Por Roger Olson

Sou arminiano e estudioso da teologia arminiana. Ao longo dos anos, ouvi muitas pessoas culparem o arminianismo pela ascensão do cristianismo liberal. Há um vídeo no YouTube que tenta defender essa ideia; é um vídeo muito fraco. Termina com duas superestrelas se beijando no palco e gritando: “Estamos cansados ​​dos conceitos de certo e errado!” De alguma forma, os criadores do documentário (ou seria um falso documentário?) culpam o arminianismo por isso e pelo cristianismo liberal.

Como explico em meu livro “Arminian Theology: Myths and Realities” (InterVarsity Press, publicado em português pela Editora Reflexão, sob o título Teologia Arminiana: mitos e realidade), alguns Remonstrantes (o termo original para os arminianos na Holanda) do final do século XVII e do século XVIII caíram em algo semelhante ao que mais tarde se tornaria o protestantismo liberal. Philip Limborch foi um deles. Refiro-me a eles como “arminianos de mente” e os distingo dos fiéis seguidores de Jacó Armínio, como John Wesley, “arminianos de coração”. Limborch e seus semelhantes não eram verdadeiros arminianos, mesmo sendo seguidores caídos ​​do antigo movimento Remonstrante.

Portanto, a calúnia de que o arminianismo deu origem à teologia liberal é falsa; se há algo ainda mais verdadeiro, é que o calvinismo deu origem à teologia liberal. Como assim?

Frederich Schleiermacher desenvolveu os fundamentos da Teologia Liberal à partir do contexto calvinista reformado.

Friedrich Schleiermacher, o “pai da teologia liberal” do início do século XIX, foi um pastor reformado que reagiu contra o calvinismo e desenvolveu o pensamento protestante liberal como alternativa. O unitarismo foi uma reação ao calvinismo quando este surgiu no fim do século XVIII e início do século XIX. O universalismo foi o mesmo. (Finalmente, eles se encontraram e se tornaram a Fraternidade Unitarista-Universalista de Igrejas.)

A maioria dos teólogos liberais americanos do século XIX foi criada como reformados e calvinistas. Suas biografias intelectuais revelam que reagiram contra o calvinismo, saltando o arminianismo diretamente para o protestantismo liberal (que descrevo com algum detalhe em Against Liberal Theology: Putting the Brakes on Progressive Christianity [Zondervan, 2022], publicada em português pela CPAD, sob o título Contra a Teologia Liberal: uma defesa cristã bíblica tradicional).

O Calvinismo carrega em si as sementes da teologia liberal, porque calvinistas reflexivos e compassivos acabam percebendo que o Deus do Calvinismo não é digno de adoração, pois está “além do bem e do mal” (Nietzsche) e não pode ser adorado ou imitado. Seu amor é falso porque não é universal; sua vontade é arbitrária e sempre egoísta. Ele é o narcisista supremo. (Veja meu livro Against Calvinism [Zondervan], publicado em português pela Editora Reflexão, sob o título Contra o Calvinismo).

Schleiermacher foi um calvinista que “resolveu” o problema da bondade de Deus ao adotar o universalismo e criar a teologia protestante liberal como alternativa ao narcisismo divino e ao ódio aos não-eleitos no calvinismo. Mas, até o dia de sua morte, ele considerou Deus a realidade que tudo determina. Ele tão-somente cria que Deus predestina todos ao céu.

Muitos protestantes liberais que conheci saltaram diretamente do calvinismo da sua educação espiritual e juventude para a teologia liberal porque não consideraram o arminianismo; eles foram ensinados por seus mentores espirituais calvinistas que o arminianismo era meio caminho andado para a teologia liberal e concluíram: por que não saltar direto para a teologia liberal depois da metade do caminho do arminianismo?

A verdade é que, como demonstrei em Teologia Arminiana: Mitos e Realidades, o verdadeiro arminianismo histórico não é nem mesmo um meio-termo no caminho para a teologia liberal. Agora, demonstrei em Contra a Teologia Liberal que um verdadeiro arminiano clássico pode ser tão crítico da teologia liberal quanto qualquer calvinista. D. A. Carson — prestem atenção. John Piper (que certa vez me acusou abertamente de estar em uma “trajetória rumo à teologia liberal”) — anote. Bruce Ware (que certa vez me perguntou se eu tinha consciência de que meu arminianismo era humanista) — anote. Todos vocês, críticos calvinistas da teologia arminiana que a acusam falsamente de ser a raiz da teologia liberal, se não a própria teologia liberal oculta, anotem.

Fonte: https://www.patheos.com/blogs/rogereolson/2022/06/calvinism-the-root-of-liberal-theology/. Traduzido em português, por Ícaro Alencar de Oliveira. Rio Branco, Acre, 11 de maio de 2025.

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