecem crer que para Deus ser considerado “soberano” então os homens não podem ter uma vontade livre ou autônoma. A soberania tem a necessidade de ser interpretada e entendida no sentido de que Deus precisa “jogar em ambos os lados do tabuleiro de xadrez” para garantir Sua vitória? Ou deve ser entendida como as infinitas e misteriosas maneiras que Deus pode cumprir Seus propósitos e garantir Sua vitória em, através e apesar das escolhas livres da criação?

Não quero com isso fingir que podemos realmente entender Seus caminhos infinitos ou os meios pelos quais Ele realiza todas as coisas em conjunto com a vontade do homem. Não podemos nem mesmo entender nossos próprios caminhos, muito menos os Dele. Mas, estou dizendo que a revelação da santidade de Deus, Sua relutância em sequer tentar os homens a pecar — “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta.” (Tg. 1:13 | acf) –, Sua natureza absolutamente perfeita e separação do pecado — “Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar.” (Is. 48:17 | acf) –, certamente parece sugerir que nossas construções finitas, lineares e lógicas não devem ser usadas para contê-Lo — “Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is. 55:9 | acf)

Um ponto que realmente me ajudou a entender a aparente contradição desse debate foi perceber que o atributo divino da Soberania não é um atributo eterno de Deus. Os calvinistas sempre argumentam que Deus não pode negar a Si mesmo ou Sua natureza eterna, o que é verdade. Deus não pode deixar de ser Deus. Com base nisso, os calvinistas concluem que, porque Deus é eternamente soberano, Ele não pode negar essa soberania, um atributo de Sua própria natureza, permitindo que outros tenham qualquer medida de controle ou autoridade.

Mas o que o calvinista deixa de observar é que a soberania não é um atributo eterno de Deus. Soberania significa “governo ou domínio completo sobre a criação”. Para que Deus esteja no controle sobre a criação, tem que haver algo criado para controlar. Ele não pode exibir Seu poder sobre as criaturas a menos que as criaturas existam. Portanto, antes da criação, o conceito de soberania não era um atributo que pudesse ser usado para descrever Deus. Um atributo eterno é algo que Deus possui que não é contingente a outra coisa.

O atributo eterno de Deus é Sua onipotência, que se refere ao Seu poder eternamente ilimitado. A Soberania é uma característica temporal, não eterna, portanto podemos dizer que Deus é Todo-Poderoso, não porque Ele é Soberano, mas Ele é soberano porque Ele é Todo-Poderoso, ou pelo menos Ele é tão Soberano quanto Ele escolhe ser em relação a este mundo temporal.

Se nosso Deus Todo-Poderoso escolheu se abster de governar meticulosamente sobre cada aspecto daquilo que Ele cria, isso de forma alguma nega Seu atributo eterno de onipotência, mas de fato o afirma. É o calvinista que nega o atributo eterno de Onipotência ao presumir que o Deus Todo-Poderoso não pode se abster de um governo determinístico meticuloso sobre Sua criação (i.e. a Soberania). Em suma, o calvinista nega o atributo eterno de Onipotência de Deus em seu esforço de proteger o atributo temporal de Soberania. Além disso, um argumento poderia que ser apresentado é que os Atributos Eternos do Amor de Deus e Sua Santidade são igualmente comprometidos pelos esforços bem-intencionados de nossos irmãos calvinistas de proteger sua teoria de Soberania Determinística sobre o mundo temporal.

Por favor, entenda, a Soberania é certamente um atributo de Deus, mas é um atributo temporal. O Deus Onipotente ainda não assumiu o controle Soberano total sobre tudo na terra como é no céu. Essa prerrogativa não é Dele? Passagens por toda a Bíblia ensinam que há “autoridades” e “poderes” que ainda serão destruídos, e que receberam domínio sobre a criação de Deus.

“E será que naquele dia o SENHOR castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra.” (Is. 24:21 | acf)

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Ef. 6:12 | acf)

“Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo…” (Cl. 2:20 | acf)

“Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força.” (1Co. 15:24 | acf)

Não entenda mal o meu ponto. Eu afirmo que Deus é maior do que esses poderes e autoridades. Afinal, foi Ele quem os criou.

“Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele.” (Cl. 1:16 | acf)

E um dia Deus os despojará dessa autoridade:

“E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo.” (Cl. 2:15 | acf)

Muito mais poderia ser dito, mas em resumo, devemos nos abster de trazer conclusões não bíblicas baseadas em nossas percepções finitas da natureza de Deus. Devemos aceitar a revelação das escrituras. Ele é Santo: “E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Is. 6:3 | acf). Ele não tem prazer no pecado: “Porque tu não és um Deus que tenha prazer na iniquidade, nem contigo habitará o mal.” (Sl. 5:4 | acf). Qualquer mal moral nem mesmo entra em Sua mente Santa: “E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração.” (Jr. 7:31 | acf). Ele deseja genuinamente que cada indivíduo venha a Ele e seja salvo: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (2Pe. 3:9 | acf); “Que quer que todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade.” (1Tm. 2:4 | acf). Nenhum homem ficará diante do Pai e será capaz de dar a desculpa: “Eu nasci sem ser amado pelo meu Criador. Eu nasci sem ser escolhido e sem a esperança de salvação. Eu nasci incapaz de ver, ouvir ou entender a revelação de Deus sobre Si mesmo.” Não! Eles ficarão indesculpáveis: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis;” (Rm. 1:20 | acf). Deus ama todas as pessoas: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo. 3:16 | acf); Ele as chama para a salvação: “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” (2Co. 5:20 | acf); ele revela-se a elas: “Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens,” (Tt. 2:11 | acf); Ele fornece os meios pelos quais seus pecados seriam perdoados: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.” (1Jo. 2:2 | acf).

“Deus soberanamente decretou que o homem deveria ser livre para exercer escolha moral, e o homem desde o princípio cumpriu esse decreto ao fazer sua escolha entre o bem e o mal. Quando ele escolhe fazer o mal, ele não contraria a vontade soberana de Deus, mas a cumpre, na medida em que o decreto eterno decidiu não qual escolha o homem deveria fazer, mas que ele deveria ser livre para fazê-la. Se em Sua liberdade absoluta Deus quis dar ao homem liberdade limitada, quem está lá para deter Sua mão ou dizer: “O que fazes?” A vontade do homem é livre porque Deus é soberano. Um Deus menos que soberano não poderia conceder liberdade moral às Suas criaturas. Ele teria medo de fazer tal coisa.” (A. W. Tozer, em ‘O Conhecimento do Santo: os atributos de Deus’)

Aqui eu estou, não posso agir de outra forma; que DEUS me ajude. Amém.

Fonte: https://soteriology101.com/2014/12/08/the-5-points-that-lead-me-out-of-calvinism/. Acesso em: 22 de março de 2025. Traduzido em português por Ícaro Alencar de Oliveira. Rio Branco, Acre – Brasil: 22 de março de 2025.

Notas:

  1. Ver: <http://www.reformed.org/calvinism/> ↩︎

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