Publicado em The Wartburg Watch, em 24 de junho de 2016.

“Se uma igreja quiser admitir um pastor calvinista, que Deus a abençoe. Infelizmente, muitos calvinistas candidatos ao pastorado, não revelam sua filiação calvinista durante o processo de busca por um pastor para garantir uma posição pastoral.”

Les Puryear

Você conhece o ditado que diz que existe engenheiro de obra pronta. Bem, há um número crescente de congregações Batistas Tradicionais do sul dos Estados Unidos que afirmaram essas palavras quando finalmente perceberam que seu pastor recém-admitido é reformado (calvinista). Como isso aconteceu? 

Há quase quatro anos, o Biblical Recorder – um jornal quinzenal publicado pela Convenção Batista do Estado da Carolina do Norte – publicou um artigo que ajuda a explicar como essa tendência está ocorrendo.  Les Puryear, pastor batista do sul que foi indicado para ser presidente da Convenção Batista do Sul em 2008, foi convidado a escrever um post publicado pelo Biblical Recorder. O título era: “Existe uma agenda Calvinista para reformar as Igrejas Batistas Tradicionais do Sul?” O artigo começa assim:

Recentemente, [conversei com] um comitê de procura de pastores acerca de uma busca de pastores que eles estavam conduzindo. Quando mencionei que os candidatos calvinistas podem não ser transparentes em relação às suas verdadeiras crenças, eles perguntaram: “O que é um calvinista?”.
 
Não fiquei surpreso que uma pequena igreja rural não tivesse conhecimento do plano calvinista de reforma das igrejas [da SBC – Convenção Batista do Sul].

Talvez seja uma surpresa para quem mora em grandes áreas metropolitanas, mas a grande maioria das igrejas Batistas do Sul são relativamente pequenas. Considere esta estatística publicada no ano passado no Baptist Press:

Aproximadamente 90% de todas as igrejas Batistas do Sul têm 250 pessoas ou menos presentes no culto dos domingos. Quase 70% de todas as nossas igrejas cooperadas têm 100 pessoas ou menos presentes a cada semana. Menos de 2% têm mais de 1.000 pessoas presentes no culto dominical. Claramente, a Convenção Batista do Sul é composta muito mais por igrejas menores do que por igrejas maiores.

São muitos os comitês de procura de pastores que, muito provavelmente, não têm ideia do que realmente está acontecendo quanto à tomada de poder pelos calvinistas na Convenção Batista do Sul. Até agora, Al Mohler, presidente da Convenção Batista do Sul [em 2016] e arquiteto da tomada de poder pelos neo-calvinistas, conseguiu nomear calvinistas para importantes cargos de liderança em toda a Convenção Batista do Sul. Um próximo passo importante é colocar o maior número possível de pastores reformados à frente das igrejas Batistas do Sul. Os seminários continuam formando graduados que são predominantemente “reformados” em sua soteriologia. É de se admirar que estejamos ouvindo falar de cada vez mais igrejas Tradicionais Batistas do Sul que, sem saber, estão admitindo pastores com uma visão teológica diferente, que é a calvinista?

A Primeira Igreja Batista em Rocky Mount é uma dessas igrejas onde isso aconteceu recentemente. É interessante notar que o artigo de Les Puryear foi publicado no Biblical Recorder em 30 de julho de 2012, e nove meses depois, a mesma publicação anunciou que Dennis Darville havia sido chamado para pastorear a PIB de Rocky Mount, onde atuava como pastor interino desde 1º de janeiro de 2012.

Antes de aceitar o cargo de pastor titular da PIBRM, Dennis Darville foi vice-presidente de Desenvolvimento Institucional do Seminário Teológico Batista do Sudeste (SEBTS). O artigo do Biblical Recorder , escrito por Puryear, incluía uma declaração do colega de Darville, Dr. Daniel Akin – presidente do SEBTS –, publicada originalmente no site Between the Times. Akin advertiu seus alunos com as seguintes palavras:

Aja com integridade pessoal em seu ministério quando se tratar desse assunto. Coloque suas cartas teológicas sobre a mesa, à vista de todos, e não entre em uma igreja sob o manto do engano ou da desonestidade. Se fizer isso, você provavelmente dividirá a igreja, ferirá o Corpo de Cristo, prejudicará o ministério que Deus lhe deu e deixará um sabor amargo na boca de todos. […]

Claramente, seu colega Dennis Darville não colocou suas “cartas teológicas sobre a mesa, à vista de todos”. Olhando para trás, Darville parece ter entrado na PIBRM sob um “manto de engano”. Os membros da PIBRM vieram ao nosso blog para confirmar que Darville não revelou seus planos de mudar a política da igreja ou sua inclinação teológica. Como resultado, ele fez exatamente aquilo contra o que Akin alertou… Ele dividiu a igreja, feriu o Corpo de Cristo, prejudicou o ministério que Deus lhe deu e deixou um gosto amargo na boca de todos, incluindo a comunidade TWW1.

Agora, em Rocky Mount, há duas congregações separadas, famílias divididas, amizades rompidas e total desarmonia. E tudo isso porque Darville tinha uma agenda que ele iria executar a qualquer custo. Não importando se a grande maioria tenha rejeitado seu plano de mudar a política da igreja de um governo congregacional para um governo por anciãos. Parece que Darville e seus colegas da PIBRM começaram a planejar secretamente um novo trabalho algum tempo depois da decepcionante votação. Sabemos que ele conseguiu acesso aos registros de doações da congregação, então sabia quem eram os grandes contribuintes. Lembra como o Manatha Campus Ministries [Ministério Universitário Maranatha] foi acusado de manter um controle rigoroso sobre o dízimo?

Alguma dessas coisas parece ser a vontade de Deus para a Sua igreja?  De jeito nenhum!

Voltando à premissa do post…  Existe uma agenda calvinista para reformar as igrejas Batistas do Sul Tradicionais? 

Já se passaram quatro anos desde que o artigo de Les Puryear foi publicado, e a história provou que de fato existe uma agenda calvinista

Cuidado. Sua Igreja pode estar em “reforma”.

O artigo do Biblical Recorder termina com estas palavras preocupantes:

Ernest Reisinger, o principal arquiteto do Founders, um ministério calvinista, descreve detalhadamente [em um artigo no site do Founders Ministries] como “reformar” uma igreja tradicional. Ele até dá um nome à agenda: “A Revolução Silenciosa”.2 Não se engane, há um esforço intencional para “reformar” as igrejas tradicionais da Convenção Batista do Sul (SBC) em igrejas “reformadas” (palavra-código para calvinistas).

Os líderes das igrejas Tradicionais da Convenção Batista do Sul e suas igrejas precisam ser informados sobre essa agenda calvinista. Eles precisam ser informados sobre como fazer as perguntas certas para determinar as verdadeiras posições teológicas de seus candidatos ao pastorado. Esse processo não apenas identificaria candidatos calvinistas, mas também outros candidatos que podem não ser adequados para sua igreja, como candidatos que falam em línguas, candidatos que creem que alguém pode perder a salvação ou candidatos que creem que os Dez Mandamentos não são mais válidos.

 Mas a principal diferença entre os calvinistas e outros candidatos batistas não tradicionais é que apenas os calvinistas estão ativamente tentando mudar as igrejas locais da Convenção Batista do Sul para suas crenças.

Em resposta aos esforços calvinistas para reformar igrejas não calvinistas, um grupo de líderes e acadêmicos Batistas do Sul Tradicionais escreveu “Uma Declaração do Entendimento Tradicional dos Batistas do Sul sobre do Plano da Salvação de Deus”.3 A lista de assinaturas inclui mais de 250 pastores (representando igrejas pequenas, médias e grandes em 29 estados), seis ex-presidentes da Convenção Batista do Sul, sete executivos de convenções batistas estaduais, quatro membros do comitê da Fé e Mensagem Batista 2000, mais de 20 diretores de missões associativas, cinco reitores de seminários e faculdades batistas e centenas de outros evangelistas, membros da equipe da igreja e ministros leigos. Após a divulgação desta declaração, muitos calvinistas disseram que queriam unidade em nossa convenção.

Os Batistas do Sul Tradicionais também desejam unidade, e acredito que a unidade é uma meta atingível, mas somente quando os calvinistas pararem de tentar reformar as igrejas tradicionais da Convenção Batista do Sul de acordo com suas visões.

Ken Keathley, vice-presidente sênior de administração acadêmica e reitor da faculdade do SEBTS (e também colega de Dennis Darville quando ele trabalhava no seminário), respondeu ao artigo de Les Puryear. Aqui está um trecho da resposta:

Les e eu discordamos veementemente em um ponto: ele insinua que o Seminário Teológico Batista do Sudeste (SEBTS) é cúmplice de uma tentativa calvinista de assumir o controle das igrejas da Convenção Batista do Sul (SBC). Absolutamente não. Talvez outros tenham um esquema semelhante; o SEBTS não.

Embora não o diga explicitamente, Les parece insinuar que o Sudeste é um ator importante em um golpe calvinista quando alerta que “a maioria desses pastores calvinistas batistas do sul são oriundos do Seminário Teológico Batista do Sul (Louisville, Kentucky) e do Seminário Teológico Batista do Sudeste (Wake Forest, Carolina do Norte)”. O Sudeste tem calvinistas em seu corpo docente? Sim, assim como todos os seis seminários da SBC. 

O calvinismo faz parte de nossa herança batista, então os calvinistas merecem um lugar à mesa da SBC. Mas a maioria do corpo docente do SEBTS não adere à TULIP. E não temos membros do corpo docente que evangelizem mais por João Calvino do que por Jesus Cristo. Puryear também parece presumir que a igreja rural típica da Carolina do Norte é uma igreja batista “tradicional” (“tradicional” como definido recentemente em uma declaração publicada por Eric Hankins). Talvez sim; talvez não. Durante os 10 anos em que vivi nas Carolinas, tive a oportunidade de pregar em muitas igrejas rurais. Em vez de encontrar muitas igrejas batistas “tradicionais”, para minha consternação, encontrei inúmeras igrejas praticamente sem qualquer fundamento teológico. Muitas igrejas históricas tiveram pastores que tinham uma visão inferior da autoridade bíblica, com poucos compromissos doutrinários, e os resultados foram muito prejudiciais. Sem me desculpar, afirmo que preferiria ver o pastorado dessas igrejas repleto de calvinistas com mentalidade missionária, do tipo Spurgeon, do que ver essas congregações permanecerem na obscuridade teológica em que muitos estão vagando. 

O Seminário do Sudeste tem uma agenda – a Grande Comissão…

Não tenho como enfatizar o suficiente que essa troca de farpas ocorreu há quase quatro anos . Acreditamos que a história provou que Les Puryear estava certo — houve um aumento nas escaladas calvinistas. Para ser franco, qualquer um que tente negar isso está iludido ou mentindo.4

 Basta ver o que aconteceu quando os Batistas do Sul se reuniram em St. Louis na semana passada para eleger um novo presidente. No segundo turno, os votos foram divididos 50/50 entre Steve Gaines (que é não calvinista) e J. D. Greear (que se autodenomina calvinista). Greear desistiu e Gaines tornou-se presidente da Convenção Batista do Sul. Caso você tenha perdido, cobrimos a história aqui. […]

Para igrejas como a Primeira Igreja Batista de Rocky Mount, que sem dúvida admitirão outro pastor em algum momento, temos algumas informações excelentes que devem ajudá-las a evitar o fiasco do qual ainda estão se recuperando.

Antes de chegarmos lá, permita-me desabafar mais uma vez… 

Você consegue imaginar o que se passava na cabeça dos membros da PIBRM fora da bolha calvinista quando TODOS os pastores (exceto um), bem como o secretário e um bom número de diáconos e professores da Escola Dominical, renunciaram imediatamente após o voto de confiança de 60/40 em 14 de fevereiro de 2016? Como diria Dee, isso foi DESPREZÍVEL!!!

Esta noite, me deparei com informações incrivelmente úteis que todos os comitês de busca de pastores deveriam usar ao entrevistar candidatos ao pastorado. Para aqueles que não entendem de Teologia Reformada (Calvinismo), essas informações serão de grande ajuda!  

Mal podemos esperar para compartilhar isso com vocês em nossa próxima postagem! 


Fonte: https://thewartburgwatch.com/2016/06/24/is-there-a-calvinist-agenda-to-reform-traditional-southern-baptist-churches/comment-page-1/. Traduzido em Português por Ícaro Alencar de Oliveira, em 10 de maio de 2025.


  1. Nota do Tradutor: Aqui, o autor faz menção à comunidade do próprio blog The Wartburg Watch (TWW). ↩︎
  2. Nota do Tradutor: O movimento calvinista ativista, Founders, nasceu nas décadas de 1970 e 1980 com o suposto propósito de trazer a Convenção Batista do Sul de volta à suas origens calvinistas, que supostamente seriam a única maneira de se combater efetivamente o “liberalismo teológico” e supostamente salvaguardar a ortodoxia da maior denominação Batista do mundo.

    O aspecto sectário do grupo reformado é manifestado no principal folhetim escrito por Ernest C. Reisinger e D. Matthew Allen, publicado pelo Founders Ministries, sob título: A Quiet Revolution: A Chronicle of Beginnings of Reformation in the Southern Baptist Convention [Uma Revolução Silenciosa: uma crônica dos começos da reforma na Convenção Batista do Sul].

    Chama a atenção a visão messiânica com que o movimento enxerga o calvinismo, como tábua da salvação da ortodoxia evangélica. Abaixo selecionei algumas dessas declarações temerárias que demonstram inclusive que o sistema calvinista seria supostamente “o cristianismo bíblico”, reduzindo os demais sistemas ao quê? À heresia! Vejamos algumas as afirmações norteadoras desse movimento neo-reformado dentro da denominação Batista:

    “Não se enganem. Os batistas do sul estão em uma encruzilhada. Temos uma escolha a fazer. A escolha é entre a teologia profundamente enraizada e teocêntrica do calvinismo evangélico e a teologia instável e antropocêntrica das outras perspectivas presentes na convenção.” (Leia todo o Cap. 1 aqui)

    “O cerne da questão é que os evangélicos se perderam quando abandonaram o fundamento doutrinário teocêntrico da teologia calvinista e o substituíram por uma mistura teológica de sistemas de crenças centrados no homem. Em outras palavras, a igreja evangélica perdeu sua estabilidade quando abandonou suas raízes teológicas nas doutrinas da graça. Como Charles Spurgeon observou durante a Controvérsia do Rebaixamento dos Batistas Ingleses no final do século XIX, o calvinismo é uma força inerentemente estabilizadora no cristianismo ortodoxo.”

    “Como discutido anteriormente, o Calvinismo evangélico é o cristianismo bíblico.”

    Quando ocorreu a grande mudança em nossa base doutrinária? Na vida batista inglesa, tem-se argumentado persuasivamente que o “rebaixamento” (como Charles Spurgeon o chamou) começou no início do século XIX, quando a União Batista se livrou de sua declaração de fé calvinista em favor de uma confissão diluída e amplamente evangelística, à qual os batistas arminianos podiam aderir com prazer. No evangelicalismo americano em geral, o rebaixamento provavelmente ocorreu em meados do século XIX.”

    “Felizmente (e providencialmente), os batistas do sul foram em grande parte imunes às invasões do liberalismo teológico. Isso se deveu a vários motivos. […] Terceiro, os batistas do sul, em geral, não haviam diluído seu calvinismo doutrinário. Eles ainda seguiam os antigos caminhos que atuavam como um freio inerente aos meandros teológicos. […]”

    “O interessante é que tanto os batistas liberais/moderados quanto (na falta de uma expressão melhor) os batistas conservadores e não calvinistas refletem essa confusão teológica. Apesar de todas as suas diferenças (que não minimizamos), as duas perspectivas são semelhantes no sentido de que suas teologias são inerentemente instáveis. O liberalismo tende, por natureza, a um abandono intelectual do conteúdo doutrinário da fé. Um sistema conservador e não calvinista tende, por natureza, a uma ignorância prática do conteúdo doutrinário da fé. No final, não há diferença. Talvez veremos que, daqui a uma ou duas gerações, a teologia batista conservadora e não calvinista acabará sendo virtualmente indistinguível da teologia liberal. Como Charles H. Spurgeon reconheceu em sua época, o rebaixamento sempre termina no mesmo lugar.” (Leia todo o capítulo 2 aqui)

    Resta-nos saber se essa revolução silenciosa está em plena operação entre os Batistas Brasileiros, o que certamente será prejudicial nos anos porvir. ↩︎
  3. Nota do Tradutor: Para uma robusta discussão acerca dessa declaração elaborada por Batistas do Sul Tradicionais, pode ser encontrada na seguinte obra: ALLEN, David L.; HANKINS, Eric; HARWOOD, Adam. Todos Podem Ser Salvos: uma defesa da soteriologia batista tradicional. Rio de Janeiro, RJ: Verbum Publicações, 2020. ↩︎
  4. Nota do Tradutor: Após seis anos da escrita deste artigo, em julho de 2022, o dr. David L. Allen, um Batista Tradicional e autor da pesquisa mais extensa sobre a expiação, publicada no Brasil sob o título Por quem Cristo morreu? Uma análise crítica sobre a extensão da expiação (Natal, RN: Editora Carisma, 2019, um robusto monumento Batista Tradicional de 960 páginas!), tornou-se o 39º membro não-calvinista do Southwestern Baptist Theological Seminary a ser abruptamente demitido da instituição, durante a presidência do calvinista Paige Patterson. “Coincidentemente” (com o máximo de aspas possível) isso ocorreu faltando apenas duas semanas para uma obra crítica ao calvinismo ser publicada, o que ocorreu no dia 1º de agosto de 2022; nesta data foi lançada a obra fenômenal: Calvinism: a biblical and theological critique [Calvinismo: uma crítica bíblica e teológica], que em breve será publicada no Brasil pela editora Verbum Publicações. ↩︎

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